Andreia tem 17 anos, Nádia 16 tal como Ana. Acabadas de chegar da escola, vêem televisão como qualquer adolescente. Mas as suas vidas são diferentes. Andreia e Nádia já são mães. Ana está grávida.
Veja o vídeo e a reportagem com outras mães adolescentes
Dados do INE mostram que em 2007, 4844 jovens entre os 13 e os 19 anos deram à luz, 13 por dia. O número está a diminuir e para isso terá contribuído a despenalização do aborto. Segundo Duarte Vilar, da Associação para o Planeamento Familiar, 10 % dos abortos são de adolescentes.
Andreia não faz parte desta estatística. Nos braços segura Madalena, a filha de apenas três semanas da vida. «Fugi de casa com 16 anos», começa por contar. «Fui para o Porto, trabalhei nuns bares e foi lá que engravidei». A explicação chega depois: «nessa noite bebi um bocado demais».
«Chocada» com a notícia da gravidez, a jovem, ainda com 16 anos, recorreu à família que a encaminhou para a residência da Ajuda de Mãe.
«Têm que ser capazes de se sustentar a elas e aos bebés»
Andreia chegou à instituição quando ainda estava no terceiro mês de gravidez e foi aprendendo o que iria precisar de saber quando o bebé nascesse, embora confesse que o seu maior receio era «não ser uma boa mãe». Um dos requisitos para morar na residência é continuar a estudar.
Madalena Teixeira Duarte, presidente da Ajuda de Mãe explica que as jovens mães podem continuar os estudos na escola móvel que funciona na instituição, à semelhança de Andreia, que está a concluir o 9º ano. «É uma parceria com o Ministério da Educação, através do qual fazem o 6º ou 9º ano em igualdade de circunstâncias com os estudantes do ensino regular». O objectivo é que um dia «sejam capazes de ser pessoas autónomas e sustentarem-se a elas e aos seus bebés».
Além da escola e das residências , a instituição dá ainda às jovens mães apoio psicológico, encaminha-as para o mercado de trabalho, ajuda-as a encontrar creches e ensina-lhes também as questões práticas de ser mãe.
A associação apoia neste momento cerca de 100 grávidas ou mães adolescentes, sendo que 16 estão acolhidas nas residências. A mais nova tem apenas 13 anos e já é mãe, mas Madalena Teixeira Duarte recorda que a instituição já teve mães mais novas: «Tivemos uma mãe de 12 anos, outra de 11 anos... nada disto é bom», afirma.
Andreia garante que não se arrepende de ter a criança. «É bom sentir que temos alguém... que gosta de nós», diz, enquanto olha para a filha.
«Mudou tudo»
«Mudou tudo», conta Nádia de 16 anos sobre os últimos três meses da sua vida, os primeiros desde que o bebé nasceu. «Tenho mais responsabilidades, mais cansaço, mais tarefas¿ mudou tudo mesmo».
«Não foi uma gravidez planeada, foi descuido mesmo», explica. «Só usava preservativo, rompeu-se e quando vi, estava grávida». A jovem confessa que quando soube que estava grávida sentiu «muitas coisas más. Era muito nova».
Os pais não reagiram bem, e queriam que Nádia abortasse. A jovem ainda ponderou, mas depois decidiu avançar com a gravidez. «O bebé não tinha culpa de nada e eu já gostava dele». «E agora estou feliz. É muito bom ser mãe. Cada dia é uma coisa nova», garante e confessa que até os pais já aceitam a situação.
Ao contrário de Andreia, que não quis contar ao pai do bebé, a jovem conta com o apoio do namorado, mas, mesmo assim, teve alguns receios: «não conseguir acabar os estudos, não conseguir cuidar bem dele, ser discriminada na rua e na escola».
Os mesmos receios tem Ana. Grávida de três meses teme que alguém lhe «vire as costas». Para já, além do apoio da Ajuda de Mãe, tem a própria família, o namorado e a família dele, por isso, garante que vai continuar a estudar.
Adolescentes... e mães
- Sara Marques
- 29 mar 2009, 12:00
Por dia, 13 adolescentes dão à luz em Portugal. Quase todas são gravidezes não planeadas que mudaram a vida destas jovens
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