Aceitação de refugiados pelos portugueses é "excelente notícia" - TVI

Aceitação de refugiados pelos portugueses é "excelente notícia"

Milhares de migrantes resgatados nos últimos dias

Alto-comissário para as Migrações está satisfeito com estudo europeu que mostra ser Portugal o país mais aberto a acolher refugiados. E onde até a disponibilidade para os imigrantes aumentou

Uma “excelente notícia”, é como o alto-comissário para as Migrações vê a generosidade demonstrada pelos portugueses para com os refugiados.

O comentário de Pedro Calado, em declarações à Agência Lusa, incide sobre o estudo European Social Survey (ESS), com dados recolhidos em 2002/03 e 2014/15 em 18 países. O relatório mostra que Portugal é o país com maior abertura ao acolhimento de refugiados, apesar de estar entre os que mais se opõem à imigração.

A excelente notícia é que Portugal é o que mais generosidade apresenta aos refugiados. E sabendo que a questão dos refugiados é um tema recente, que tanta polémica tem levantado noutros contextos, é muito importante e salutar para a nossa sociedade perceber como os portugueses se colocam de forma generosa ao lado desse desafio, que é um desafio civilizacional”, disse o alto-comissário.

"Não parece que estejam menos disponíveis para acolher imigrantes”

Já sobre a atitude dos portugueses perante os imigrantes, revelada pelo estudo, o alto-comissário lembrou que, comparando 2002 com 2014, “os portugueses estão mais disponíveis".

Quando comparamos a disponibilidade para acolher imigrantes versus refugiados, há um fosso porque as pessoas estão hoje muito mais disponíveis para acolher refugiados, por todo o mediatismo da questão. Agora, não parece que estejam menos disponíveis para acolher imigrantes”, afirmou Pedro Calado.

Considerando ser “um pouco perigoso” comparar a atitude para uns e outros, “como se tivéssemos de escolher entre refugiados e imigrantes”, Pedro Calado afirmou que Portugal continua “felizmente” em contraciclo com a tendência para o populismo e a xenofobia que cresce em outras geografias.

A verdade é que para os imigrantes a disponibilidade aumentou, mas sobretudo para os refugiados aumentou exponencialmente, e isso parece ser a boa noticia, que deveríamos valorizar, num tempo como este”, concluiu o alto-comissário, que falava desde Genebra, onde representou Portugal na 91.ª sessão do Comité das Nações Unidas para a Eliminação da Discriminação Racial.

"Atitude mais positiva quanto aos imigrantes"

Face ao estudo European Social Survey (ESS), vários especialistas consideram que a atitude da Europa face a imigrantes e refugiados evoluiu positivamente de forma geral entre 2002 e 2014.

Há uma tendência na Europa, e em Portugal, para uma atitude mais positiva quanto aos imigrantes”, salienta Jorge Vala, do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa e também elemento da comissão que em Portugal realizou o estudo.

O investigador considera ainda que se nota uma tendência para diminuir a perceção de que os imigrantes são um perigo económico e para a segurança. Ao contrário, há uma tendência para um ligeiro aumento na visão de que são uma ameaça à cultura e identidade.

Alice Ramos, também do ICS, defendeu igualmente que o inquérito revela uma maior abertura à imigração e menor ideia de que os imigrantes são uma ameaça e também uma maior abertura ao acolhimento de refugiados.

Ainda assim, a especialista salienta ser errado pensar-se que não há crenças racistas nesta matéria. O que há é “normas antirracistas que protegem os grupos”, disse.

Não posso dizer que um negro é menos inteligente, digo antes que há negros que têm características diferentes”, exemplificou, acrescentando: “o racismo evolui, vai-se adaptando às normas e vai coexistindo com a democracia”.

Jorge Vala falou também das “perceções erradas”, que devem ser desmontadas. Como a que leva a associar imigração e criminalidade ou perigo económico, de ficar sem emprego, quando “estudos mostram que não se pode fazer essa associação”.

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