Santa Maria lotado: tratamentos a doentes com cancro adiados - TVI

Santa Maria lotado: tratamentos a doentes com cancro adiados

  • LCM
  • 10 mai 2018, 08:12

Diretor do serviço de Oncologia de Santa Maria, Luís Costa, diz que tem aumentado a procura por causa da lei que abre a hipótese de o doente escolher o hospital onde quer ser tratado e queixa-se de falta de espaço e de meios humanos

O Hospital de Santa Maria está sem capacidade para tratar os doentes com cancro que têm procurado os seus serviços, já adiou tratamentos e está prestes a abrir uma lista de espera, admite o diretor da Oncologia.

Em entrevista à rádio TSF, o diretor do serviço de Oncologia de Santa Maria, Luís Costa, diz que tem aumentado a procura por causa da lei que abre a hipótese de o doente escolher o hospital onde quer ser tratado e queixa-se de falta de espaço e de meios humanos.

“Estou quase a abrir [lista de espera] porque não tenho médicos para tantos doentes nem tenho espaço. (…) Começámos na semana passada, não conseguimos tratar os doentes que estavam previstos e tivemos que adiar [os tratamentos] uma semana”, afirma Luís Costa.

O responsável da Oncologia do Hospital de Santa Maria reconhece que nunca houve qualquer situação de falta de medicação, mas diz que tem pouco espaço e meios humanos para tratar tantos doentes, sublinhando que todos os tratamentos nesta área são urgentes e que uma eventual lista de espera “não deixa ninguém sossegado”.

“Se não tenho espaço nem pessoas suficientes para fazer o trabalho, o que vou fazer?”, questiona o responsável na entrevista à TSF, reconhecendo que com o aumento da procura daquele serviço os médicos estão “atrapalhadíssimos”.

“Os médicos pensam menos tempo sobre os doentes que têm e, como é óbvio, [nestas circunstâncias] tomam piores decisões”, afirma.

Luís Costa diz que toda a gente concorda com a hipótese, criada pelo Governo, de dar ao doente a opção de escolha do hospital onde quer ser tratado, mas que tal só resulta se for possível adequar os meios de resposta ao aumento da procura.

“Falta a alocação de recursos para as necessidades que foram criadas”, considera o responsável, frisando que o serviço de oncologia de Santa Maria precisa de mais médicos para responder aos doentes que chegam e que é preciso abrir mais vagas para que os internos possam ficar.

O responsável sublinha que os 12 internos do serviço que dirige têm “muita qualidade”, que “alguns são excecionalmente bons” e lamenta não ter capacidade de competição para os manter.

“Tenho pessoas que queriam ficar no meu serviço, mas não são abertas vagas para isso. Estou cada vez com mais doentes, preciso de mais médicos, há médicos que querem ficar no serviço com o ordenado que é oferecido no sistema nacional de saúde e não são abertas vagas para as pessoas poderem ficar. Hoje despedimo-nos de uma delas, que vai embora”, lamenta.

Liga Portuguesa Contra o Cancro já reagiu às listas de espera

O presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro manifestou-se hoje muito preocupado com a hipótese de o Hospital de Santa Maria vir a ter uma lista de espera para tratar doentes oncológicos por falta de meios.

A hipótese da lista de espera para tratamento de doentes com cancro foi hoje admitida pelo diretor do serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, em Lisboa, que numa entrevista à rádio TSF diz que já na semana passada adiou tratamentos por falta de meios para responder à crescente procura.

Questionado pela Lusa, o presidente da Liga Portuguesa Contra o Cancro, Vítor Veloso, recorda que já tinha sido noticiada a existência de listas de espera para cirurgia nestes doentes, mas que se o mesmo acontecer aos tratamentos “pode fazer a diferença entre a cura e a curta sobrevivência”.

“O adiamento de tratamentos e o aumento das listas de espera de cirurgia [oncológica] pode fazer a diferença entre uma cura e uma sobrevivência pequena e com má qualidade de vida”, sublinha Vítor Veloso.

O responsável frisa ainda que esta situação decorre da falta de alocação de meios para a crescente procura provocada pela possibilidade de o doente escolher o hospital onde quer ser tratado e diz que se os hospitais do interior tivessem meios os doentes não teriam de recorrer sempre aos grandes hospitais do litoral.

“Os hospitais do interior, que poderiam perfeitamente tratar [estes doentes], deviam ser devidamente apetrechados não só em recursos humanos, mas em material pesado. Isto desviaria os doentes de acorrerem aos hospitais mais especializados que tem tratamentos de ponta”, afirmou.

“O facto de o doente poder escolher o hospital é altamente vantajoso. O erro que se tem vindo a cometer (…) é a falta de alocação de meios. É que 80% de todos os serviços especializados de oncologia estão junto do litoral”, acrescentou.

A reação da Ordem dos Médicos

A Ordem dos Médicos (OM) considerou hoje "muito preocupante" que o Hospital de Santa Maria se tenha visto obrigado a adiar tratamentos oncológicos por "falta de médicos, outros profissionais e espaço adequado".

A posição da OM surge na sequência das revelações feitas pelo diretor do serviço de Oncologia do Hospital, Luís Costa, sobre a situação ocorrida naquele hospital de Lisboa.

Em comunicado, o presidente do Conselho Regional do Sul da OM. Alexandre Valentim Lourenço, considera que "criar listas de espera em Oncologia é correr o risco de perda de vidas", o que considera "inadmissível e cujas responsabilidades são totalmente do Ministério da Saúde".

Segundo Alexandre Valentim Lourenço, a liberdade de escolha dos doentes pelo hospital onde querem ser tratados é “uma excelente medida, mas falha redondamente porque falta regulamentação legislativa, financiamento e planeamento que permitam a autonomia dos serviços e dos hospitais".

O mesmo responsável refere que, ao terem a possibilidade de escolha, os doentes procuram os hospitais que os tratam melhor e têm mais meios. Mas, se a resposta desses hospitais diferenciados não for melhorada, está-se a criar e a aumentar listas de espera, uma situação que classifica de "inaceitável" em Oncologia.

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