Português relata quarentena no Japão: "Estou preso num quarto de três metros quadrados" - TVI

Português relata quarentena no Japão: "Estou preso num quarto de três metros quadrados"

  • Henrique Magalhães Claudino
  • 13 mar 2020, 13:54

Hélder Vigia é um dos três trabalhadores portugueses que irão regressar a Portugal amanhã

Hélder Vigia é um dos portugueses que, tal como Adriano Maranhão, percebeu que o navio onde estava a trabalhar - o Diamond Princess - foi colocado em quarentena no dia 4 de fevereiro. 

O especialista em isolamento da ventilação do navio relatou à TVI que tudo começou quando no dia 25 de janeiro, um passageiro japonês entrou a bordo e começou a exibir sintomas correspondentes ao novo coronavírus. 

Começou a ter sintomas, a ter gripe, febres altas. Foi detetado que tinha o coronavírus. A partir daí, foi um descalabro”, afirma Hélder Vigia.

Hélder trabalhava juntamente com outros três portugueses e descreve um ambiente de pânico e ansiedade, numa altura em que todos os dias iam aparecendo novos casos no navio.

Foi terrível. Andávamos pelo navio com medo porque todos os dias apareciam casos novos e não eram poucos. Passageiros, membros da tripulação, o vírus não poupava ninguém”, diz.

O navio de cruzeiros atracado no porto japonês de Yokohama foi impedido de voltar a navegar e no dia 5 de fevereiro foram impostas medidas de contenção para os 2.600 passageiros a bordo que ficaram confinados aos quartos.

No entanto, as mesmas medidas não foram aplicadas aos tripulantes dos cruzeiros que continuavam a almoçar e a jantar nas cantinas do Diamond Princess, tal como a partilhar as casas de banho, afirma o nazareno que embarcou no dia 6 de janeiro.

Ainda assim, todos os trabalhadores receberam máscaras e material de segurança. Os pratos eram confeccionados pela equipa do cruzeiro até os últimos dez dias de quarentena no navio, tendo o encargo sido assumido “por uma firma do Japão”.

Hélder, que embarcou no dia 6 de janeiro, afirma que o contacto com as autoridades portuguesas foi sempre feito através de Walter Chicharro, o presidente da Câmara Municipal da Nazaré.

Todos os dias liga-me para saber como sou, se a minha família precisa de alguma coisa”, diz, sublinhando que o presidente tem sido “incansável”.

Hélder conta que, no dia 1 de março, ele e os colegas portugueses foram retirados do navio e encaminhados para um colégio com ligação direta ao hospital na cidade de Okazaki.

Fomos os três portugueses. Fomos colocados num colégio que tem ligações com o hospital, onde estamos a ser muito bem tratados. Estamos a ser vistos por médicos da companhia. Todos os dias tiram-nos a temperatura”, afirma Hélder, internado em isolamento no colégio há 14 dias.

Hoje foi conhecido o resultado dos exames relativos a uma possível infeção de Covid-19. Todos os portugueses testaram negativo.

A nível de sintomas nunca tive nada de concreto, a temperatura é que subia um pouco, mas era derivado ao stress de estar aqui fechado. Uma pessoa pensa em tudo, no pior e no melhor. Calhou-me o melhor, graças a Deus, mas não é fácil”, descreve o trabalhador. 

Hélder não dorme à noite. Durante o dia, descomprime ao falar com a família e com os amigos.

Isto não é muito fácil, se não fosse a minha família e os meus amigos isto não era possível. É muito confuso. Tenho o cérebro cansado. Estou metido numa prisão num quarto de três metros quadrados. Estar aqui fechado não é fácil”, afirma ao mesmo tempo que lança um grande agradecimento aos nazarenos. 

São pessoas que a gente não esquece. São pessoas que são unidas, mesmo quando morriam quase todos os anos várias pessoas no porto da Nazaré”, afirma, sublinhando que os portugueses muitas vezes pensam que o mal só acontece aos outros.

A TVI sabe que Hélder e os outros trabalhadores portugueses em quarentena no Japão vão regressar a Portugal amanhã.

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