Mau combate às chamas permitiu que fogo no Algarve alastrasse - TVI

Mau combate às chamas permitiu que fogo no Algarve alastrasse

Incêndio em Bico Alto, São Brás de Alportel (foto enviada por José Filipe Sobral)

Especialista aponta causas para o quarto maior fogo registado em Portugal

O vento e um mau combate às chamas permitiram que o fogo que atingiu São Brás de Alportel, Algarve, se tivesse alastrado por vários hectares, tornando-se no quarto maior incêndio registado em Portugal, defende um investigador universitário.

«No primeiro dia, o incêndio estava mais ou menos dominado, mas no segundo dia teve uma propagação extremamente rápida. Em poucas horas, o vento muito forte que se fez sentir fez com que aquele fogo se tornasse o quarto maior incêndio de sempre em Portugal», afirmou à Lusa, neste sábado, Paulo Fernandes, professor do departamento de Ciências Florestais na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD).

«Com vento, é muito fácil um incêndio propagar-se e este foi um incêndio muito dirigido pelo vento», acrescentou.

Frisando não ter estado no local na altura do incêndio, em julho, o especialista já visitou a zona atingida pelas chamas e faz a sua análise com base no que viu e no que leu.

«Pelo que vi no local, creio que houve muitas oportunidades de combater melhor o incêndio. O combate podia ter sido melhor usando-se outros meios, por exemplo. Neste tipo de incêndios são muito úteis os meios mecânicos como as bulldozers e as máquinas de rasto. Também podia ter sido feito contra-fogo nas áreas mais de flanco», argumentou o professor.

Paulo Fernandes não atribui qualquer responsabilidade na propagação do incêndio ao tempo de seca, alegando que é uma zona «muito árida, com solos muito pobres».

«Não é uma zona com muito combustível», frisou o especialista, acrescentando que «a vegetação daquela zona está adaptada à secura».

Contactada pela Lusa, a meteorologista Ilda Novo Simões entende que a situação de seca, «conjuntamente com condições meteorológicas que favoreçam a rápida progressão dos incêndios, como a secura do ar e a intensidade do vento, aumentam a adversidade da situação para o combate aos incêndios florestais».

Numa análise à situação meteorológica no Algarve, Ilda Novo Simões indicou que, em julho, «o índice de secura dos combustíveis situava-se acima do percentil 90».

O incêndio que atingiu São Brás de Alportel consumiu 52 por cento da área florestal do concelho, segundo um relatório da câmara municipal.

O município de São Brás de Alportel tem uma área total de 15.325 hectares, 7.168 dos quais foram dizimados pelas chamas.

Da área total ardida, 69 por cento estava classificada como área florestal, 29 por cento dos terrenos estavam incultos, enquanto 1,47 por cento da área ardida era utilizada para a agricultura e 0,44 por cento estavam dedicados a área social.

Pelo menos dez casas ficaram totalmente destruídas e mais de 60 famílias foram afetadas pelas chamas.

O alerta de incêndio foi dado a 18 de julho, em Catraia, concelho de Tavira, tendo alastrado durante 72 horas até São Brás de Alportel.
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