Otelo, o rosto que nunca deu a cara pelo movimento - TVI

Otelo, o rosto que nunca deu a cara pelo movimento

Otelo Saraiva de Carvalho

Otelo Saraiva de Carvalho nunca se assumiu como membro do grupo armado FP-25. Foi condenado e amnistiado

Foi o protagonista não assumido. Otelo Saraiva de Carvalho, o Otelo, coronel e actor ocasional, nome tantas vezes repetido pela comunicação social ao logo de anos e anos como o rosto das FP, nunca assumiu que esteve na criação das Forças Populares nem a militância no grupo armado.

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Otelo fazia parte da FUP e sempre defendeu que a criação das FP-25 foi «um choque e um prejuízo total», seriam «um obstáculo» a um consenso entre as diversas forças de esquerda. Em declarações à Lusa argumenta, em defesa, que na sequência da criação das FP «decidimos fazer um comunicado, demarcando-nos das acções das FP-25, que não tinham nada a ver com o nosso espírito de concorrer para um processo eleitoral».

Não entenderam assim as polícias que, juntas na Operação Orion, ditaram o princípio do fim das FP-25 com o desmantelamento da rede armada que começou com uma rusga à sede da FUP, em 19 de Junho de 1984. Otelo viria a ser preso um dia depois e condenado a 15 anos de prisão em 1987.

Martinho de Almeida Cruz foi o juiz e o carrasco dos operacionais das FP-25. Assinou quase todos os mandados de detenção. O de Otelo também. «Prender Otelo era a sensação de que se estava a prender um mito. Não era um homem, era um mito. É uma decisão que foi difícil de tomar, que tomei a sós, a partir da meia-noite do primeiro dia. Fiquei a sós comigo mesmo e decidi. A sensação foi a de estar a prender um pouco da história recente do país».

A história havia de dar outra volta e, em 1989, Otelo Saraiva de Carvalho é libertado. Sete anos depois, chega a amnistia para os presos das Forças Populares 25 de Abril, aprovada pela Assembleia da República e assinada pela mão de Mário Soares, então presidente da República.

Almeida Cruz não se conforma com a amnistia. «A amnistia tem como consequência o apagamento puro e simples dos crimes cometidos. Perdoar é uma coisa, esquecer é outra», diz à Lusa. «Tiramos lições de todos esses factos para construirmos uma sociedade melhor».
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