Covid-19: estudo sobre imunidade no Instituto Ricardo Jorge alargado a menores de 10 anos - TVI

Covid-19: estudo sobre imunidade no Instituto Ricardo Jorge alargado a menores de 10 anos

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  • publicado por Andreia Miranda
  • 25 abr 2020, 08:56
Covid-19: plasma

Inquérito sorológico arrancará em maio e tem como finalidade conhecer a percentagem de pessoas que têm anticorpos contra o novo coronavírus SARS-CoV-2

O inquérito piloto para conhecer o nível de imunidade ao novo coronavírus em Portugal arrancará em maio e vai envolver 2.070 pessoas, entre as quais 350 crianças até aos 10 anos, avançou à Lusa um investigador do INSA.

O coordenador do Departamento de Epidemiologia do Instituto Nacional Dr. Ricardo Jorge (INSA), Carlos Dias, explicou que a amostra desenhada pretende representar a população portuguesa de todas as idades de modo a obter estimativas nacionais, estratificadas por região de saúde e por grupos etários específicos.

O inquérito sorológico tem como finalidade conhecer a percentagem de pessoas que têm anticorpos contra o novo coronavírus SARS-CoV-2, que vai ser calculada a partir de uma amostra que envolve 350 crianças menores de 10 anos e 1.720 pessoas com idades superiores, adiantou o investigador.

Os investigadores consideraram que seria “muito importante” estudar também “as crianças abaixo dos 10 anos porque é um grupo que não tem sido muito atingido por esta pandemia e, portanto, importa perceber se isso se reflete no maior tipo de anticorpos ou não.

Segundo Carlos Dias, “o primeiro estudo vai servir simultaneamente como estudo-piloto e como primeiro inquérito e vai provavelmente ser feito durante o mês de maio”, contando com a colaboração de uma rede de cerca de 120 laboratórios de análises clínicas ou hospitais parceiros do projeto.

Os laboratórios vão convidar os utentes que se dirigem para fazer análises de rotina de controlo dos seus problemas para “doarem um pouquinho de sangue” para depois no Instituto Ricardo Jorge se poder determinar a concentração de anticorpos contra este vírus.

Os participantes no estudo, poderão receber os resultados do teste serológico, se assim o entenderem.

“Nas crianças como a colheita de sangue é sempre um ato mais difícil que impressiona as crianças e os pais, etc., vamos socorrer-nos dos serviços hospitalares de pediatria que já colaboram com o Laboratório de Doenças Respiratórias do INSA para que sejam amostras recolhidas nesses locais por outros assuntos”, explicou.

A propósito de o estudo poder estimar a percentagem da população imune à covid-19, o investigador afirmou que “a questão da imunidade é uma questão complexa” e que se trata de um vírus novo para o qual ainda não existe vacina.

“Quando falamos em imunidade aquilo que nós pensamos é que eu estou imune a uma doença, ou seja, se o microrganismo me infetar o meu corpo reage contra ele. Ora, entre o microrganismo me infetar e o meu corpo reagir contra ele, que é a resposta normal, existem, no entanto, várias fases, vários fatores que podem afetar essa resposta”, referiu.

O investigador explicou que essa reposta “pode ser mais intensa, menos intensa, pode ser feita já com memória anterior desse contacto ou sem memória. Ora este vírus é novo, portanto, vamos ter muitas pessoas que nunca contactaram com este vírus”.

Por outro lado, não existe ainda uma vacina para o corpo ter memória contra este vírus. “É cedo ainda para dizermos que se nesta amostra verificarmos a existência de pessoas com anticorpos contra este vírus, isso significa que elas estão imunes contra este vírus e, portanto, terão formas menos graves desta doença, não terão doença, etc”, adiantou.

“O que vamos ter é a proporção de pessoas na população, uma estimativa, que no seu sangue tem anticorpos, tem moléculas que reconhecem o vírus e que em princípio lhe estarão a conferir algum grau de imunidade, mas esse grau pode ser muito fraco e até muito forte”, salientou.

O investigador referiu que são esses dados e essa informação que fazem com que sejam necessários mais estudos, além deste.

Segundo Carlos Dias, este trabalho será repetido regularmente, fazendo uma série de estudos transversais, de acordo com a evolução da epidemia de modo a monitorizar a evolução do nível de anticorpos contra SARS-CoV-2 na população portuguesa.

