Testes concluem que golas antifumo não inflamam, mas perfuram - TVI

Testes concluem que golas antifumo não inflamam, mas perfuram

  • JFP - notícia atualizada às 19:45
  • 30 jul 2019, 19:07

A investigação em torno da polémica sobre as golas antifumo foi aberta com carácter urgente, a pedido de Eduardo Cabrita

As golas antifumo distribuídas no âmbito da medida “Aldeias Seguras” não são inflamáveis, conclui o relatório preliminar pedido pela Proteção Civil.

De acordo com os resultados dos testes feitos pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais da Universidade de Coimbra, as golas “não entraram em combustão com chama”, mesmo em condições extremas.

Em conclusão podemos dizer que as golas testadas não se inflamaram – isto é não entraram em combustão com chama – mesmo quando sujeitas a um fluxo de calor de muito elevada intensidade, produzido por chamas cuja altura variou entre um e quatro metros, mesmo quando colocadas a uma distância inferior a 50 centímetros das chamas, durante mais de um minuto”, esclarece um comunicado da Proteção Civil enviado às redações.

Os ensaios concluíram ainda que as golas chegam a furar quando testadas a cerca de 20 centímetros das chamas, mas sem arderem.

Não obstante, as golas não constituírem equipamento de proteção individual, destinando-se à proteção das vias respiratórias em situações de evacuação e de deslocação para abrigos ou refúgios, os testes realizados afastam os perigos de combustão que foram sendo erroneamente apontados", continua a nota.

A investigação em torno da polémica sobre as golas antifumo foi aberta com carácter urgente, a pedido de Eduardo Cabrita.

Os testes destinaram-se “a avaliar o comportamento das golas quando expostas a um ambiente próximo de um incêndio florestal” e, “em concreto, avaliar se as referidas golas se inflamavam quando sujeitas a um forte fluxo radiativo, semelhante ao de uma frente de chamas como as que ocorrem em incêndios florestais, podendo colocar em perigo o seu utente, pelo facto de entrarem em combustão”.

A ANEPC entregou um conjunto de 28 golas idênticas às que foram distribuídas à população, para a realização dos ensaios.

Segundo o relatório, “verificou-se que as partículas incandescentes perfuravam a gola, mas esta não se inflamava, isto é, a combustão com chama não era sustentada”.

O contacto com uma chama viva produzia uma perfuração de maior ou menor diâmetro, mas em geral a combustão não se sustentava com chama viva. Esta situação de combustão com chama apenas ocorreu em determinadas situações de ignição com uma chama permanente e com o tecido da amostra situado praticamente na vertical”, lê-se.

O ministro pediu no sábado à Inspecção-Geral da Administração Interna a abertura de “um inquérito urgente”.

A questão das golas antifumo inflamáveis já levou à demissão de Francisco Ferreira, técnico adjunto do secretário de Estado da Proteção Civil, após ter sido noticiado o seu envolvimento na escolha das empresas para a produção dos kits para o programa “Aldeias Seguras”.

O CIIF refere que o documento “constitui um relatório preliminar muito sucinto, uma vez que não foram ainda analisados muitos dos parâmetros que foram objeto de medição e registo durante os ensaios”.

Como foram realizados os testes?

Uma câmara térmica registou continuamente a temperatura da amostra e os ensaios foram registados utilizando duas câmaras de vídeo e várias máquinas fotográficas digitais.

O primeiro ensaio, refere o relatório, com uma distância da gola ao cesto de um metro, verificou que “a gola estava praticamente intacta e por isso foi utilizada no ensaio seguinte.

Neste segundo ensaio, a distância foi reduzida para meio metro e no final “a gola estava praticamente intacta, mas optou-se por utilizar uma nova peça no ensaio seguinte”.

Neste, a distância foi reduzida para 30 centímetros e no final “a gola estava deformada e apresentava uma perfuração, por impacto térmico, embora não tenha entrado em combustão”.

Um ensaio seguinte, realizado a 20 centímetros das chamas, demonstrou que “a gola estava muito perfurada, embora não se tenha inflamado”.

Foram realizados ensaios complementares para analisar o comportamento das golas face ao impacto de partículas incandescentes e ao contacto com uma chama, do tipo chama de isqueiro ou de mato.

Participaram nos testes o coordenador do Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais, Domingos Xavier Viegas, Luís Reis (investigador doutorado), Carlos Xavier Viegas (investigador doutorado), Cláudia Pinto (investigadora mestre), Nuno Luís (técnico de laboratório), Gonçalo Rosa (técnico de laboratório), José Pedro Barge (licenciado em Engenharia Mecânica, estudante de mestrado), André Albino (licenciado em Engenharia Mecânica, estudante de mestrado) e Bruno Sampaio (licenciado em Engenharia Mecânica, estudante de mestrado).

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