World Press Photo: foto do ano é de John Moore, mas há um português nos premiados - TVI

World Press Photo: foto do ano é de John Moore, mas há um português nos premiados

  • JFP
  • 11 abr 2019, 22:47

Mário Cruz ficou em terceiro lugar na categoria Ambiente do World Press Photo. Ao World Press Photo 2019 concorreram 78.801 trabalhos de 4.738 fotógrafos.

A fotografia do ano do World Press Photo 2019 é da autoria do norte-americano John Moore, anunciou hoje a organização dos prémios em Amesterdão, na Holanda.

A foto, captada em 12 de junho de 2018, mostra uma menina hondurenha a chorar quando a mãe é revistada e detida próximo da fronteira dos Estados Unidos com o México, em McAllen, no Texas.

A imagem, que valeu ao fotógrafo norte-americano um prémio de 10 mil euros, foi capa da revista Time e gerou a contestação ao programa do Presidente norte-americano, Donald Trump, de separação das famílias de imigrantes.

Em declarações posteriores ao jornal britânico Daily Mail, o pai da menina disse que a filha não foi retirada à mãe e que ambas foram detidas juntas.

Para John Moore, a "imagem tocou os corações de muitas pessoas", como o seu, porque "humaniza uma história maior".

Segundo um dos membros do júri da competição, a fotojornalista brasileira Alice Martins, a fotografia de Moore mostra "uma violência diferente, que é psicológica".

Ao World Press Photo 2019 concorreram 78.801 trabalhos de 4.738 fotógrafos.

O fotojornalista português Mário Cruz, que trabalha na agência Lusa mas que concorreu com um trabalho independente, ficou em terceiro lugar na categoria Ambiente, em imagem 'single', com a fotografia de uma criança num colchão rodeado de lixo a flutuar num rio filipino.

Mário Cruz terceiro na categoria Ambiente

O fotojornalista português Mário Cruz ficou em terceiro lugar na categoria Ambiente, em imagem ‘single’, no World Press Photo 2019, com a fotografia de uma criança num colchão rodeado de lixo, a flutuar num rio filipino.

A imagem premiada de Mário Cruz mostra uma criança a recolher materiais recicláveis, para obter algum tipo de rendimento que lhe permita ajudar a família, deitada num colchão rodeado de lixo, que flutua no rio Pasig, que já foi declarado biologicamente morto na década de 1990.

Para o fotojornalista, esta imagem "é um apelo que merece reação rápida".

Nós vemos imagens de praias com lixo no areal e ficamos incomodados, mas estas pessoas em Manila [capital das Filipinas] estão rodeadas de lixo diariamente, já há muitos anos, e isto merece a nossa reação rápida", afirmou Mário Cruz em declarações à Lusa, aquando do anúncio da nomeação para o World Press Photo.

A fotografia vencedora foi captada nesse sentido: "No fundo é um apelo para que não se ignore o que não pode ser ignorado", disse.

Os habitantes daquelas comunidades tentaram, sem sucesso, ir viver para a capital das Filipinas e acabaram por criar construções ilegais junto ao rio, onde vivem, sem saneamento, e muitos deles da reciclagem do lixo que é atirado fora.

É um problema que se arrastou, e está a agravar-se tomando dimensões preocupantes", alertou o fotojornalista, acrescentando que viu estuários, criados para impedir as cheias, cheios de lixo.

Neste momento só se vê lixo. É dramático olhar para um canal de água e não ver a água, só plástico, e isso merece sem dúvida uma reação", reiterou Mário Cruz, que é fotojornalista da agência Lusa, mas desenvolveu este projeto a título pessoal.

Além de Mário Cruz, outros dois fotógrafos foram premiados na categoria Ambiente em imagem ‘single’: o sul africano Brent Stirton (que ficou em primeiro lugar) e o norte-americano Wally Skalij (em segundo).

A fotografia premiada faz parte de um trabalho que Mário Cruz desenvolveu nas Filipnas, batizado “Living Among What’s Left Behind” (“Vivendo entre o que é deixado para trás”, em português), que reúne imagens que o fotojornalista captou durante um mês nas Filipinas, onde visitou comunidades que vivem ao longo do rio Pasig, testemunhando uma situação extrema de poluição ambiental que os habitantes enfrentam há décadas.

Esse trabalho deu origem a uma exposição, patente até 26 de maio no Palácio Anjos em Algés, concelho de Oeiras, onde é possível ver-se 40 imagens, das milhares captadas pelo fotógrafo nas Filipinas.

No dia da inauguração da mostra, no passado sábado, foi apresentado um livro, editado pela Nomad e desenvolvido pelo Estúdio Degrau, com “70 fotografias, entre o preto e branco e as cores, que retratam, de forma crua, a realidade que Mário Cruz encontrou em Manila”, de acordo com a equipa editorial da Nomad.

A capa do livro foi produzida “através do processamento de 160 quilogramas de resíduos industriais e desperdícios de uso doméstico”, sendo cada uma “criada individualmente e à mão, resultando em exemplares com capas únicas, que simbolizam a abundância de lixo deixado para trás”.

Esta é a segunda vez que Mário Cruz, de 31 anos, é premiado no World Press Photo.

Em 2016, o fotojornalista português conquistou o primeiro lugar na categoria Temas Contemporâneos do World Press Photo, com um trabalho sobre a escravatura de crianças - dos meninos Talibés - no Senegal ("Talibés - Modern Days Slaves"), que deu origem a um livro, depois de publicado na Newsweek, e que constituiu um alerta global. No Senegal, foram distribuídos panfletos com fotografias feitas por si, tendo sido resgatadas centenas de crianças.

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