Árvore com 300 anos vai ser abatida na Figueira da Foz - TVI

Árvore com 300 anos vai ser abatida na Figueira da Foz

  • AG
  • 13 nov 2019, 10:29

Freixo está classificado como sendo de interesse público, mas representa perigo para a segurança, segundo o Instituto de Conservação da Natureza

O Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF) deu esta terça-feira luz verde à autarquia da Figueira da Foz para abater um freixo com cerca de 300 anos, classificado de interesse público, por este representar perigo para a segurança.

Em comunicado enviado à Lusa, a Câmara Municipal transcreve um ofício recebido do ICNF, onde aquele organismo assume "não haver alternativa" à remoção da árvore - afetada "severamente" pela tempestade Leslie de outubro de 2018, quando "ficou apenas com duas pernadas e em situação de elevada perigosidade" - numa altura em que já apresentava sinais de grande degradação e tinha sido intervencionado.

O texto, enviado à autarquia em nome da diretora regional da Conservação da Natureza e Florestas do Centro, esclarece que, após a tempestade de outubro de 2018, o ICNF "procedeu a uma vistoria técnica, tendo concluído que o freixo [localizado no popularmente chamado Páteo de Santo António] se encontrava em muito mau estado fitossanitário e sem possibilidade de recuperação, face à extensão e profundidade das podridões que apresentava".

Em duas ocasiões posteriores à tempestade, em 22 de maio e 05 de junho, a empresa Árvores e Pessoas, contratada pelo município da Figueira da Foz para avaliar o freixo, propôs o abate daquele exemplar, adianta a nota do município.

Acrescenta que esta empresa tinha já anteriormente sido responsável, em junho de 2016, por uma avaliação da árvore, classificada sete anos antes, que resultou, em abril do ano seguinte, numa "poda de redução e aplicação de sistema de ancoragem de pernadas", na tentativa de estabilizar o freixo.

Apesar do parecer daquela empresa, a autarquia da Figueira da Foz solicitou uma nova avaliação a uma equipa coordenada por Luís Martins, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (que o próprio ICNF define como "um dos maiores especialistas" portugueses nesta área), a qual, "permitiu confirmar o mau estado fitossanitário do freixo e a elevada condição de risco e irreversibilidade dos sintomas observados", lê-se no ofício do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas.

Perante essa constatação, depois de ponderada a hipótese de desenvolver um projeto de sustentação das duas pernadas, mas afastada face ao respetivo estado de degradação e grande peso, foi concluído que os dados de natureza biológica e o risco severo de fratura das pernadas, recomendavam o abate do freixo", enfatiza o ICNF.

 

Embora uma decisão desta natureza não seja fácil, dada a perda de um valor importante na memória coletiva e no património local e nacional, afigura-se não haver alternativa à sua remoção", acrescenta aquela entidade, que frisa que a árvore poderá ser desclassificada depois de abatida.

O relatório do pedido de avaliação ao especialista da UTAD foi divulgado na segunda-feira na reunião da Câmara da Figueira da Foz e concluiu pelo abate do freixo por "risco severo de fratura".

No ofício hoje divulgado, o ICNF argumenta que, "não obstante os esforços desenvolvidos pela Câmara Municipal da Figueira da Foz no sentido de recuperar o freixo em apreço, essa possibilidade não se mostrou viável" e equaciona a substituição da árvore "por um seu clone, como forma de o eternizar e perpetuar os valores que lhe estão associados".

A exemplo, aliás, do defendido pela equipa de Luís Martins, que defendeu a plantação de um novo freixo.

Assim, perante a inevitabilidade de manter sem risco sério para a segurança de pessoas e bens o freixo classificado de interesse público, julgamos que deverá ser esse o esforço a desenvolver", assinala o ICNF, que agradece ao presidente da Câmara Municipal "a preocupação pela conservação do arvoredo, em particular do arvoredo classificado de interesse público".

O freixo, localizado junto à igreja do antigo convento de Santo António, é uma das duas únicas árvores classificadas como de Interesse Público do município da Figueira da Foz (a outra é um plátano com 250 anos, situado na Quinta de Foja, no nordeste do concelho).

Datado do início do século XVIII, o freixo é anterior à elevação da Figueira da Foz a cidade (1882) e mesmo a vila (1771).

Ocuparam árvore na Figueira da Foz mas abandonaram protesto dez horas depois

Os três manifestantes que se sentaram esta quarta-feira num freixo com cerca de 300 anos, na Figueira da Foz, abandonaram a árvore ao início da noite, dez horas após o início do protesto contra o abate daquele exemplar arbóreo.

Os manifestantes - Otília Santos, Ana Madureira e Pedro Carvalho - subiram à árvore pouco depois das 08:00 de hoje mas saíram por sua própria vontade, cerca das 18:00, uma hora após a PSP ter reforçado a segurança no local, proibindo o acesso à zona em redor da árvore, o que não aconteceu ao longo do dia.

Os trabalhos de remoção do freixo estavam agendados para hoje, os meios da autarquia estiveram no local mas acabaram por desmobilizar ao final da tarde, sem que o abate se tivesse iniciado, devendo começar na manhã de quinta-feira.

Ganhámos este dia, a árvore ganhou este dia", disse aos jornalistas Otília Santos, pedindo "ao país e ao Presidente da República" que deixem o freixo "viver".

Recusando estar cansada, garantiu que "estaria [sentada no freixo] a noite toda" e argumentou que o protesto terminou face à falta de resposta do presidente da autarquia, que os contestatários exigiam que se deslocasse ao local, pretensão que não foi atendida.

Não veio aqui ninguém, eu tinha vergonha de presidir fosse ao que fosse (…) e que eu desse ordem de abater um ser vivo que tem vida, senão não tinha ramos", alegou Otília Santos.

A manifestante revelou ainda que os ocupantes do freixo decidiram abandonar o protesto, depois de a PSP, ao final da tarde, alegadamente lhes ter comunicado que, se não saíssem, seriam "retirados à força" ao início da manhã de quinta-feira.

E nós não estamos aqui para forçar ninguém, nada", observou Otília Santos.

Já Luís Pena, porta-voz do Movimento Parque Verde (MPV), entidade que esteve na génese do protesto, deixou "uma palavra de regozijo" pela iniciativa dos três cidadãos "que de forma heroica" estiveram no local "ao frio, ao vento e também ao sol, felizmente, e resistiram em cima desta árvore".

Luís Pena lembrou que o MPV propôs, na noite de terça-feira, um "solução de compromisso, equitativa", que passava por "acautelar a segurança de pessoas e bens", que disse ser "fundamental", com o corte do tronco do lado direito do freixo, que ameaça cair sobre um muro adjacente e daí para uma rua localizada vários metros abaixo, deixando, no entanto, o tronco do lado esquerdo "vivo".

Não venham cá com falácias de segurança. No dia de Santo António, que foi em Junho, estiveram aqui centenas de pessoas, nessa altura não se colocou a segurança, só agora é que se fala de segurança", criticou.

A solução do movimento de cidadãos foi avançada já depois de a autarquia ter anunciado, na segunda-feira, o abate do freixo classificado - decisão sustentada em pareceres e avaliações técnicas, a última das quais recomendava o abate por "risco severo de fratura"- que mereceu a concordância do Instituto de Conservação da Natureza e Florestas (ICNF).

Não nos rendemos, estamos cá disponíveis para conversar, o apelo que fizemos ontem [terça-feira] à noite repetimo-lo hoje e estamos disponíveis para o diálogo", argumentou Luís Pena.

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