Operação Marquês: Banqueiros do Espírito Santo relataram transferências de milhões - TVI

Operação Marquês: Banqueiros do Espírito Santo relataram transferências de milhões

  • PD - atualizada às 13:20
  • 2 mar 2017, 01:30

Ricardo Salgado terá falado de pagamentos a administradores da PT. E segundo Helder Bataglia, o luso-agolano que geria a Escom, ter-lhe-á pedido para fazer chegar milhões a contas do amigo do ex-primeiro ministro José Sócrates

Contas feitas, mais de 90 milhões de euros terão circulado do universo do Grupo Espírito Santo (GES) para contas bancárias de arguidos no processo da Operação Marquês, segundo revelam esta quinta-feira as revistas Visão e Sábado.

Já ouvi falar várias vezes do Diabo. Isto foi o Diabo", terá sido a expressão do banqueiro Ricardo Salgado, quando foi ouvido em inquérito. referia-se, segundo escreve a Visão, à coincidencia de datas entre avultadas tranferências do grupo GES e datas cruciais dos negócios da Portugal Telecom (PT).

Os procuradores acreditam que o dinheiro terá servido para manter a influência de Salgado nos destinos da PT, onde o BES era acionista. E que, na prática, os milhões terão chegada a contas de José Sócrates e até do brasileiro José Dirceu, ex-ministro do governo de Lula da Silva.

Mas também os administradores da PT, Zeinal Bava e Henrique Granadeiro terão sido "recompensados", com uma verba da ordem dos 50 milhões de euros.

De acordo com a Visão, Ricardo Salgado foi submetido a um interrogatório de quarto horas, tenso, em que deu respostas evasivas ou negou as suspeitas dos procuradores. Ainda assim, terá afirmado que os 50 milhões para Bava e Granadeiro teriam sido adiantamentos para os convencer a continuar na PT até pôr em ordem a brasileira Oi.

No caso de Granadeiro, segundo Salgado, o dinheiro seria para o administrador comprar uma quinta. Mas não soube dizer onde, qual e se algum contrato tinha sido sibscrito para o efeito.

Sócrates e o amigo

Nada de intimidades", é como Ricardo Salgado se terá referido à sua relação com o antigo primeiro-ministro, garantindo que apenas manteve com ele um relacionamento institucional.

Ricardo Salgado garantiu mesmo que mal conhecia Carlos Santos Silva , o amigo que José Sócrates sempre nomeou como lhe tendo emprestado dinheiro e que o Ministério Público vê como um testa de ferro do antigo primeiro-ministro.

Contudo, num interrogatório classificado como explosivo, o empresário luso-angolano Helder Bataglia terá afirmado que Ricardo Salgado lhe pediu para utilizar as suas contas para fazer chegar discretamente dinheiro a Carlos Santos Silva.

Ele dizia-me: vamos fazer agora a transferência, qual é a conta, eu dava a conta e era, pronto, assim que fazíamos", terá contado  Bataglia ao procurador Rosário Teixeira e ao inspector tributário Paulo Silva, Segundo conta a revista Sábado.

De acordo com a revista, o interrogatório a Helder Bataglia versou sobre a maioria das questões já antes tratadas quando o banqueiro for a ouvido em Angola, por via de carta rogatória. Nessa altura, contudo, Bataglia recusara falar sobre os milhões do BES que entraram nas suas contas e depois saíram para as contas suíças alegadamente controladas por Joaquim Barroca e Carlos Santos Silva.

Defesa de Sócrates já reagiu aos depoimentos de Bataglia e Salgado

Entretanto, a defesa de José Sócrates já reagiu às revelações divulgadas nestas revistas. A defesa do antigo primeiro-ministro considerou que os depoimentos de Ricardo Salgado e Helder Bataglia vêm confirmar que não existe qualquer ligação do ex-primeiro-ministro “aos tantos milhões noticiados”.

“Estes novos depoimentos esclarecedores apenas vêm confirmar que nenhuma ligação do engenheiro José Sócrates aos tantos milhões noticiados existe, que a tese de uma fortuna escondida está desmentida nos autos e que a alegada proximidade com as pessoas interrogadas, aliás desmentida por ambos, é pura e simplesmente uma ficção”, refere a defesa em comunicado.

Mais, João Araújo e Pedro Delille acusam o Ministério Público de dar a alguns jornalistas elementos dos autos que recusam entregar aos advogados de defesa.

Segundo os advogados, com a divulgação de elementos dos interrogatórios, a intenção do MP é “acrescentar novas complexidades às desculpas do costume para, depois de violados todos os prazos, legais e judiciais, manter aberto um inquérito que, há muito, devia estar encerrado e arquivado”.

 

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