Rajada de 176 km/h na Figueira da Foz foi a maior registada em Portugal - TVI

Rajada de 176 km/h na Figueira da Foz foi a maior registada em Portugal

  • 14 out 2018, 16:17

IPMA diz tratar-se do valor “mais elevado registado em estações da rede meteorológica nacional”. Furacão Leslie destruiu restaurantes, casas, apoios de praia e Polícia Marítima na Praia da Vieira

Uma rajada de vento atingiu os cerca de 176 quilómetros por hora no sábado à noite na Figueira da Foz, valor mais elevado registado em Portugal, indicou hoje o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA).

Numa nota publicada no ‘site’, o IPMA adianta que a estação de Figueira da Foz/Vila Verde registou às 22:40 de sábado uma rajada de cerca de 176 quilómetros por hora, valor atribuído a um fenómeno designado por ‘sting jet’.

O IPMA frisa que a rajada observada no sábado na Figueira da Foz constitui o valor “mais elevado registado em estações da rede meteorológica nacional”, sendo o máximo anterior de 169 quilómetros por hora, a 17 de outubro de 2015.

O IPMA explica que o ‘sting jet’ é uma forte corrente descendente que, por vezes, se desenvolve no bordo oeste de depressões extratropicais, podendo alcançar a superfície. Nestes casos, as rajadas podem ser superiores a 150 quilómetros por hora numa área reduzida, tipicamente situada a sudoeste do núcleo da depressão.

Este organismo refere que as rajadas observadas junto à superfície resultam de processos evaporativos que ocorrem em níveis médios da massa nebulosa da tempestade, resultando destes processos “arrefecimento e consequente transporte descendente do ar para níveis mais baixos, com aceleração progressiva”.

A designação de ‘sting jet’ decorre do facto de a assinatura deste fenómeno em imagens de satélite e radar se assemelhar à da cauda de um escorpião (sting).

O IPMA indica ainda que se observou um fenómeno semelhante em Portugal Continental a 23 de dezembro de 2009, mas na altura não esteve associado a uma depressão resultante da transição de ciclone tropical para depressão extratropical, como se verificou no sábado.

Destruição na Marinha Grande

Horas depois da passagem do Furacão Leslie na Praia da Vieira, no concelho da Marinha Grande, no distrito de Leiria, era visível o rasto da destruição em restaurantes, casas, apoios de praia e Polícia Marítima.

Ao percorrer a estrada que liga a Marinha Grande à Vieira de Leiria, o cinzento do fogo, que há um ano destruiu o Pinhal de Leiria, mistura-se com um cenário de centenas de árvores partidas ao meio, folhas, ramos e pinhas espalhadas ao longo dos vários quilómetros de estrada.

Parecia o fim do mundo. Nunca vi nada assim." As frases são de Sandra Moreira, uma moradora com casa em frente à praia, cujos vidros foram destruídos por objetos que voaram, e até a parede da casa apresentava buracos.

Sandra Moreira, que limpava os estragos do Leslie durante a manhã de hoje, contou à Lusa que durante a noite de sábado foi obrigada a segurar a porta de casa, que quase cedeu à força do vento. A chaminé, as telhas e vários vidros da varanda estão partidos. "Vários destroços do restaurante da frente foram projetados contra a casa."

Uns metros ao lado, a lota da venda de peixe está totalmente destruída. Ao longo de toda a marginal, os destroços da fúria do vento acumulam-se.

Além dos mirones, que acorreram logo pela manhã para presenciar a destruição, os proprietários de casas e cafés limpavam o que podiam. Dois apoios de praia ficaram destruídos. O mesmo se passou com restaurantes e cafés virados para a praia.

Estores e telhas voaram. A esplanada foi destruída. Não saí de casa e o barulho do vento era ensurdecedor. Foi mesmo algo fora do normal. Depois faltou a luz toda a noite", adianta Pascoal Rodrigues, dono de um espaço arrendado para restauração.

Uma sapataria ficou totalmente destruída. "Os sapatos e armários estão espalhados pela rua", conta a proprietária, explicando que os destroços terão partido os vidros " e o "vento fez o resto".

Neste espaço, a destruição foi aproveitada para furto. "Avisaram-me que estavam pessoas a carregar o carro com mercadoria."

