Covid-19: moradores dos bairros centrais de Lisboa "revoltados" com ajuntamentos noturnos - TVI

Covid-19: moradores dos bairros centrais de Lisboa "revoltados" com ajuntamentos noturnos

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  • 25 mai 2021, 18:05
Lisboa deserta no primeiro dia do encerramento de escolas

"As pessoas estão a ir para a rua e a achar que o risco já é muito pequeno e não querem saber", diz associação de moradores

 Associações de moradores de bairros do centro de Lisboa estão "revoltadas" com o regresso dos ajuntamentos noturnos, sobretudo de jovens, para consumo de álcool nas ruas, e temem o aumento de casos de covid-19 nos próximos meses.

Desde que se iniciou a fase de desconfinamento em Portugal que antigos bairros lisboetas, como o Cais do Sodré e o Bairro Alto, voltaram a receber centenas de jovens e turistas nas ruas e em bares para aproveitarem as noites de convívio, de acordo com associações de moradores contactadas pela Lusa.

A partir das 16:00 já as aglomerações são muitas, os bares estão a funcionar a partir da hora do almoço, com música a debitar para a via pública", disse Isabel Sá da Bandeira, moradora de um dos bairros e representante da Associação Aqui Mora Gente.

O sentimento de revolta dos moradores agrava-se com o fecho de ruas e cortes de acesso a outras, com o aumento das esplanadas nos passeios, com os "gritos nas ruas até às tantas da manhã" e o cheiro de urina que fica nas ruas depois das noites de festa, frisou.

Também Luís Paisana, da Associação de Moradores da Freguesia da Misericórdia concordou que "tem havido alguns excessos", sobretudo no Bairro Alto e em São Pedro de Alcântara.

As pessoas estão a ir para a rua e a achar que o risco já é muito pequeno e não querem saber. Principalmente aos fins de semana e agora, com o tempo melhor, há uma tendência para voltar um bocadinho à normalidade, que era, do ponto de vista dos moradores, uma anormalidade, porque havia um excesso de pessoas, bebidas muito baratas e um comportamento às vezes agressivo e muito fora do normal", salientou.

Luís Paisana descreveu que são sobretudo os jovens aqueles "que têm um comportamento mais extremo", sem uso de máscara ou sem cuidados, que querem voltar a beber como bebiam antes da pandemia, o que não é compatível com um bairro residencial, nem com um comércio com um mínimo de qualidade.

Já Isabel Sá da Bandeira destacou que "os moradores estão chocados com o que se passa nas ruas", onde se passou "de oito para 80".

Os moradores compreendem "que as pessoas estejam sequiosas de sair e socializar, mas o que se passa é verdadeiramente chocante, é como nunca tivesse existido um confinamento", refere Isabel Sá da Bandeira, salientando que, ao ver o que se passa nestes bairros, "é impossível que não haja um aumento dos casos" de covid-19.

Para a Associação Aqui Mora Gente, as autoridades competentes têm a obrigação de fiscalizar durante o dia, mas sobretudo à noite, os ajuntamentos que colocam em causa a saúde pública e especialmente os residentes dos bairros, o que não tem acontecido.

Por seu lado, Luís Paisana destacou que o controlo do consumo de álcool nas ruas do Bairro Alto é muito difícil.

Os próprios comerciantes tentam controlar isso, mas continua a haver mochileiros a vender garrafas noite fora. As pessoas têm sempre uma forma de continuarem a consumir álcool relativamente barato. Não é fácil", disse.

Luís Paisana salientou ainda que os moradores têm informado a Junta de Freguesia e a Câmara de Lisboa para "ver se há alguma moderação e se se aproveita a oportunidade da pandemia para que o movimento de pessoas seja mais dentro de porta, com menos quantidade".

É uma oportunidade para que alguma coisa mude face ao que acontecia antigamente, o que não quer dizer que não queiramos que não haja comércio ou bares, mas com moderação, com menos concentrações, com equilíbrio. O que sempre quisemos foi o equilíbrio entre moradores, comerciantes e pessoas que vão desfrutar a noite", reforçou.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 3.475.079 mortos no mundo, resultantes de mais de 167,1 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 17.021 pessoas dos 845.840 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

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