«Portugueses preferem pôr África debaixo do tapete» - TVI

«Portugueses preferem pôr África debaixo do tapete»

Protocolo marca estudo para avaliar efeitos pós-guerra colonial cuja história ainda «está por fazer»

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O director do Centro de Estudos Sociais afirmou esta quinta-feira que o protocolo assinado com o ministério da Defesa vai «promover um maior conhecimento científico sobre as consequências da guerra colonial», um tema cuja história ainda «está por fazer», segundo a Agência Lusa.

Projecto avalia consequências da guerra colonial

«O estudo vai fazer o diagnóstico e [avaliar] a dimensão social e a maneira como o stress pós-traumático se transmite aos filhos dos ex-combatentes», afirmou o director do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Boaventura Sousa Santos, sobre o projecto «Os Filhos da Guerra Colonial: Pós-Memória e Representações».

Em declarações à Lusa, no final da cerimónia de assinatura do acordo com o ministério da Defesa, Boaventura Sousa Santos considerou que os efeitos da guerra em África são ainda «um tema que os portugueses preferem pôr debaixo do tapete».

«Esta é uma área sensível que tem de ser tratada com muita exigência ética (...) um acontecimento marcante na sociedade portuguesa e nos países africanos» e os entrevistados pelos investigadores do Centro de Estudos Sociais vão estar «mais à vontade se souberem que a tutela está a colaborar» na iniciativa, considerou Boaventura Sousa Santos.

«A história está por fazer mas está viva na memória dos ex-combatentes e dos seus familiares», declarou, acrescentando que o estudo do «stress pós-traumático que muitas vezes passa de geração em geração» e do seu «impacto social» será feito por «equipas interdisciplinares, com psiquiatras e sociólogos».

Com a assinatura deste documento, os investigadores da Universidade de Coimbra vão poder contar com a colaboração dos técnicos do Hospital Militar daquela cidade.

Na sua intervenção após a assinatura do protocolo, o sociólogo salientou a «importância muito grande» daquilo que considerou ser um «momento fundacional» na articulação da investigação científica com as instituições do Estado.

Por seu lado, o ministro da Defesa Nacional, Severiano Teixeira, destacou a importância de «haver sempre uma relação constante e estreita» entre «o conhecimento e a decisão».

«A memória da guerra colonial é uma área prioritária do ministério e o apoio aos ex-combatentes é uma grande preocupação», assegurou Nuno Severiano Teixeira, argumentando que «para poder apoiar o presente e prevenir o futuro é preciso compreender a realidade» do que foram as consequências daquele conflito.
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