Observatório acusa Ministério de não avaliar efeitos da crise na saúde nos cidadãos - TVI

Observatório acusa Ministério de não avaliar efeitos da crise na saúde nos cidadãos

O ministro da Saúde, Paulo Macedo discursa na sessão de abertura de início do XXV Encontro Nacional da Pastoral da Saúde, em Fátima (PAULO CUNHA / LUSA)

Relatório Primavera 2013 elogia a capacidade de Paulo Macedo «gerir os recursos disponíveis»

O Observatório Português dos Sistemas de Saúde acusa o Ministério de ainda não ter feito um diagnóstico oficial aos efeitos da crise na saúde dos portugueses, num relatório que elogia a capacidade de Paulo Macedo «gerir os recursos disponíveis».

No Relatório Primavera 2013, que será apresentado esta terça-feira em Lisboa, o Observatório procura «mostrar a situação que se vive neste momento de grave crise», analisando as medidas que foram introduzidas com o Orçamento de Estado para 2012, nomeadamente ao nível dos impostos e da Segurança Social.

Intitulado «Duas faces da saúde», o documento apresenta os dois mundos que os autores afirmam existir: o «oficial, dos poderes», em que «as coisas vão mais ou menos bem, previsivelmente melhorando a curto prazo, malgrado os cortes orçamentais superiores ao exigido pela troika e a ausência de estratégia de resposta às consequências da crise na saúde da população» e o «da experiência real das pessoas».

No mundo da experiência real das pessoas existe «empobrecimento, desemprego crescente, diminuição dos fatores de coesão social e também uma considerável descrença em relação ao presente e também ao futuro, com todas as consequências previsíveis sobre a saúde».

«É altura destes dois mundos falarem um com o outro, aceitando a necessidade de reconhecer a realidade tal como ela é, para que todos possamos partilhar e colaborar numa resposta atempada e efetiva, que considere e atenue os efeitos da crise na saúde das pessoas e no sistema de saúde», defendem os autores.

Para o OPSS, «são visíveis os efeitos da crise - pouco monitorizados e avaliados ¿ na saúde da população, mas também no sistema de saúde, agravados pela ausência de apoio àqueles que são os projetos estratégicos, de médio e longo prazo, deste setor».

O Observatório exige que o sistema de saúde avalie «o impacto das diversas medidas na saúde dos cidadãos» e crie «estruturas de resposta rápida, principalmente com base em estratégias de saúde».

Sobre o Programa de Ajustamento, o OPSS refere que «foi possível adotar medidas que contribuíram para influenciar favoravelmente uma gestão mais eficiente dos recursos disponíveis para a área da saúde».

Ao nível da política do medicamento, por exemplo, «verifica-se que a efetiva baixa de preços que se tem observado contribuiu para uma ligeira diminuição dos encargos dos utentes» com os fármacos, lê-se no resumo do documento.

Neste Relatório da Primavera lê-se que, «mesmo antes da intervenção externa, foram tomadas diversas medidas ao nível do sistema de preços e comparticipações que reduziram acentuadamente o valor do mercado de medicamentos em ambulatório, em 9,1 por cento em valor e em 19,2 por cento nos encargos do SNS em 2011».

«Passado um ano, continua a assistir-se à degradação do valor de mercado ambulatório, com nova redução de 11,7 por cento em valor e diminuição de 11,4 por cento dos encargos do SNS», prossegue o documento, segundo o qual «o mercado hospitalar continua com o mesmo nível de despesa pública observado em 2010, com um aumento nos encargos do SNS de 1,2 por cento em 2011 e redução de 1,1 por cento em 2012».

Sobre as medidas do Governo enunciadas no Relatório do Orçamento de Estado para 2012, o OPSS levanta uma questão: «Previa-se uma redução da despesa total em saúde de 710 milhões de euros, superior aos 550 milhões de euros necessários para implementar as medidas da troika. Porquê e para quê?».

Os autores sublinham ainda que, «apesar da conjuntura económico-financeira profundamente marcada pela restrição e contenção orçamental, o Ministério da Saúde foi capaz de gerir os recursos disponíveis de forma a pagar parte da dívida do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e com isso atenuar as limitações que daí advinham».

«Como característica fundamental deste governo salienta-se a sua preocupação pela garantia da sustentabilidade financeira do SNS», lê-se no resumo do documento.
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