Dia da Mulher: um muro de 10 por cento nos círculos de poder - TVI

Dia da Mulher: um muro de 10 por cento nos círculos de poder

Só vim cá ver a bola

Das listas da Forbes à galeria de prémios Nobel, passando pelos cargos de liderança política: alguns exemplos de desproporção

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A entrada de Isabel dos Santos para a 736ª posição da lista divulgada pela Forbes, no início desta semana, teve especial interesse noticioso para Portugal, onde a empresária angolana tem várias participações relevantes. Mas o facto de a filha do presidente de Angola ser a única mulher africana a integrar a galeria anual de supermilionários ofuscou outro dado relevante: o de ser apenas uma de entre 130 mulheres numa lista com 1426 nomes.

O facto de as mulheres terem uma representação inferior a 10 por cento no panteão da alta finança complementa a ideia sustentada por este estudo : lá fora, como em Portugal, a representação feminina nos lugares de administração de empresas diminui, à medida que a dimensão destas aumenta.

A finança está longe de ser a única área onde o topo parece quase inacessível a quem não tem cromossoma Y. Na política, por exemplo, a barreira dos 10 por cento mantém-se quando consideramos os países que têm na atualidade mulheres eleitas como chefes de Estado e/ou de Governo: 17 em 192, dos quais apenas cinco na Europa. Sim, Angela Merkel manda muito, mas não chega para equilibrar a balança. A mira está demasiado alta? Talvez: se considerarmos organizações como governos e Parlamentos, a percentagem sobe significativamente, para um valor entre 25 (Parlamento português) e 35 por cento (Parlamento Europeu ou Comissão) ¿ mas com o empurrão político das quotas como fator determinante.

As cúpulas da finança ou da política estão longe de representar a proporção de excelência académica: 59 por cento do total de diplomados nos 27 países da União Europeia, e 51 por cento dos doutoramentos nos Estados Unidos, por exemplo. Isto poderia fazer pensar que em áreas como a ciência a paridade está mais próxima. Mas um estudo recente nos EUA mostra que, apesar de as mulheres representarem sensivelmente metade dos inscritos em formação superior nestas áreas, apenas representam 21 por cento dos professores de ciência, e só 5 por cento dos de engenharia.

Esta desproporção é ilustrada por outros indicadores, como a galeria de prémios Nobel. Dos 555 atribuídos pela Academia, desde 1901, só 44 foram para mulheres (8 por cento do total). Reflexo de um passado longínquo de subalternização da mulher? Nem isso: os 21 prémios para mulheres nos últimos 30 anos (11 por cento do total) mostram que a situação mudou pouco. Para mais, das seis categorias do Nobel (Física, Química, Economia, Medicina, Literatura e Paz) só nas duas últimas a representação feminina é superior a 10 por cento.

Curiosamente, a consagração das mulheres escritoras acontece mais facilmente no plano comercial do que no reconhecimento institucional do mérito: só três mulheres (Hertha Muller, Doris Lessing e Elifriede Jelinek) foram contempladas com o Nobel da Literatura nos últimos quinze anos. Mas duas (EL James, autora da trilogia das «50 Sombras» e Suzanne Collins, autora da trilogia «The Hunger Games») monopolizaram a lista de mais vendidos em todo o mundo, em 2012, como antes delas tinha acontecido com Stephanie Meyer (série «Crepúsculo») ou JK Rowling (série «Harry Potter»).

Engana-se, entretanto, quem pensa que a paridade é mais evidente nas esferas de poder da cultura popular: só duas cantoras (Britney Spears e Taylor Swift) entram no Top 10 dos mais bem pagos no mundo da música, e só duas atrizes (Kristen Stewart e Cameron Diaz) entram no top 10 dos mais bem pagos em Hollywood. O cinema é, aliás, uma arte/indústria onde a barreira dos 10 por cento é particularmente notória: nos 85 anos dos prémios da Academia, apenas uma mulher (Kathryn Bigelow, em 2009) venceu o Óscar para melhor realizador. E dos 250 filmes mais lucrativos em 2012, só 22 (nove por cento) foram realizados por mulheres, apesar de estas representarem 20 por cento da classe profissional.
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