Cidades europeias devem aliar-se no combate ao extremismo - TVI

Cidades europeias devem aliar-se no combate ao extremismo

Estado Islâmico [Foto: Reuters]

Fenómeno da radicalização "tem coisas bastante novas e é preciso aprender em conjunto a melhor forma de o combater e prevenir", diz o presidente do Fórum Europeu para a Segurança Urbana

O presidente do Fórum Europeu para a Segurança Urbana, Guilherme Pinto, propôs, nesta sexta-feira, uma aliança entre cidades europeias para partilhar boas experiências no combate ao extremismo, considerando que a prevenção deste fenómeno é mais eficaz ao nível local.

O fenómeno da radicalização e do extremismo "tem coisas bastante novas, tem abordagens diferentes e é preciso aprender em conjunto a melhor forma de o combater e prevenir", disse à Lusa o também presidente da Câmara de Matosinhos e líder do Fórum Europeu para a Segurança Urbana, que reúne 250 cidades.

O autarca, que falava à margem do Fórum Lisboa 2015, um encontro internacional organizado pelo Centro Norte-Sul do Conselho da Europa, este ano dedicado à radicalização e ao terrorismo, defendeu que "boa parte destes jovens [que se radicalizam] sentem-se desenraizados, vivem numa sociedade de deceção, cheia de dificuldades, e alguns tentam expressar o seu eu através destes fenómenos da radicalização".

O autarca estabeleceu um paralelo entre esta realidade e a marginalidade e acredita que a prevenção é muito mais eficaz a nível local do que nacional.

"Há alguma similitude entre a delinquência normal e este tipo de fenómenos. Queremos transpor para a prevenção da radicalização aquilo que aprendemos com a prevenção da delinquência", explicou.

Para Guilherme Pinto, a prevenção passa por "criar condições para que nas comunidades locais, nas cidades, se possam integrar estes indivíduos numa vida social e comunitária mais interessante".

O responsável entende que são necessários dois níveis de intervenção: por um lado, "uma repressão que previna, neste momento, novos ataques" e, para tal, é necessário que a União Europeia aprofunde a sua atuação policial, as leis e a política externa, defendeu.

Por outro lado, trabalhar em "políticas de integração das comunidades-alvo destes apelos ‘jihadistas' para integrarem grupos terroristas".

"A cidade é uma escala boa para intervir. O Estado tem de intervir a nível global, enquanto as cidades têm uma proximidade relativamente aos cidadãos que é muito maior e portanto muito mais eficaz", sustentou.

Na conferência, Guilherme Pinto participou num debate sobre as "contra-narrativas e as abordagens baseadas nas comunidades para prevenir e combater a radicalização", com vários oradores a concordar na necessidade de atuar ao nível da prevenção e com as comunidades e as organizações não-governamentais, envolvendo os jovens em particular.

O sueco Robert Örell, que trabalha numa organização que apoia pessoas que pretendem a abandonar movimentos neonazis, apontou a importância de "realmente ouvir" os jovens que estão envolvidos em movimentos radicais, "que situação descrevem e quais são as queixas", até porque "não há uma solução única que se adapte a todos".

"Eles odeiam a sociedade, por isso é importante construir pontes e conquistar a sua confiança", descreveu. Este ativista defende que conta o que grupos radicais como o Estado Islâmico oferecem a estes jovens, "como a sensação de criar algo muito importante".

"Esse sentimento não pode ser negligenciado", avisou, em declarações à Lusa.

O jordano Atef Rawahneh, presidente do Centro para os Estudos de Desenvolvimento Local, apontou o "papel fundamental" das famílias, mesquitas, escolas, instituições da sociedade civil, media e desportos na prevenção deste fenómeno.

"Temos de educar os nossos jovens nos valores saudáveis do Islão e avisá-los quanto aos perigos do terrorismo e os seus impactos negativos", defendeu.

Um grupo de oficiais de vários comandos da PSP esteve presente na audiência durante os dois dias do encontro internacional, que termina hoje.

O subintendente Rui Mendes explicou que o policiamento de proximidade tem "uma nova forma de encarar a comunidade".

"É fundamental estarmos em contacto com a comunidade e sentir os seus problemas, somos também parte da comunidade. Temos de aprender uns com os outros e ser tolerantes e compreender-nos uns aos outros", disse.
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