Fogo descontrolado leva Madeira a pedir ajuda, Governo envia meios - TVI

Fogo descontrolado leva Madeira a pedir ajuda, Governo envia meios

  • Redação
  • VC/CM - notícia em atualização
  • 9 ago 2016, 23:42

Unidade de reforço com bombeiros, GIPS e operacionais do INEM vai para a ilha nesta terça-feira, num total de 110 operacionais. Fogo está fora de controlo e o pânico domina a população

A Madeira ativou o plano de emergência e pediu reforços ao continente para combater os incêndios que estão a assolar a ilha de forma preocupante, pedido aceite pelo Governo, confirmou o primeiro-ministro, nesta terça-feira, em conferência de imprensa na Proteção Civil, em Carnaxide. 

Inicialmente, a força especial era constituída por 36 profissionais - dez bombeiros, dez elementos da Força Especial Bombeiros (FEB) da Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), dez elementos do Grupo de Intervenção Proteção e Socorro da GNR (GIPS), cinco elementos do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e três elementos de apoio da ANPC -, mas foi reforçada com mais elementos, totalizando agora 110 operacionais.

Por volta das 22:30, saiu de Lisboa, num avião da Força Aérea, a primeira equipa de 36 elementos. Mais duas vão partir de Lisboa nas próximas horas, durante a madrugada, em mais dois aviões da Força Aérea, com 74 operacionais a bordo.

O Governo mobilizou, ainda, elementos do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, fazendo ainda parte das equipas outros bombeiros voluntários e profissionais, assim como médicos, enfermeiros e psicólogos do INEM.

Além da força especial, vai seguir também equipamento de ajuda ao combate.

O fogo está novamente descontrolado e, segundo o último balanço oficial, há centenas de desalojados, dois feridos graves, pelo menos 37 casas ardidas, evacuações em dois hospitais, lares de idosos, alguns hotéis e avultados danos materiais.

O vento forte e as elevadas temperaturas fizeram com que o fogo que lavra nas zonas altas do concelho do Funchal desde a tarde de segunda-feira descesse até ao centro da cidade, provocando algum caos e pânico entre a população.

O trânsito esteve caótico, com muitos congestionamentos na baixa do Funchal ao final da tarde. A via rápida esteve encerrada, mas já reabriu ao trânsito. Condicionadas estão as entradas da cidade.

O fogo chegou à zona da igreja de São Pedro, na baixa, depois de ter consumido um edifício devoluto, confirmou a Polícia de Segurança Pública.

Na zona da Pena arderam várias casas.

Os relatos dão conta de um “cenário dantesco” e de uma situação “completamente descontrolada”, com muitos focos ativos espalhados pela cidade, entre os quais o Til, Rochinha, Penteada, tendo sido audível o som de algumas explosões.

Está também a ser muito difícil respirar no Funchal, devido ao tempo quente e ao denso fumo, com as pessoas a usarem máscaras. Têm sido audíveis várias explosões, depois de a situação se ter agravado ao final da tarde.

O Serviço Regional de Proteção Civil já apelou às pessoas que estão no Funchal e “que não se encontram nas zonas afetadas pelos vários focos de incêndio ativos que permaneçam nas suas habitações e, especialmente, que não circulem utilizando viaturas”.

As zonas da Pena, da Rochinha, da Boa Nova e Til são alguns locais de onde surgem relatos de problemas devido ao fogo.

O presidente da Câmara do Funchal disse à Antena 1 que a capacidade de realojamento do Regimento de Guarnição N.º3, o quartel do Funchal, onde foram realojadas cerca de três centenas de pessoas, está esgotada.

Os hospitais dos Marmeleiros e João de Almada foram evacuados.

O antigo candidato comunista às presidenciais Edgar Silva teve de fugir de casa e diz que há centenas de pessoas deslocadas para a baía do Funchal, criticando as autoridades por "mentirem às pessoas".

Edgar Silva relatou à agência Lusa que se refugiou junto ao mar, na praia da Barreirinha, extremo oeste da baía do Funchal, e afirmou que consigo estão cerca de 200 pessoas.