O presidente da Junta de Freguesia de Vieira de Leiria, Álvaro Cardoso, confirmou que a GNR foi alertada para situações de furto, de suspeitos que terão aproveitado as montras partidas para retirarem objetos.

Os bombeiros não têm mãos a medir. Num prédio, as varandas desapareceram ou estão danificadas com pedaços de alumínio que terão sido arrancados de outros locais. A fúria do vento, como muitas pessoas constataram, também não poupou as instalações da Polícia Marítima.

O posto, que é utilizado de forma permanente durante a época balnear para apoio aos veraneantes, ficou sem telhado e sem algumas paredes.

No local, o comandante da Capitania do Porto da Nazaré, Paulo Agostinho, explicou que "dificilmente será possível recuperar o edifício", que tinha sofrido remodelações "recentemente".

Paulo Agostinho informou ainda que na zona de São Pedro de Moel, na Marinha Grande, o telhado do Farol do Penedo da Saudade também voou à passagem do furacão Leslie. "Na Praia da Vieira foi onde se verificaram maiores estragos", frisou.

Ao lado, o hotel Cristal também sofreu danos. "Os clientes ficaram muito assustados. Um autocarro que transportava turistas ficou com os vidros partidos e foram obrigados a pedir a sua substituição, para transporte das pessoas, que hoje iriam embora", explicou a assistente da direção, Magda Trovão.

Esta responsável revelou que o Leslie partiu "uma vidraça, a sacada de um bar em vidro, várias estruturas de madeira", destruiu parte da piscina coberta do hotel e provocou danos no parque aquático. "Aconteceu tudo durante cerca de uma hora. Entre as 21:30 e 22:30 foi o período mais crítico. Foi tudo pelo ar."

Foi mau de mais o que aconteceu. Estamos conscientes que o incêndio piorou a proteção e que no verão as temperaturas vão aumentar e o inverno será mais intenso. Sem proteção, o vento irá afetar mais a vila", afirmou o presidente da Junta, Álvaro Cardoso (PS).

O autarca, que confessou que a sua habitação também sofreu danos ao nível do telhado, afirmou que o barulho do vento era "assustador".

Referindo que ainda não tem o balanço de todos os prejuízos, Álvaro Cardoso disse que desconhece se há pessoas deslocadas ou desalojadas.

A primeira intervenção que decorreu durante toda a noite com os bombeiros foi a desobstrução das vias, prevenindo qualquer acidente. As árvores caíram em quase todas as ruas. Criámos o gabinete de crise nos bombeiros, para onde se deslocou uma psicóloga, que deu apoio às pessoas que estavam mais vulneráveis e emocionalmente abatidas", revelou o presidente.

Álvaro Cardoso afirmou ainda que a passagem do Furacão Leslie provocou "prejuízos elevadíssimos na Praia da Vieira".

"Dois apoios de praia foram destruídos e durante a noite tivemos de ir desobstruir a marginal porque a cobertura destes ficou depositada no meio da via. Na Vieira é rara a rua onde não se veem pessoas a consertar os telhados. Não estarei a exagerar se disser que mais de uma centena de casas foram danificadas", constatou.

Segundo Álvaro Cardoso, há vários pinheiros partidos "numa extensão ainda considerável", "árvores caídas e casas destelhadas, com chaminés partidas".

As habitações que estavam rodeadas por pinhais sofreram mais danos, com a queda de árvores para a sua estrutura. Depois há um conjunto de casas abandonadas que estavam sinalizadas pela Proteção Civil, cujas fachadas caíram. Tivemos de intervir derrubando as fachadas, sobretudo as que estavam viradas para a via pública", adiantou o presidente.

A eletricidade e a água ainda estão a ser repostas em vários pontos da freguesia.

A passagem do Leslie por Portugal, no sábado e hoje, provocou um morto, 28 feridos ligeiros e 61 desalojados.

A ANPC mobilizou 8.217 operacionais, que tiverem de responder a 2.495 ocorrências, sobretudo queda de árvores e de estruturas e deslizamento de terras.

O distrito mais afetado pelo Leslie foi o de Coimbra, onde a tempestade, com um “percurso muito errático”, se fez sentir com maior intensidade, disse o comandante da ANPC, Duarte da Costa.

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