Exames a "doentes urgentíssimos" anulados na Unidade de Medicina Nuclear da Madeira - TVI

Exames a "doentes urgentíssimos" anulados na Unidade de Medicina Nuclear da Madeira

  • BM
  • 21 mar 2019, 12:25
Enfermeiros

Em fevereiro, uma reportagem da TVI já tinha revelado que o Hospital do Funchal encaminhava pacientes para fazer exames de medicina nuclear numa clínica privada, enquanto a sua própria unidade, inaugurada em 2013 e certificada em 2017, estava "praticamente parada"

O responsável da Unidade de Medicina Nuclear do Serviço Regional de Saúde da Madeira (Sesaram), Rafael Macedo, confirmou esta quinta-feira que foram anulados, hoje e na sexta-feira, exames e cirurgias a "doentes urgentíssimos".

Não recebi qualquer notificação do Sesaram. Hoje de manhã, quando aqui cheguei, estavam a mudar fechaduras e foram anulados os exames e o bloco operatório. Não sei o que se passa, nem a administração contacta comigo", disse à Lusa.

 

Não tenho doentes hoje e amanhã e são doentes urgentíssimos", acrescentou.

Rafael Macedo referiu ainda que hoje tinha cinco doentes (quatro com melanoma e um com cancro da mama) e na sexta-feira seis outros doentes oncológicos com doença óssea.

O responsável entende que “o objetivo é destruir o serviço”, expulsá-lo e “possivelmente entregar” a Unidade de Medicina Nuclear à Quadrantes (clínica privada).

O coordenador da Unidade de Medicina Nuclear do Hospital Central do Funchal, afirmou na quarta-feira que o setor público tem capacidade para prestar "mais e melhor" serviço, e vincou que muitos utentes continuam a ser encaminhados para o privado.

Numa audição parlamentar na Assembleia Legislativa Regional, Rafael Macedo acusou também "alguns colegas" de "forte negligência" e de fornecerem tratamentos que "não são adequados", apontando ainda deficiências nas fichas clínicas e no registo de doentes.

Denunciei a situação à Ordem do Médicos relativamente às várias irregularidades", disse aos deputados da Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear do Serviço de Saúde da Madeira, constituída a pedido da maioria social-democrata, na sequência uma reportagem da TVI transmitida em fevereiro.

A investigação jornalística concluiu que o Hospital do Funchal encaminhava pacientes para fazer exames de medicina nuclear numa clínica privada, enquanto a sua própria unidade, inaugurada em 2013 e certificada em 2017, estava "praticamente parada".

Rafael Macedo reafirmou que o serviço público continua a encaminhar utentes para o serviço privado, vincando ainda que existem serviços do Sesaram que funcionam "muito mal", nomeadamente Hemato-Oncologia, Urologia e Ortopedia.

Alguns colegas, de facto, são negligentes", referiu.

O coordenar da Unidade de Medicina Nuclear explicou, por outro lado, que está habilitado para fazer 63 tipos de exames, mas efetivamente executa apenas dois, pelo que só utiliza 15% do seu tempo em serviço, reconhecendo, no entanto, que em 2018 apenas dois exames desses tipos foram feitos no setor privado.

Rafael Macedo precisou que, por este prisma, a Unidade de Medicina Nuclear está a funcionar a 100%, tendo realizado cerca de 1.000 exames desde 2017, mas insistiu que tem capacidade para executar 2.800 por ano.

Portugal é o país da Europa menos evoluído em termos de medicina nuclear", considerou.

Entre 2009 e 2018, o Governo Regional da Madeira pagou 22 milhões de euros a uma clínica do grupo Joaquim Chaves Saúde para a prestação de serviços, sendo que um milhão e 550 mil euros visou a área da medicina nuclear e o restante - mais de 90% - cuidados de radioterapia, um serviço de que o setor público não dispõe.

Foi este contrato que lançou suspeitas na opinião pública e motivou a constituição da Comissão Eventual de Inquérito ao Funcionamento da Unidade de Medicina Nuclear, formada por deputados do PSD, PS, CDS-PP, BE e JPP, e com um prazo máximo de funcionamento de 120 dias.

Os trabalhos da comissão prosseguem hoje com a audição do diretor clínico da Clínica de Radioncologia da Madeira, Guy Vieira, e dos diretores do Serviço de Hemato-Oncologia e Endocrinologia do Sesaram, Fernando Aveiro e Silvestre Abreu.

Serviço de Saúde da Madeira repudia acusações de médico e diz não haver cirurgias canceladas

A presidente do conselho de administração do Serviço Regional de Saúde da Madeira (Sesaram) repudiou as críticas feitas pelo responsável da Unidade de Medicina Nuclear do Hospital do Funchal e sublinhou que nenhuma cirurgia foi cancelada.

Em declarações aos jornalistas, no Funchal, Tomásia Alves considerou que as acusações de Rafael Macedo ao serviço e a alguns colegas são “infundadas, falsas e injuriosas”, e referiu que “hoje foram suspensos os exames de medicina nuclear porque houve ausência do médico responsável pela unidade nos últimos dois dias”.

E nós não tínhamos informação se ele hoje viria ou não ao serviço”, referiu.

Por isso, foi decidido “suspender os exames hoje de forma a que estejam reunidas todas as condições para a serenidade da prestação” dos serviços prestados, mas “nenhum doente é prejudicado, todas as situações estão acauteladas, nenhuma cirurgia foi cancelada”.

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