O problema do "efeito Pedrógão" nos fogos de outubro - TVI

O problema do "efeito Pedrógão" nos fogos de outubro

  • VC com Lusa
  • 20 mar 2018, 20:25

Relatório da comissão técnica independente concluiu que houve uma "vulgarização da determinação dos estados de alerta", que resultou na sua desvalorização, e que várias pessoas abandonaram as suas localidades sem ordem prévia de evacuação

Constatou-se um "efeito Pedrógão" nos fogos de outubro. O relatório da comissão técnica independente, que foi divulgado esta segunda-feira, conclui que houve uma "vulgarização da determinação dos estados de alerta" depois daquele grande incêndio de junho, que resultou na sua desvalorização. Ao mesmo tempo, em outubro várias pessoas abandonaram as suas localidades sem ordem prévia de evacuação.

"Da audição dos senhores comandantes [de 51 corporações de bombeiros dos cerca de 40 concelhos mais afetados] foi praticamente unânime que em 2017 houve uma vulgarização da determinação dos estados de alerta no período posterior ao incêndio de Pedrógão Grande, resultando na sua desvalorização", refere a CTI.

[Face a esta desvalorização] o processo de comunicação dos avisos meteorológicos do IPMA e dos alertas da ANPC deverá ser reavaliado, tendo em vista assegurar o cabal cumprimento dos respetivos objetivos junto dos destinatários".

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No período de Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Florestais de 2017, houve "109 dias de estado alerta, ou seja, o efeito pretendido junto das forças, o estado de prontidão e a capacidade de mobilização, pode acabar por não reagir em conformidade".

"Acresce ao já referido o facto de a ANPC [Autoridade Nacional de Proteção Civil] ter determinado para terceiros a elevação do estado de prontidão e grau de mobilização, sem que no âmbito das suas competências tenha acompanhado o mesmo nível de alerta, nomeadamente quanto à mobilização de meios aéreos", criticam os especialistas.

A CTI recorda também que no comunicado técnico operacional (CTO) de 14 de outubro, às 15:00, onde foi determinada a passagem de alerta especial para o nível vermelho, era referido que na madrugada de segunda-feira (16 de outubro) seria previsível a ocorrência de precipitação.

Ora sabe-se, pela experiência anterior, que nas vésperas do aviso das primeiras chuvas existem determinadas práticas que concorrem para o aumento do número de ignições, seja para renovação de pastagens, seja por outra motivação, pelo que entendemos que essa referência à chuva, no referido CTO, era desnecessária. A chuva, no caso em apreço, até chegou com 24 horas de atraso".

Se a informação fluiu do patamar nacional para o distrital e municipal, já na transmissão das comunicações para a população "não existe tanta certeza que os avisos e demais informações cumpram o seu principal objetivo, daí a avaliação deste procedimento que importa revisitar".

Alertas desvalorizados

Quanto aos comportamentos das populações, também "alguns" foram provocados pelo tal efeito Pedrógão, ou seja, "muitos locais foram antecipadamente abandonados, por meios próprios, sem ordem prévia de evacuação".

"É testemunho deste comportamento o que se passou em Castelo de Paiva, onde mais de 1.000 pessoas se juntaram no quartel dos Bombeiros, situação que se repetiu em Oliveira do Hospital, Oliveira de Frades, Loriga [concelho de Seia], só para citar alguns", exemplifica o relatório.

Assinala-se também que o facto de os grandes incêndios de 15 de outubro terem ocorrido a um domingo permitiu, para além de uma disponibilidade quase total dos corpos de bombeiros, que se concentrassem mais pessoas nos aglomerados populacionais.

[Tal possibilitou] que, em muitas circunstâncias, tivessem sido os civis, que se encontravam nestes territórios, a fazerem, sem qualquer apoio, a defesa perimétrica dos seus núcleos populacionais".

 

 

 

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