Há várias justificações para o vício do tabaco. Há quem fale das propriedades calmantes, quem justifique por ser um acto social ou quem assuma que é mesmo um vício. Agora uma investigação norte-americana avança outra explicação para a dependência da nicotina: a tendência para fumar pode ser hereditária.
De acordo com a descoberta de cientistas do Instituto de Pesquisa Scripps, na Flórida, nos Estados Unidos, mais de 60 por cento do risco de se tornar dependente do tabaco pode ser atribuído a factores genéticos.
Os investigadores identificaram uma via cerebral que regula a vulnerabilidade dos indivíduos às propriedades da nicotina que causam dependência. Uma descoberta que aponta um novo alvo para terapias contra o tabagismo.
Os resultados da pesquisa foram publicados na edição online da revista «Nature» este domingo.
Cientistas esperam que descoberta abra caminho para novas terapias contra o tabagismo
Os cientistas examinaram os efeitos de parte de um receptor, uma proteína àquela em que se ligam determinadas moléculas sinalizadoras, que responde à nicotina no cérebro. E descobriram que os modelos animais com uma mutação genética que inibe essa subunidade do receptor consumiram muito mais nicotina do que o normal. Um efeito que pode ser revertido com o aumento da expressão da mesma subunidade.
«Acreditamos que esses novos dados estabelecem um novo cenário para a compreensão das variáveis que motivam o consumo de nicotina e também das vias cerebrais que regulam a vulnerabilidade à dependência do tabaco», afirmou o coordenador do estudo, Paul Kenny.
«Essa descoberta também abre caminho a alvos promissores para o desenvolvimentos de potenciais terapias contra o tabagismo», acrescenta.
O estudo focou-se, especificamente, na subunidade α5 do receptor de nicotina, numa via discreta do cérebro conhecida como trato habenulo-interpeduncular. A descoberta sugere que a nicotina activa os receptores nicotínicos que contêm essa subunidade na habênula, desencadeando uma resposta que actua para diminuir o desejo de consumir mais a droga, explica o jornal «O Estado de São Paulo».
Os resultados podem explicar dados recentes que mostram como indivíduos com variação genética na subunidade α5 do receptor nicotínico são muito mais vulneráveis à nicotina e, também, muito mais propensos a desenvolver doenças associadas ao fumo, como cancro de pulmão e doença pulmonar obstrutiva crónica.
Fumar tabaco é uma das principais causas de morte em todo o mundo. Mata mais de 5 milhões de pessoas anualmente, de acordo com estatísticas citadas no estudo.
Os investigadores esperam que a descoberta possa, um dia, vir a ajudar os fumadores que querem abandonar o hábito.
Tabaco: dependência pode ser hereditária em 60% dos casos
- Redação
- PB
- 31 jan 2011, 16:11
Cientistas norte-americanos identificam mecanismo que regula dependência do cigarro
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