Produtores dizem que seca ameaça raça de gado maronês - TVI

Produtores dizem que seca ameaça raça de gado maronês

Quase todo o país em seca severa

Queixam-se de falta de pasto e do aumento do preço dos fenos, palhas e cereais

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Os produtores de gado maronês, em Vila Real, alertaram hoje para o risco que corre a raça por causa da crise que levou à quebra no consumo de carne e da seca que obriga à compra de comida, noticia a Lusa.

Este está a ser um «período terrível?, diz Licínio Costa, de Tourencinho, Vila Pouca de Aguiar. Este produtor olha para o lameiro seco e pobre e onde as vacas maronesas procuram arrancar um pouco de erva.

«Este regato só seca no mês de agosto e, nesta altura, já está completamente seco», explicou.

Não há pasto para os animais e, por isso mesmo, Licínio Costa vai a Espanha - porque em Portugal já não há - comprar fenos, palhas e os cereais.

«Pagávamos seis cêntimos por quilo e agora já custa oito», lamentou.

Se não chover, o problema para estes agricultores ainda se vai intensificar, porque poderá comprometer a produção de alimento para o próximo ano.

Este produtor reivindicou «linhas de crédito bonificado» para, de imediato, se «atenuar» o problema. No entanto, salientou que é preciso criar soluções de médio e longo prazo, que poderão passar pela construção de represas de água nos rios e ribeiros e pela reflorestação.

As cerca de 1.300 famílias que se dedicam à produção de carne maronesa estão reunidas no Agrupamento de Produtores de Carne Maronesa, que integra a Cooperativa Agrícola de Vila Real.

Virgílio Alves, dirigente do agrupamento, teme que possa estar «em risco» o futuro desta raça autóctone.

Por causa das dificuldades, muitos produtores poderão ter que reduzir o efetivo.

Depois, este período de escassez poderá também «trazer consequências na fertilidade das vacas».

«Vamos ter menos nascimentos, menos animais, quer para o negócio da carne e mesmo para a substituição dos efetivos à medida que vão sendo renovados¿, salientou.

Existem cerca de 5.300 vacas em reprodução pura.

À seca junta-se a crise. Entre fevereiro e março verificou-se uma diminuição do consumo desta carne, que tem Denominação de Origem Protegida (DOP), na ordem dos «20 por cento».

«Temos uma diminuição do consumo, fundamentalmente naquilo que era o nicho de consumo tradicional, que era a classe média. Não perdemos clientes, só que cada cliente diminuiu a quantidade que consome», salientou Virgílio Alves.

O responsável referiu ainda que os restaurantes que normalmente consumiam entre os 80 a 90 quilos de carne por semana, passaram a consumir metade ou até menos.

O agrupamento procura agora novos consumidores e restaurantes da gama alta em Lisboa e Porto.

A base geográfica da exploração desta raça bovina engloba as regiões naturais das serras do Alvão e do Marão, o vale da Campeã, a veiga de Vila Pouca de Aguiar e a Padrela, num total de 14 concelhos e 300 freguesias.

O gado maronês, que há mais de mil anos se encontra na região compreendida entre as serras do Alvão, Marão e da Padrela, era um animal selvagem ibérico que dadas as suas características fisiológicas foi domesticado pelo homem para o trabalho agrícola.

É um animal típico de zonas de montanha, onde os invernos são rigorosos e longos, com plantação em minifúndios e regiões onde a mecanização agrícola é difícil.
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