Greve da Função Pública fecha escolas e deixa hospitais a meio gás - TVI

Greve da Função Pública fecha escolas e deixa hospitais a meio gás

  • AM - notícia atualizada às 13:30
  • 26 out 2018, 07:18

Trabalhadores da administração pública estão hoje em greve por aumentos salariais

Os trabalhadores da administração pública estão esta sexta-feira em greve por aumentos salariais, o que já levou ao encerramento de várias escolas e serviços municipais, ao cancelamento de atos médicos e comprometer o funcionamento de tribunais e finanças.

De acordo com a sindicalista da UGT Lucinda Dâmaso, várias escolas de todo o país estão já de portas fechadas, deixando os alunos sem aulas.

Em declarações à Lusa junto ao liceu Passos Manuel, cujos portões estão fechados, a sindicalista disse, cerca das 08:30, que a elevada adesão à greve mostra bem o descontentamento dos trabalhadores com o Governo, salientando que não vão baixar os braços.

Também em declarações à Lusa e no mesmo local, o secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores da Administração Pública (SINTAP), José Abraão, disse que a greve da função pública estava cerca das 08:30 com “importantes números de adesão, o que demonstra que os trabalhadores estão cansados”.

“Os trabalhadores estão cansados. Estão a ser repostos direitos, mas os trabalhadores não o sentem. Os serviços estão degradados, cresce a precariedade. Os trabalhadores precisam de um sinal de que é possível aumentar os salários e ter um futuro melhor”, frisou o responsável.

Junto aos portões do liceu alguns sindicalistas empunham cartazes a dizer "educação de saco cheio" e "precariedade, carreiras e progressões, aumento salarial, trabalho digo, dignidade funcional".

A Torre de Belém, o Mosteiro dos Jerónimos, e os museus nacionais dos Coches e Arqueologia, em Lisboa, estão encerrados devido à greve na Função Pública, disse à agência Lusa fonte sindical.

Adesão à greve entre 60 e 100% nos hospitais

Mais de duas dezenas de hospitais de várias zonas do país estavam com uma adesão entre os 60% e os 100% no turno da noite devido à greve de hoje da função pública, segundo alguns dados da Frente Comum.

De acordo com os dados disponibilizados hoje de madrugada pela Frente Comum relativos ao turno da noite, no Regimento de Sapadores de Bombeiros de Lisboa a adesão à greve situou-se nos 90%, estando assegurados apenas os serviços mínimos.

Quanto à recolha noturna de resíduos, a Frente Comum adiantou que Évora, Seixal, Almada, Palmela, Loures e Moita estão com uma adesão de 100%.

Na Câmara Municipal de Lisboa, nos 120 circuitos de recolha de lixo normalmente efetuados, só foram realizados 21.

No que diz respeito às unidades hospitalares, a Frente Comum adianta que em Lisboa, o Hospital de São Francisco Xavier a adesão no turno da noite foi de 95%, na Maternidade Alfredo da Costa 60%, Hospital de S. José (urgência, medicina e bloco operatório) 100%, Hospital D. Estefânia (98%) e no IPO 80%.

No Hospital de Santa Maria a adesão na urgência central foi de 60%, na urgência pediátrica (80%), na urgência, na ginecologia e obstetrícia 70%, no bloco da urgência 100% e nos internamentos 60%.

O Hospital de Beja teve uma adesão de 100%, o Amadora/Sintra 95%, Vila Nova de Gaia, Penafiel e Braga com 90%.

Nos hospitais de Évora, Beja, Portalegre e Litoral Alentejano, a média de adesão à greve por parte dos enfermeiros cifra-se nos “60%”, disse à Lusa Celso Silva, do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), frisando que “os blocos operatórios estão a ‘meio gás’ e muitas cirurgias programadas tiveram de ser adiadas”.

