Suicídio: empurrão ou mão amiga - TVI

Suicídio: empurrão ou mão amiga

Suicídio: empurrão ou mão amiga

A Internet incentiva o suicídio ou pode ajudar quem está em sofrimento? Em Portugal, é a segunda causa de morte entre os 15 e os 24 anos de idade. Saiba reconhecer os sinais e o que dizer a quem pensar matar-se

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Uma rápida pesquisa no Google leva-nos a histórias trágicas, pactos de morte e até à transmissão, em directo, de um suicídio. Há chats onde só a incitação é permitida, num mundo onde a Internet traz boas e más notícias. Há mais de 100 mil sites sobre o suicídio, a segunda causa de morte na faixa etária entre os 15 e os 24 anos de idade em Portugal.

Os números são preocupantes e a temática do suicídio e a Internet foi abordada esta terça-feira na Fundação Portuguesa das Comunicações num ciclo de debates onde especialistas falaram dos sinais de alarme a que devemos estar atentos, como a Internet pode ajudar quem está em sofrimento e como a rede «formata o suicídio».

Se o suicídio «é a forma mais violenta de comunicação», os especialistas querem analisá-la através do «maior motor de busca existente», diz o moderador Reginaldo de Almeida, abrindo o debate a um tema ainda pouco estudado em Portugal.

O número de suicídios desceu na década de 90, mas de 1998 a 2003 aumentou. Será por culpa da Internet? Os especialistas não têm a resposta ainda.

Falar ou teclar pode ajudar

Ao inserirmos a palavra no motor de busca chegamos a sites que auxiliam pais e amigos a detectar os sinais que podem impedir um suicídio. Mas há mais a fazer deste meio global. Em Portugal há linhas de apoio telefónico, como a linha SOS, mas no estrangeiro já existem sites que funcionam 24 horas por dia onde especialistas interagem com cibernautas e dizem as palavras certas a quem apresenta este problema.

O que dizer a quem apresente tendências suicidárias é um dos estereótipos desmontados por Manuela Correia. A psiquiatra explicou «é errado dizer que não se deve falar sobre o tema. Pelo contrário, as pessoas que estão em sofrimento, e que pensam em matar-se, precisam de alguém que lhes fale sobre o assunto».

Pedro Frazão, outro dos convidados deste ciclo de debates «Falar Global», o programa da SIC Notícias que inspira este ciclo, explica que «a pessoa que está em sofrimento sente como um grande alívio quando lhe é dada a possibilidade de falar sobre o que sente». A Internet, via salas de conversação ou mesmo blogs, pode «ter um papel importante, facilitando a comunicação».

E pode ser um meio «preventivo e educativo», explicou Manuela Correia. «É possível em chats tentar desencorajar o suicídio e ajudar as pessoas que estão em sofrimento».

Apesar de não se poder «diabolizar a Internet» é preciso pensá-la como um potente multiplicador», explicou o psiquiatra João Hipólito. E os fenómenos de mimetismo devem ser levados em conta, tanto pela rede como por todos os meios de comunicação. Apresentando como exemplo um blog canadiano onde os cibernautas podem colocar perguntas sobre «como se pode suicidar um adolescente de 13 anos», recebendo respostas de outros utilizadores com sugestões, o psiquiatra acrescentou que «todos somos potenciais suicidas», apesar de existirem psicopatologias que predispõe alguns a práticas suicidárias.

Os motores de busca, por exemplo, podem dar uma ajuda à vida e não à morte, se na pesquisa por suicídio colocarem em cima os sites de auxílio e não aqueles incentivam à práticas suicidárias, sugeriu o psiquiatra.

Os perigosos estereótipos do suicídio

Há ainda outros estereótipos que Manuela Correia desmontou ao longo do debate, como a frase tantas vezes repetida «quem ameaça matar-se nunca o faz». A psiquiatra explicou que tal não é verdade e que estudos demonstram que quem fala do tema e tenta o suicídio acaba, muitas vezes, por levar até ao fim os seus intentos.

«São pessoas que estão em grande sofrimento. E todas têm uma ambivalência: muitos não se querem matar. Mas não querem viver a vida que têm», afirmou a psiquiatra que ao longo da sua carreira já resgatou muitos da morte. «Não vale a pena dizer a quem está em sofrimento que a vida é bela. Isso é contraproducente. Antes é preciso pedir-lhe um tempo e trabalhar com ela durante o período em que está deprimida».
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