Dois canhões com 400 anos resgatados ao largo de Faro - TVI

Dois canhões com 400 anos resgatados ao largo de Faro

  • AR
  • 1 set 2017, 14:09
Polícia Marítima [Tiago Petinga/LUSA]

Resgate efetuado por equipa espanhola. Terceira campanha na fragata Mercedes, afundada há 200 anos por uma armada inglesa, foi "tecnicamente muito complexa", mas recompensadora

Dois canhões dos séculos XVI e XVII foram resgatados por uma equipa espanhola ao largo de Faro, pondo fim a uma campanha iniciada em 2015 na qual Espanha conseguiu impedir que uma empresa ficasse com o espólio.

A notícia foi avançada esta sexta-feira pelo jornal Público, recordando que a campanha levada a cabo por Espanha retirou com sucesso, em três etapas, várias peças da fragata "Mercedes", afundada em 1804 por uma armada inglesa ao largo de Faro.

Contactado pela agência Lusa, o arqueólogo Pedro Barros, da Direção-Geral do Património Cultural (DGPC), sublinhou a importância da recuperação das peças "para ajudar a compreender a vida a bordo naquela época, e as circunstâncias do afundamento da fragata".

Esta recuperação de património histórico não foi feita apenas ao mar, mas também a uma empresa privada, norte-americana, a Odyssey Marine Explorations, que se dedica a caçar tesouros, e que perdeu um processo longo nos tribunais, depois de Espanha ter reclamado o espólio da embarcação que levava a sua bandeira.

De acordo com Pedro Barros, nesta terceira, "e provavelmente última campanha", os arqueólogos espanhóis também foram acompanhados por uma equipa portuguesa, por a fragata ter afundado perto do Cabo de Santa Maria, no Algarve, na Zona Económica Exclusiva portuguesa.

A Nuestra Señora de Las Mercedes vinha de Montevideo, e estava bastante carregada de material, incluindo um inventário sistematizado do seu conteúdo", disse o arqueólogo à Lusa.

De acordo com o Público, foram encontrados dois canhões dos séculos XVI/XVII, pesando entre duas e três toneladas, uma prancha de cobre perfurada, uma torneira e três roldanas de bronze.

A embarcação fazia a rota entre as colónias espanholas na América, e acabou por ser intercetada e atacada por uma armada inglesa ao largo de Faro.

Questionado sobre o acompanhamento de Portugal neste resgate arqueológico, Pedro Barros disse que por a fragata estar em águas portuguesas era necessário o acompanhamento e fiscalização das autoridades nacionais.

Sobre a legítima propriedade do espólio recuperado, que os estados podem reivindicar quando se encontram nas suas águas, embora a fragata seja espanhola, o arqueólogo sublinhou que "o mais importante é que as peças tenham sido retiradas com meios e um plano científico e que sejam salvaguardadas como património público, em vez de ficarem nas mãos de uma empresa privada, com fins comerciais".

A operação foi "tecnicamente muito exigente", já que os arqueólogos tiveram que descer a mais de mil metros de profundidade com um ROV (Veículo Operado Remotamente, em português), cedido pelo Instituto Espanhol de Oceanografia.

De acordo com Pedro Barros, as peças vão agora ser estudadas e expostas dentro de dois anos em Espanha

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