Vai haver mais arguidos no caso da morte dos dois militares que participavam no curso de comandos. Depois de dois enfermeiros terem sido indiciados pelo crime de omissão de auxílio, a investigação do Ministério Público (MP) prepara a constituição de mais arguidos, que pode ir até aos responsáveis máximos do curso de comandos.
Os dois enfermeiros dos comandos ouvidos esta terça-feira no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP), em Lisboa, são só os primeiros dois arguidos constituídos no processo-crime relativo às mortes de Hugo Abreu e Dylan da Silva, formandos do curso de comandos, no início de setembro. Fonte próxima da investigação do Ministério Público garantiu à TVI que a lista de arguidos não está fechada e pode mesmo chegar até aos mais altos responsáveis do curso de comandos.
Em causa, está a sucessão de incidentes ocorridos na prova de formação de 4 de setembro, no campo de tiro de Alcochete, que resultaram na morte de dois militares e na hospitalização de vários outros.
A TVI sabe que, no interrogatório desta terça-feira, a procuradora Cândida Vilar - titular do processo - quis saber o que se passou na enfermaria onde foi confirmada a morte de Hugo Abreu e onde mais de 20 formandos foram assistidos nesse dia 4 de setembro, bem como o que aconteceu antes, para que tantos militares tivessem necessitado dessa assistência médica. Afinal, as mortes e indisposições podem ter tido lugar pelo que aconteceu no terreno e não na enfermaria.
No entanto, os dois arguidos, enfermeiros, um sargento dos comandos e uma furriel, mantiveram-se em silêncio durante toda a diligência, mostrando apenas preocupação com a possível integração numa futura missão dos comandos, na República Centro-Africana. A TVI sabe que Cândida Vilar não terá gostado desta postura dos dois enfermeiros e cortado as esperanças dos enfermeiros, visto que o inquérito ainda decorre e que, para todos os efeitos, são arguidos num processo em que ainda podem vir a ser julgados.
O Ministério Público quer descobrir, por exemplo, quais as responsabilidades do médico superior hierárquico dos enfermeiros e socorristas que estavam de serviço na enfermaria do campo de tiro de alcochete. Médico que poderá engrossar a lista de arguidos nos próximos dias. A investigação aguarda ainda pelos relatórios das autópsias realizadas a Hugo Abreu e Dylan da Silva.
A investigação do DIAP e da Polícia Judiciária Militar também quer saber que ordens superiores teria este mesmo médico, por parte dos responsáveis máximos do curso, razão pela qual a constituição de arguidos poderá ir até às mais altas instâncias na formação dos comandos.
Em consequência das notícias vindas a público acerca do caso, tanto a Ordem dos Médicos como a Ordem dos Enfermeiros já confirmaram a abertura de processos de averiguação à atuação, respetivamente, do médico e dos enfermeiros visados pela investigação do Ministério Público, que, nos próximos dias, deverá avançar para a constituição de mais arguidos.