No distrito de Évora, com uma adesão global ao protesto na ordem dos "80%", a paralisação afetou, sobretudo, os setores da saúde e da educação, com "muitas escolas fechadas", indicou João Fernandes, do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e Regiões Autónomas.

O Centro Hospitalar de Leiria, do Tâmega (Viseu), do Baixo Vouga (Aveiro), Centro Hospitalar da Feira, a Unidade Local da Guarda, o Hospital da Figueira da Foz, o Centro Hospitalar Universidade de Coimbra e o IPO de Coimbra estão apenas com os serviços mínimos garantidos.

Os primeiros efeitos do protesto começaram a sentir-se nos hospitais com a mudança de turno das 23:00, e nos serviços de saneamento das autarquias, onde a recolha de lixo começou às 22:30 de quinta-feira.

Segundo dados avançados à Lusa pelas 23:00 pelo presidente do Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local, José Correia, os serviços de recolha noturna de lixo em Évora, Seixal, Setúbal, Moita e Palmela estavam todos encerrados.

Já a coordenadora da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública, Ana Avoila, referiu que, de acordo com os dados que disponha naquele momento, a adesão nos hospitais do Norte variava entre os 75% no São João, os 85% no Santo António e os 90% nos hospitais de Gaia, de Chaves e de Penafiel.

O Hospital de Faro está sem consultas externas, além de vários outros serviços afetados, e muitas escolas no Algarve estão encerradas.

No Algarve, os setores da Educação e da Saúde estão a ser os mais atingidos pela greve, cuja adesão, no geral, está a ser "muito elevada", indicou Rosa Franco, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais do Sul e das Regiões Autónomas.

As consultas externas no Hospital de Faro estão paradas e os blocos operatórios em Faro e Portimão estão só a funcionar para as urgências, nos serviços mínimos", referiu a sindicalista, sublinhando que no hospital de Faro a adesão à greve ronda os 90% e no de Portimão os 88%.

Fenprof não tem números mas acredita que hoje é dia sem aulas

O secretário-geral da Federação Nacional de Professores (Fenprof) afirmou que não há aulas em todo o país porque as escolas encerraram, apesar de não poder ainda avançar com números de adesão à greve geral da Função Pública.

Em declarações aos jornalistas, à porta da Escola Básica Marquesa de Alorna, em Lisboa, Mário Nogueira, afirmou que, “tal como se esperava, hoje não há aulas no país inteiro”.

Eu diria que hoje é um dia sem aulas, não porque tenha havido qualquer tipo de problema nas escolas, mas porque há uma greve que está a juntar docentes e não docentes e o resultado disso é o encerramento das escolas”, apontou.

Para o dirigente da Fenprof, “é perfeitamente natural” que a adesão à greve “acontecesse com esta dimensão”.

Inicialmente a greve foi convocada pela Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública (ligada à CGTP) para pressionar o Governo a incluir no Orçamento do Estado para 2019 (OE2019) a verba necessária para aumentar os trabalhadores da função pública, cujos salários estão congelados desde 2009.

Contudo, após a última ronda negocial no Ministério das Finanças, em meados de outubro, a Federação de Sindicatos da Administração Pública e o Sindicato dos Quadros Técnicos do Estado, ambos filiados na UGT, anunciaram que também iriam emitir pré-avisos de greve para o mesmo dia, tendo em conta a falta de propostas do Governo, liderado pelo socialista António Costa.

Governo deve reabrir negociações

O secretário geral da CGTP, Arménio Carlos, afirmou que a greve da Função Pública a decorrer sinaliza que os trabalhadores não abdicam de continuar a lutar pela defesa da sua dignidade, exigindo a reabertura das negociações.

A melhor forma de o fazer é ter em conta as reivindicações da Frente Comum e, simultaneamente, reabrir um espaço de discussão. Não de uma discussão simulada, mas de uma discussão efetiva para responder aos problemas”, disse o líder da CGTP, que falava em frente da Escola Marquesa de Alorna que hoje está encerrada.

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