Sete hospitais esquivaram contratos de 100 milhões ao visto do Tribunal de Contas - TVI

Sete hospitais esquivaram contratos de 100 milhões ao visto do Tribunal de Contas

720 euros por dia ainda não atraíram médicos ao Amadora-Sintra

Auditoria revela que 85 contratos foram celebrados sem o obrigatório visto prévio, num valor da ordem dos 100 milhões de euros. Presidentes das administrações dos hospitais arriscam ser sancionados

Compra de medicamentos, contratação de fornecimento de alimentação, gestão e exploração de serviços de imagiologia, aquisição de serviços médicos são as áreas em que os hospitais celebraram contratos nos anos de 2013 e 2014, sem pedirem o visto prévio, legalmente necessário, do Tribunal de Contas (TdC).

A execução financeira dos contratos que não foram submetidos a fiscalização prévia do Tribunal de Contas, quando a isso estavam obrigados, é suscetível de gerar responsabilidade financeira sancionatória para os presidentes dos conselhos de administração”, alerta o Tribunal na introdução do relatório da auditoria realizada e divulgado na página na instituição.

Os hospitais auditados foram o Hospital Professor Doutor Fernando da Fonseca, EPE (Amadora-Sintra), a Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano, EPE, a Unidade Local de Saúde da Guarda, EPE, o Hospital Distrital da Figueira da Foz, EPE, o Centro Hospitalar de Leiria, EPE, o Centro Hospitalar Entre o Douro e Vouga, EPE, e o Hospital Garcia de Orta, EPE (Almada).

De acordo com explicações do TdC, a auditoria foi “orientada a procedimentos de contratação pública de hospitais do setor empresarial do Estado". E pretendia-se "verificar o cumprimento da obrigação de remessa para fiscalização prévia do Tribunal de Contas dos atos, contratos e minutas de contratos a que estavam obrigados nos anos de 2013 e 2014”.

No Amadora-Sintra passaram 34,9 milhões 

Nos dois maiores hospitais auditados – o Amadora-Sintra e o de Almada – foram detetados os valores contratados sem sujeição a visto prévio legalmente exigível de maior valor.

No caso do Hospital Amadora-Sintra foram 34,9 milhões de euros em 20 contratos que não foram vistos previamente pelo Tribunal.

Neste hospital, os contratos diziam respeito à aquisição de medicamentos e de serviços de fornecimento de alimentação, suscetíveis de “gerar responsabilidade financeira sancionatória, dos quais se destacam os contratos de fornecimento de serviços de alimentação, no total de 9,4 milhões de euros”.

Segundo o relatório, o hospital procedeu a sucessivas renovações de um contrato de fornecimento de serviços de alimentação, celebrado em 2008, pelo prazo de um ano, com a UNISELF - Sociedade de Restaurantes Públicos e Privados, SA.

Deveria ter promovido a abertura de um concurso público ou de um concurso limitado por prévia qualificação e remetido o processo a fiscalização prévia do Tribunal de Contas”, lê-se no relatório.

Neste caso, o hospital alegou não estar obrigado a remeter ao TdC “quaisquer atos e contratos” para fiscalização prévia, algo que a instituição contesta, alertando ainda que “o Regulamento da Contratação de Bens, Serviços e Empreitadas do hospital não cumpre as regras do Código dos Contratos Públicos”.

Garcia de Orta com 20 contratos

No caso do Hospital Garcia de Orta, em Almada, o TdC detetou que os contratos de aquisição de medicamentos, celebrados entre 2013 e 2014, que deviam ter sido sujeitos a uma fiscalização prévia do tribunal, totalizaram quase 20 milhões de euros (19.938.456,90 euros).

Além de não ter sido submetida a fiscalização prévia do Tribunal de Contas, a contratação de empresas prestadoras de serviços médicos foi fracionada em vários ajustes diretos nos anos de 2013 e 2014. A despesa subtraída a controlo prévio foi de 2.079.993,90 euros”, refere ainda o relatório.

No hospital Garcia de Orta foram ainda detetados contratos irregulares relativos a serviços de lavandaria, assegurados por ajustes diretos mensais que totalizaram mais de 336 mil euros, em 2013, e quase 360 euros, em 2014.

A contratação devia ter sido precedida de concurso público ou de concurso limitado por prévia qualificação”, defendeu o TdC.

Auditoria levou a aumento de fiscalização

O Tribunal de Contas refere também que, “ao longo do desenvolvimento da auditoria”, o número de contratos enviados à instituição para obtenção de visto prévio registou “um aumento substancial” de 291%.

Em 2015, os sete hospitais auditados remeteram a controlo prévio do Tribunal de Contas 11 contratos, no total de € 8,8 milhões [de euros]. Em 2016 verificou-se um aumento substancial (291%) do número de contratos (+32) remetidos ao controlo prévio do Tribunal de Contas (43 contratos), no total de € 32,8 milhões, o que representa um aumento de 272% (+€ 24 milhões) face a 2015”, precisou o TdC.

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