Horta e Costa diz-se responsável por GES nos negócios de equipamentos - TVI

Horta e Costa diz-se responsável por GES nos negócios de equipamentos

Início do julgamento do processo que envolve o antigo presidente dos CTT, Carlos Horta e Costa (PAULO NOVAIS / LUSA)

Colaborador da empresa ESCOM reconheceu ter aconselhado os responsáveis germânicos a proporem o navio submersível «mais barato» para fazer frente à forte concorrência francesa e deixar por terra os restantes contendores

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O colaborador da empresa ESCOM Miguel Horta e Costa, consultor do consórcio alemão que forneceu submarinos a Portugal, confessou-se esta quarta-feira militar falhado, numa atribulada audição parlamentar, assumindo-se como mentor da participação do Grupo Espírito Santo (GES) naqueles negócios.

A inquirição de mais de três horas, perante a Comissão Parlamentar de Inquérito aos Programas de Aquisição de Equipamentos Militares (aeronaves EH-101, P-3 Orion, C-295, F-16, torpedos, submarinos U-209 e blindados Pandur II), foi interrompida diversas vezes pelo toque do telemóvel do autodenominado perito em armas e outros equipamentos, que se disse mero «homem das máquinas», até uma «pausa técnica» de cinco minutos para um telefonema e, finalmente, a intervenção de uma funcionária da Assembleia da República para silenciar o aparelho.

A dado passo, os deputados do PCP Jorge Machado e do PS Neto Brandão protestaram com a mesa, quer por se tratar de um inquérito que requer «dignidade» e não «de uma conversa de café», quer pelo seu caráter para-judicial, queixando-se da falta de respostas concretas, tendo o depoente já sido admoestado pela juíza responsável no processo judicial relacionado, no qual foi testemunha, por se esquivar a questões.

«Ficaria mais confortável em não responder sobre esse assunto», limitou-se a dizer quando questionado sobre se o designado «acordo de compensação», entre uma das empresas do consórcio germânico (Ferrostaal) e um conglomerado de congéneres lusas (ACEICA) dedicadas à indústria automóvel, tinha servido para legalizar faturas fictícias de alegadas contrapartidas por realizar, versão que confirmara em tribunal.

Miguel Horta e Costa descreveu uma predileção, «desde miúdo», por material bélico e declarou ter sito por sua iniciativa, depois de estudar a economia e a banca portuguesas, que a ESCOM, administrada por um irmão, Luís, entrou nas negociações das contrapartidas, justificando o facto pela grande implantação do antigo Banco Espírito Santo junto das pequenas e médias empresas portuguesas.

«Logo a seguir ao 25 de abril, tentei entrar nas Forças Armadas, mas já era velho de mais (26 anos) e fui procurar outra coisa. Achei que havia ali uma oportunidade. O equipamento militar nos anos 80 estava obsoleto. Portugal precisava de renovar. Os outros países não vendiam porque diziam que iria ser usado nas guerras em África. Gostava muito da área militar, interessei-me, corri a Europa toda e não só, nas feiras, e conheci muita gente do meio», disse.

Segundo o ex-consultor, que iniciara funções na ESCOM em meados da década de 1990 e referiu auferir 5.000 euros por mês sem outras retribuições, «não há hipótese nenhuma de fazer contrapartidas sem ganhar os concursos públicos».

«Através delas (contrapartidas) fomos buscar o pacote todo. Quando a ESCOM aceita pegar no novo aeroporto de Lisboa e aí há os primeiros contactos com a Ferrostaal, eu tento trazer também os submarinos. Os advogados até eram os mesmos (Vieira de Almeida e Associados), foi feito ao mesmo tempo», revelou, adiantando ter participado em vários outros concursos, embora só havendo negócio nos casos dos submarinos U-209 e dos helicópteros EH101.

Horta e Costa reconheceu ter aconselhado os responsáveis germânicos, num primeiro momento, a proporem o navio submersível «mais barato» para fazer frente à forte concorrência francesa e deixar por terra os restantes contendores - «até se dizia que era um Volkswagen com bancos de madeira» -, admitindo ainda a troca das especificações dos submarinos U-209 pelas dos U-214, já a meio do processo, só na «guerra» com o fabricante gaulês.

«Nas contrapartidas, o grande problema não está nos estrangeiros nem na indústria portuguesa. De cada vez que havia uma mudança de Governo, tudo o que tinha sido feito era 'torrado'. Era impossível haver continuidade e manter um projeto para além de uma legislatura», lamentou.
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