É necessário cuidado no regresso à atividade

O investigador do INSA Baltazar Nunes defendeu que é necessário algum cuidado e contenção quando o país retomar gradualmente a atividade para evitar um crescimento exponencial da Xovid-19, mas defendeu ser importante que a população ganhe imunidade.

O crescimento do número de casos de infeção pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, que provoca a doença covid-19, quando os portugueses retomarem a atividade em maio “é algo que tem que estar nas nossas mentes porque basicamente a dinâmica da infeção depende de vários fatores”, disse à agência Lusa o coordenador da Unidade de Investigação Epidemiológica do Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge (INSA).

“Um deles é a quantidade de indivíduos que ainda podem ser infetados, ou seja, que não têm anticorpos, que não estão protegidos contra a doença e pelo número de casos que temos da população temos uma perceção de que este número ainda é muito grande”, afirmou o epidemiologista.

Outro fator está associado ao número de contactos que as pessoas têm. “Se nesta abertura da sociedade gradual for possível manter um distanciamento social que seja compatível com alguma atividade económica, este número de contactos há de ser diminuto, e não há de ser igual àquele que nós tínhamos antes do dia 16 de março quando ainda não estávamos despertos para a situação”, salientou Baltazar Nunes.

Além do distanciamento social, se forem mantidas outras medidas de controlo de infeção, como lavagem das mãos e o uso de máscara em contextos mais fechados “é possível conter a disseminação a um ponto que não se torna igual ao início, mas que não haja crescimento total vai ser difícil que isso aconteça”, adiantou.

Baltazar Nunes defendeu que “o ideal” é que esse crescimento seja lento para permitir que o SNS possa continuar a conseguir tratar novos doentes.

Para o investigador, é preciso evitar que haja “uma disrupção do Serviço Nacional de Saúde”, mas também que se ganhe em termos epidemiológicos alguma imunidade da população.

“Indivíduos abaixo dos 70 anos ou indivíduos sem comorbilidades, em que a maior parte deles apresenta sintomatologia muito leve e alguns até assintomáticos, seria importante que houvesse algum ganho de imunidade na população sem que isso entrasse em descontrolo e que levasse a que os outros grupos da população fossem atingidos e a epidemia ficasse mais descontrolada”, defendeu.

Por isso, salientou, “a ideia é tentar manter efetivamente algum cuidado e alguma contenção durante o processo de abertura” da atividade no país.

Sobre o comportamento da curva epidemiológica, disse que tem estado estável. “Se tem diminuído, tem diminuído muito lentamente”.

Teve um crescimento exponencial numa primeira fase, até 16 de março, em que foram introduzidas “as medidas de saúde pública mais restritivas”.

A partir dessa data, quando as escolas fecharam - apesar de algumas já o terem feito e algumas empresas terem colocado os funcionários em teletrabalho, e depois do dia 22 de março, quando foi declarado o estado de emergência, esse crescimento que estava exponencial começou a diminuir.

“A percentagem de novos casos que surgia em cada dia começou a ser muito menor” e desde essa altura “a curva tem estado estável”, notou.

Aparentemente, por vezes, está a decrescer, mas depois quando surgem “alguns surtos de maior dimensão” como aconteceu num ‘hostel’, em Lisboa, ou em lares, acontece um aumento, mas que pode estar associado a circunstâncias específicas de surtos localizados.

“Mas isso não pode significar que temos uma disseminação na população a uma velocidade muito maior. Por isso, por vezes, é complicado perceber por uma curva epidémica que é nacional a dinâmica depois da infeção local ou regional”, sublinhou. Baltazar Nunes.

Portugal contabiliza 854 mortos associados à covid-19 em 22.797 casos confirmados de infeção, segundo o boletim diário da Direção-Geral da Saúde (DGS) sobre a pandemia.

Das pessoas infetadas, 1.068 estão hospitalizadas, das quais 188 em unidades de cuidados intensivos, e o número de casos recuperados é de 1.228.

Portugal cumpre o terceiro período de 15 dias de estado de emergência, iniciado em 19 de março, e o Governo anunciou hoje a proibição de deslocações entre concelhos no fim de semana prolongado de 01 a 03 de maio.

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