O Tribunal de Leiria condenou, esta quarta-feira, a 22 anos de prisão um homem que matou a companheira, em Porto de Mós, em 2018, e que simulou um assalto para afastar suspeitas.
Para o coletivo de juízes ficou provado que o homem de 59 anos, acusado de homicídio qualificado, planeou a morte da companheira, com quem vivia há mais de dez anos, no Juncal, em Porto de Mós.
A juiz presidente do coletivo adiantou que o arguido “planeou os factos a sangue frio”, deixou a vítima a “esbracejar”, “foi embora, desfez-se da roupa, do calçado e da faca, e foi acabar o resto da ronda [trabalho] como se nada se tivesse passado”.
O homem voltou pelas 17:30 a casa e ainda “fingiu grande surpresa” perante a morte da companheira.
Estava consciente da sua conduta ilícita, houve premeditação e aproveitou a circunstância de estar descontraída em casa, fazendo uso da faca de cozinha, dificultando a sua capacidade de defesa”, referiu a juíza, citando o relatório de autópsia, que, apesar de tudo, evidencia “lesões defensivas”.
Para o coletivo, “esta conduta do arguido é perversa, altamente censurável e demonstra total desrespeito pelos valores morais que regem uma vida em sociedade”.
Planeou tudo meticulosamente e nunca voltou atrás, como ter chamado a ambulância para socorrer a mulher quando ainda estava viva”.
Na generalidade, a acusação do Ministério Público ficou provada. Ficou confirmado que o arguido, de 59 anos, motorista de profissão, "formulou" um plano para "matar" a mulher com quem vivia maritalmente.
No dia 18 de abril de 2018, o suspeito pediu à ex-mulher que lhe emprestasse um veículo de mercadorias, "dizendo-lhe que precisava do mesmo para fazer mudanças", pese embora não o tenha efetuado, "nem tivesse intenção de o fazer".
Depois de uma troca de automóveis, o suspeito "trocou de roupa e, após, sempre constante no propósito de matar a ofendida, dirigiu-se à residência de ambos".
Ainda na execução do plano previamente traçado, entrou na sua residência, retirou um televisor LCD que se encontrava na sala e colocou-o na parte de carga da carrinha. Depois, entrou novamente em casa, tendo nessa altura chegado a ofendida. Surpreendida com a presença do arguido, perguntou-lhe porque é que ele estava em casa àquela hora, ao que o arguido lhe disse que não se sentia bem e por isso tinha ido a casa almoçar", lê-se no despacho de acusação.
A mulher dirigiu-se à cozinha e sentou-se à mesa para almoçar. "O arguido colocou umas luvas de borracha e agarrou numa faca de cozinha com cerca de 25 cm de comprimento. Encontrando-se a ofendida de costas, abeirou-se daquela por trás" e degolou-a.
A mulher ainda se virou e acabou por ser esfaqueada em várias partes do corpo.
Com a mulher no chão, o suspeito abriu várias gavetas e armários, de modo a fazer crer que tinha ocorrido um assalto.
Depois de se ter livrado da roupa suja de sangue, faca e luvas, voltou mais tarde a casa. Depois de ter entrado, dirigiu-se para a rua e começou a gritar a pedir socorro, "afirmando aos que, nessa sequência, acorreram ao local, que se tinha acabado de deparar com a ofendida no chão da residência, não sabendo o que se tinha passado, mas assinalando a falta do televisor, de um fio em ouro e de uma pulseira em ouro, de modo a que pensassem ter-se tratado de uma assalto".