Muitos trabalhadores da segurança comem na máquina do raio-x do aeroporto - TVI

Muitos trabalhadores da segurança comem na máquina do raio-x do aeroporto

  • Redação
  • CM - notícia atualizada às 16:30
  • 27 ago 2016, 15:30

CGTP promete mais lutas se exigências dos funcionários aeroportuários não forem atendidas. Associação de Empresas de Segurança denuncia ilegalidades na greve, como trabalhadores coagidos moral e fisicamente para não assumirem o seu posto

Muitos trabalhadores do controlo de segurança dos aeroportos portugueses comem na máquina de raio-x por falta de salas de refeições com condições e têm de "pedir por favor" para usarem as casas de banho de outras empresas.

O relato foi feito, neste sábado, por trabalhadores da Prosegur, uma das empresas que, tal como a Securitas, realiza o raio-x da bagagem de mão e o controlo dos passageiros e também dos trabalhadores dos aeroportos.

Estes trabalhadores cumprem hoje uma paralisação de 24 horas ao trabalho extraordinário em protesto contra estas más condições laborais, que está já a causar atrasos de vários horas.

Valmisa Magalhães trabalha há seis anos na Prosegur e a primeira razão que apresenta quando questionada sobre o que a levou a juntar-se a esta greve foi a falta de respeito que sente. 

Este trabalho tem de ser tratado com respeito e tem de ser levado a sério. Não temos balneários, não temos uma sala de refeições em condições, temos uma sala de refeições no Terminal 1 [do aeroporto de Lisboa], mas nos outros postos os colegas são obrigados a comer na máquina de raio-x onde não há uma pia para lavar as mãos nem uma casa de banho", conta esta trabalhadora de 32 anos, em declarações à agência Lusa.

O acesso a lavabos é outro problema. 

Temos de usar as casas de banho de outras empresas próximas que por favor nos deixam usar. Nem os animais são tratados assim", lamenta Valmisa.

Há 11 anos que Jorge Esteves é assistente aeroportuário ao serviço da Prosegur no aeroporto de Lisboa e considera que a situação em que trabalha é "o mais medíocre possível".

As nossas escalas são terríveis, trabalhamos 15 dias seguidos com duas folgas intercaladas, isso é impensável. Isso não é segurança, não é nada. As nossas condições são medíocres", denuncia Jorge Esteves, sublinhando que "nem num aeroporto de terceiro mundo acontece o que acontece aqui".

Também Paulo Dias trabalha nesta empresa de segurança há mais de 10 anos e diz que "as faltas de condições que atualmente existem no aeroporto [de Lisboa] são graves".

Recebi uma escala [para o mês de setembro] em que deveria ter oito dias de descanso e tenho seis. A empresa continua a brincar com toda a gente e inclusive com a segurança dos passageiros", aponta.

Paulo Dias conta que não tem "um sítio para comer", nem "um sítio condigno para mudar de roupa". Também não há balneários para tomar banho nem parque de estacionamento para os trabalhadores poderem deixar os carros, segundo este funcionário, que denuncia que, neste momento, "há pessoal com formação de cinco dias a fazer raio-x".

CGTP promete mais lutas

O secretário-geral da CGTP afirmou hoje que os trabalhadores das empresas de segurança dos aeroportos portugueses farão "outras lutas" se as suas reivindicações não forem positivamente respondidas pelos patrões.

Arménio Carlos esteve esta manhã em frente ao Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, com as cerca de duas dezenas de trabalhadores de segurança dos aeroportos.

Sublinhando que esta greve "é um grande exemplo não só de afirmação das justas reivindicações" dos trabalhadores, como também "a demonstração da defesa da [sua] dignidade", Arménio Carlos deixou um aviso às entidades empregadoras.

Se depois de hoje as associações patronais de segurança não tiverem em consideração esta demonstração de força e de vontade de resolução do problema por via do diálogo, então outras lutas com certeza se seguirão até que as reivindicações destes trabalhadores sejam valorizadas", disse.

O sindicalista apelou assim a que os representantes dos patrões tenham em conta "a necessidade de regressarem à mesa de negociações" e de "responderem positivamente às reivindicações dos trabalhadores aeroportuários", que "controlam milhões e milhões de pessoas que se deslocam para vários países do mundo".

Esta paralisação de 24 horas foi marcada após mais de nove meses de negociações entre o sindicato e a Associação das Empresas de Segurança (AES) para a celebração de um novo contrato coletivo de trabalho.

Questionado sobre este período negocial, Arménio Carlos disse que "as associações patronais ao longo destes meses andaram a fingir que negociavam, mas, na prática, o que andavam a tentar assegurar fazer era uma subversão da negociação, não respondendo concretamente as reivindicações dos trabalhadores".

O dirigente sindical considera que as empresas de segurança que operam nos aeroportos portugueses "subestimaram a força dos trabalhadores e a sua coragem" mas diz que "a partir de hoje começam a ficar com outra ideia" e a perceber que estes trabalhadores "não têm medo de dar a cara e de lutar pelos seus interesses".

Empresas de Segurança denunciam ilegalidades na greve

A Associação de Empresas de Segurança denunciou hoje a existência de ilegalidades na greve que decorre nos aeroportos, na prestação de serviços mínimos, e de casos de assédio aos trabalhadores que iam para o seu posto.

Realçando que defende o respeito pela lei, nomeadamente no direito à greve, a associação que representa as empresas do setor diz, no entanto, que "não pode deixar de denunciar algumas situações de desrespeito da legalidade e da liberdade dos trabalhadores".

Em comunicado, a Associação de Empresas de Segurança (AES) lista ilegalidades como a falta de identificação, pelos sindicatos, dos elementos a afetar à prestação de serviços mínimos.

"A AES não tem conhecimento da existência de qualquer providência cautelar interposta pelas associações sindicais" nem informação acerca do seu deferimento, e reitera que "o incumprimento dos serviços mínimos nos termos fixados pelas autoridades competentes constitui uma clara violação das obrigações legais".

Por outro lado, "alguns profissionais que se dirigiam para o seu posto de trabalho foram assediados e coagidos moral e fisicamente, tendo alguns deles visto as suas viaturas vandalizadas", denuncia a AES que considera estas atitudes "um claro desrespeito pelo direito de todos os vigilantes a exercerem a sua atividade livremente".

A AES apela ainda a todas as partes, para que sem prejuízo do exercício do direito constitucional à greve, todos o façam no respeito pela legalidade e pela liberdade individual.

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