O adeus a Manoel de Oliveira - TVI

O adeus a Manoel de Oliveira

Várias personalidades despedem-se do cineasta no Porto

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Anónimos, familiares, amigos, membros da sociedade política, cultural e civil juntaram-se esta sexta-feira no Porto para a última homenagem e ovação a Manoel de Oliveira, cineasta que morreu quinta-feira aos 106 anos e deixou mais de meia centena de filmes.

O realizador - que acreditava que a longevidade era «um capricho e o cinema uma paixão» - trabalhou até ao fim da sua vida e hoje a cidade do Porto uniu-se para um último adeus, tendo-o aplaudido em diversos momentos.

A urna do realizador português foi depositada no jazigo de família, no cemitério de Agramonte, no Porto, cerca das 16:20.

Durante a cerimónia foram ouvidos aplausos e depositadas rosas brancas junto da urna de madeira castanha do cineasta

Veja também: portuenses não querem Manoel de Oliveira no Panteão


O Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, chegou pelas 14:45 à igreja do Cristo Rei, no Porto, onde decorreram as cerimónias fúnebres. O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, chegou depois, acompanhado do secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier.

Aos jornalistas o primeiro-ministro disse que os «portugueses sentem um aperto muito grande» com a partida do cineasta, que teve, «felizmente, uma vida longa, cheia e muito tempo com a sua família para nos legar uma obra extraordinária».

«Tenho a certeza que todos os portugueses sentem hoje um aperto muito grande por saber que ele partiu. Era praticamente alguém da nossa família e que fazia parte da nossa cultura mas sentem também um orgulho muito grande por ter tido entre os seus maiores uma personalidade com as suas características que foi apreciada em todo o mundo em vida e tenho a certeza que continuará a ser depois deste dia», disse.


O ator norte-americano John Malkovich foi outra das personalidades que se deslocaram ao Porto para as cerimónias fúnebres de Manoel Oliveira, presididas pelo bispo do Porto, António Francisco dos Santos.

John Malkovich disse que «o cinema não morreu com Manoel de Oliveira», que considerou, no entanto, um realizador único.

«O cinema não morreu com Manoel de Oliveira, mas Manoel de Oliveira era único e o cinema não será o mesmo sem ele», afirmou John Malkovitch no final do funeral do cineasta.

O bispo Carlos Azevedo, delegado do Conselho Pontifício da Cultura, no Vaticano, assistiu igualmente à cerimónia na igreja do Cristo Rei, bem como o presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, e o subdiretor do Museu Reina Sofia, em Madrid, e ex-diretor do Museu de Serralves, no Porto, João Fernandes.

Aos jornalistas, o ator Luís Miguel Cintra, que participou em vários filmes de Manoel de Oliveira, lembrou que a primeira coisa que o realizador fazia quando iniciava a rodagem de um filme era «criar uma família».
 

«Nunca teve grandes conversas muito elaboradas, nem intelectuais sobre nada do que estava a fazer, isso faz parte do segredo do que se estava a fazer em comum. Esperava que houvesse uma corrente subterrânea de entendimento entre as pessoas, que se estabelecia através de coisas muito simples, como comer à mesma mesa, falar da saúde das pessoas, perguntar como estava o pai, como estava a mãe, (…), com todos os membros da equipa».


Conversas «não eram apenas com os atores, com as primeiras figuras ou com as segundas, era com o eletricista ou fosse com quem fosse. Isto criava uma espécie de família, sobretudo, pela presença da mulher de Manoel de Oliveira que o acompanhou sempre em todas as filmagens, da maneira mais comovente possível, interferindo e ele deixando que ela interferisse, numa atmosfera fora de todas as regras, porque ele vivia assim», contou ainda Luís Miguel Cintra.

«Era simples e, sobretudo, muito direto. Nem tudo são rosas, não é?», questionou o ator, recordando uma ocasião em que Manoel de Oliveira lhe chamou a atenção por não ter dado o seu melhor no filme que tinham acabado de rodar.

Já o realizador de cinema João Botelho disse que aprendeu com Manoel de Oliveira que «o cinema é muito mais importante do que os filmes».
 

«Ensinou-me que o cinema é um ponto de vista, é um modo de filmar, não é o que se passa, nem quando se passa, não é a história».


O cineasta lembrou «uma frase lapidar» de Manoel de Oliveira que disse ter-lhe servido para a vida: «Não há dinheiro para a carruagem, filma a roda, mas filma bem a roda».
 

«Prostitui-te para arranjar dinheiro para o filme, prostitui-te quando ficar pronto para o mostrar, nunca quando filmas».


João Botelho considerou, ainda, que Manoel de Oliveira «levou o cinema com ele para o céu, porque hoje os filmes estão todos no inferno dos centros comerciais».

Sobre a personalidade de Manoel de Oliveira, Botelho disse que era «uma pessoa maravilhosa e extremamente didática, que via as primeiras obras de toda a gente».
 

«Estava sempre interessado no cinema. Nunca me falou de filmes, falou sempre de cinema».


Também o constitucionalista e ex-governador civil de Braga, Pedro Bacelar Vasconcelos, passou esta manhã pela igreja do Cristo Rei, no Porto, tendo transmitido aos jornalistas estar ali «em nome pessoal» e a «a pedido» de António Costa para transmitir uma mensagem à família de Manoel de Oliveira.
 

«Vim transmitir uma mensagem de profunda consternação pessoal que António Costa me solicitou que transmitisse à família e a consciência da perda física deste vulto que vai com certeza continuar a acompanhar-nos».


 
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