Na zona velha, junto ao mar, há entre 400 e 500 pessoas, sobretudo turistas, sem qualquer tipo de informação, completamente desnorteados, não têm para onde ir, pessoas que estavam aqui na zona velha e não sabem como regressar ao hotel, perderam todos os apoios”, explicou.

Mas tamanho descontrolo não era esperado.

Pelas 16:30, o presidente do Governo regional assegurava que, naquela altura, a região tinha "os meios necessários” para combater o fogo e que a situação estava “perfeitamente controlada” e “relativamente consolidada”. No entanto, a situação agravou-se nas horas seguintes e a reportagem da TVI confirmou-o no local (ver vídeo em cima). 

O cenário complicou-se sobretudo a partir das 18:00, devido ao aumento da intensidade do vento e à alteração da sua direção. O presidente da câmara do Funchal, Paulo Cafôfo, assumiu existir "fogo descontrolado" em algumas zonas, designadamente Barbosas e no Curral dos Romeiros, na zona alta do concelho. Nesses locais, há pessoas a serem retiradas de casa, cita a Lusa.

Também as zonas da Choupana, do Hospital João de Almada e de Santa Luzia geram preocupação entre as autoridades. Este hospital não foi evacuado, mas alguns familiares retiraram já doentes, indicou o autarca. Na zona da Choupana, um hotel foi também evacuado.

A ministra da Administração Interna, Constança Urbano de Sousa, contactou as autoridades da Madeira ao início da tarde, “disponibilizando todos os meios" caso a situação se agravasse, segundo indicou o próprio presidente do Governo Regional Miguel Albuquerque. O pedido de apoio acabou por chegar ao final da tarde.

Miguel Albuquerque: "situação não está controlada"

O presidente do Governo da Madeira, Miguel Albuquerque, afirmou ao final da noite de terça-feira que os incêndios no Funchal e noutros pontos da ilha da Madeira “não estão debelados” e que a situação é "periclitante".

O líder madeirense, que falava perto das 24:00 de terça-feira, fazia o último balanço do segundo dia dos incêndios, que têm múltiplas frentes ativas. Esta noite o fogo desceu à baixa do Funchal, depois de ter deflagrado na tarde de segunda-feira na zona alta, em São Roque.

Os incêndios já provocaram centenas de desalojados, dois feridos graves e evacuações de dois hospitais, lares de idosos, alguns hotéis. Há “avultados” danos materiais.

“Os incêndios não estão debelados”, declarou o responsável, considerando que “a situação é periclitante e necessita de uma grande atenção por parte dos corpos de intervenção”, porque os focos “não estão controlados” e as condições climatéricas adversas vão manter-se nas próximas horas – vento e temperaturas elevadas.

Um balanço provisório aponta para 37 habitações afetadas pelo fogo, mas Miguel Albuquerque admite que o número possa ser superior, devido aos vários focos que surgiram ao início da noite na zona mais baixa do Funchal.

Segundo o governante madeirense, cerca de 300 pessoas estão provisoriamente alojadas no Regimento de Guarnição do Funchal, estando outras a ser deslocadas para um abrigo na escola básica da Nazaré.

Muitas dezenas de utentes de vários lares, entre os quais o de Santa Isabel e Vale Formoso, também foram retirados e acolhidos noutras instituições, bem como os pacientes internados em dois hospitais (Marmeleiros e João de Almada), referiu.

Vinte estrangeiros de uma das unidades hoteleiras afetadas pelos incêndios no Funchal foram deslocados para o Estádio dos Barreiros (do Marítimo).

O líder regional indicou que existe um outro foco de incêndio preocupante, no concelho da Calheta, na zona oeste da ilha, tendo sido necessário evacuar o centro de saúde da localidade e transferir as pessoas para a unidade do município da Ribeira Brava.

