As organizações não governamentais na área do VIH/Sida justificaram a posição de Portugal entre quatro países europeus com mais novos casos de infecção com a falta de acções de prevenção no país, escreve a Lusa.
Portugal está entre os quatro países europeus onde a taxa de novas infecções por HIV quase duplicou entre 2000 e 2007, segundo um relatório da União Europeia e das Nações Unidas divulgado esta segunda-feira.
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A taxa de infecção por HIV em 49 países europeus quase duplicou entre 2000 e 2007, atingindo o nível mais elevado jamais registado na Europa, adianta o relatório conjunto.
Margarida Martins, da Associação Abraço, manifestou à Lusa a sua tristeza pelos resultados divulgados.
«Não há prevenção no país e o problema é esse e é isso que nos dói. Por muito que as associações queiram fazer é completamente diminuto o seu esforço porque não temos verbas», lamentou a dirigente, lembrando que a prevenção passa por informação, sensibilização e grandes campanhas.
A doença deveria ser tratada como qualquer outra coisa que se vende no país, argumentou ainda, exemplificando com a "coca-cola", que primeiro aposta nas grandes campanhas e depois no trabalho no terreno.
«Passa-se a vida a gastar dinheiro em estudos e nada acontece. Penso que temos de ter uma aposta diferente para crescermos de maneira inteligente e levar a bom porto estas lutas», considerou.
Com empenho
Filomena Frazão, da Fundação Portuguesa contra a Sida, também garantiu que quando o poder político «se empenha, faz boas campanhas e toma medidas drásticas, as coisas acontecem», como foi o caso da lei do tabaco.
A mesma fonte sublinhou à Lusa que cada vez chegam pessoas mais novas infectadas à Fundação e que só conhecem o seu estado de saúde através de exames de rotina.
Há cerca de mês e meio conheceu o caso de uma pessoa de 15 anos, que foi internada devido a uma pneumonia, mas acabou por saber que estava infectada com VIH. «E está num estado já bastante debilitado», testemunhou à Lusa.
Filomena Frazão referiu ainda um caso de um homem de 80 anos que soube estar infectado há cinco meses devido a um problema dermatológico que se repetiu num curto espaço de tempo e fez levantar suspeitas aos médicos. Ambos os casos foram de transmissão por sexo heterossexual.
Números não surpreendem
Os números também não surpreenderam Maria Eugénia Saraiva, da Liga portuguesa contra a Sida, uma vez que no terreno a organização continua a ser procurada pelos «infectados e pelos afectados, que são a família e os amigos».
«A Sida não é falada, não é reconhecida como doença problemática e muitas vezes mortal. Continuamos a não apostar na formação e educação dos mais jovens e jovens adultos», lamentou a responsável, criticando ainda que não se façam testes, porque quanto mais cedo é feito o diagnóstico, mais eficaz é o tratamento.
Sobre o anúncio de testes gratuitos para os utentes do Serviço Nacional de Saúde feito hoje pela ministra da Saúde, as responsáveis manifestaram a sua satisfação.
No entanto, Margarida Martins sugeriu que seja criado também aconselhamento pré e pós testes.
Sida: falta de acções de prevenção em Portugal
- Redação
- PP
- 1 dez 2008, 23:34
ONG atríbuem aumento de novos casos de infecção a falta de acções de prevenção
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