Conselheira de Paris: sindicatos devem analisar abusos contra mulheres de limpeza portuguesas - TVI

Conselheira de Paris: sindicatos devem analisar abusos contra mulheres de limpeza portuguesas

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  • 5 set 2020, 09:51
Tarefas domésticas

Lusodescendente diz que muitos patrões não querem pagar as prestações sociais no momento da reforma

A conselheira municipal de Paris Bárbara Gomes defendeu que os abusos contra mulheres de limpeza de origem portuguesa na região Norte de França devem dar origem a uma "reação sindical forte" para sinalizar casos às autoridades.

Sei que já há mulheres que vão à CGT [central sindical] e a primeira reação vai ser sindical, já que há um aumento no número de casos, uma ação sindical forte porque são pessoas que trabalham sozinhas e estão isoladas. E há depois uma reação política e temos de pensar como vamos ajudar estas mulheres", afirmou Bárbara Gomes, conselheira municipal de Paris e professora convidada da Universidade Politécnica de Hauts-de-France, em declarações à agência Lusa.

Esta lusodescendente é especializada em Direito do Trabalho e assumiu recentemente o seu lugar no órgão máximo da Câmara de Paris, tendo sido eleita pelo 18.º bairro integrando a lista comunista. Antes disto, Bárbara Gomes fez parte das estruturas jovens da CGT, segunda maior central sindical de França.

Um artigo publicado no final de agosto no jornal online Mediapart tem suscitado reações nas redes sociais ao relatar a realidade de mulheres portuguesas que trabalharam vários anos para patrões abastados e que vêm muitas vezes os seus vários anos de trabalho acabarem com uma demissão forçada e ameaças.

Muitas destas mulheres estão a chegar à reforma e os patrões não querem pagar as prestações sociais no momento da reforma, que dependem do número de anos que têm de serviço, então fazem muita pressão para as pessoas se demitirem e elas têm o direito do lado delas, mas é difícil ter provas das horas feitas e fazem com que a situação delas seja complicada", indicou a conselheira municipal de Paris.

Mesmo com um contrato declarado, há situações muito diferentes. Entre mulheres que trabalham para vários patrões até casos em que apenas uma parte das suas horas é declaradas e outra parte é paga sem qualquer registo. No entanto, seja qual for a situação, há recursos.

Há sempre os sindicatos como recurso, mas também a inspeção do trabalho e, se a situação for mesmo complicada, deve chamar-se a polícia", indicou Bárbara Gomes.

Para esta lusodescendente "os portugueses em França sofrem de um racismo social importante" e ainda agora é difícil ser de origem portuguesa e destacar-se noutros campos.

Somos poucos a estar na política e a ter trabalhos que a sociedade valoriza. As pessoas gostam dos portugueses por serem muito trabalhadores e calados, mas quando alguém consegue alguma coisa mais, há sempre reações e as pessoas vão sempre lembrar-nos a que classe pertencemos", concluiu.

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