Os bombeiros estão a combater outro foco na zona do Paul da Serra, Ponta do Sol, e estão também a tentar impedir que as chamas cheguem à zona do Rabaçal (Calheta), um dos pontos mais procurados pelos turistas.

A prioridade é para atender à salvaguarda de vidas humanas”, disse o governante, sublinhando que será necessário “tentar socorrer da ajuda do Estado para fazer face a danos de natureza pública e privada”.

O social-democrata sublinhou que a noite vai ser de vigilância, pois os vários focos no concelho do Funchal podem “reacender ou surgir em qualquer lado”.

Funcionários públicos dispensados

O Governo Regional da Madeira anunciou hoje a dispensa dos funcionários públicos que trabalham no centro do Funchal, na quarta-feira de manhã, para evitar um grande afluxo de pessoas na cidade, devido à situação provocada pelos incêndios.

O secretário regional das Finanças e Administração Pública, Rui Gonçalves, adiantou que esta medida abrange os funcionários que “desempenhem funções que não são imprescindíveis” para “combater este flagelo que está a atingir a Madeira e mais especialmente o Funchal”.

O responsável apontou que o objetivo é que “menos pessoas se dirijam ao centro do Funchal”, pelo que muitos organismos da administração pública regional não vão funcionar na quarta-feira.

Rui Gonçalves realçou que o “ar está irrespirável” e que “convém que não haja grande afluxo de população para o centro do Funchal até que as coisas voltem à normalidade”.

Açores disponibilizam ajuda

A Madeira acionou o Fundo de Socorro Social no valor de 163 mil euros, "numa deliberação do governo para apoio à construção de habitações destruídas ou danificadas e para reabilitação de realojamentos”, adiantou, ao início da tarde, o presidente do Governo regional.

O programa comunitário Proderam (Programa de Desenvolvimento da Região Autónoma da Madeira) também contempla medidas para recuperação de terrenos agrícolas afetados pelos incêndios, explicou ainda.

O presidente do Governo dos Açores disponibilizou meios da Proteção Civil ao executivo da Madeira. Numa mensagem enviada a Miguel Albuquerque, Vasco Cordeiro manifesta solidariedade e disponibilidade para prestar auxílio que o Governo regional da Madeira "entender necessário ou adequado", colocando também à disposição do executivo madeirense os “meios existentes no Serviço Regional de Proteção Civil e Bombeiros dos Açores, no âmbito do dever de solidariedade e dando seguimento ao que ficou consagrado no protocolo de cooperação assinado entre os dois executivos a 1 de fevereiro".

Cáritas lança campanha para ajudar Madeira

A Cáritas Portuguesa lançou esta noite uma campanha de angariação de fundos para ajudar a população afetada pelos incêndios da Madeira, tendo aberto uma conta bancária para quem quiser contribuir, adiantou à agência Lusa o presidente da organização.

Eugénio Fonseca lamenta os incêndios que têm deflagrado nos últimos dias no norte do país e, em especial, na Madeira.

“Nesta hora de aflição para os nossos compatriotas no norte do país e em especial na cidade do Funchal, na Ilha da Madeira, a Cáritas, em resposta às dezenas de pessoas que a têm contactado, abriu uma conta solidária com o nome “Cáritas ajuda a Madeira” - 0035 0697 0059 7240130 28, da CGD -, para agilizar o apoio de emergência necessário para as populações mais atingidas”, anuncia o presidente da instituição.

Sublinhando que os fogos que estão a deflagrar um pouco por todo o país são, “infelizmente, uma quase rotina” dos verões em Portugal, o presidente da Cáritas apela ao trabalho das autoridades que “têm o dever de descobrir os responsáveis por estes atos criminosos para que possam ser exemplarmente punidos”.

Para a Cáritas Portuguesa, “é fundamental que a questão da defesa da floresta seja encarada como uma prioridade no nosso país”.

No comunicado, a Cáritas Portuguesa salienta ainda o "trabalho generoso e heróico dos bombeiros que, de norte a sul do país, e ilhas, têm combatido os incêndios até à exaustão e arriscando, quase sempre, a própria vida".

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