Portugal «morto à traição» foi a enterrar em Guimarães - TVI

Portugal «morto à traição» foi a enterrar em Guimarães

Cerimónia fúnebre aconteceu ao abrigo do projeto «Mais Menos, Portugal 1143-2012», de Miguel Januário

O funeral de Portugal, esta quinta-feira em Guimarães, cidade onde nasceu, reuniu viúvas chorosas e mais de 100 pessoas que, em cortejo lúgubre pelas ruas da cidade, chamaram a atenção para aqueles que ainda não sabiam da morte do país.

O enterro simbólico de Portugal, «morto à traição», aconteceu ao abrigo do projeto «Mais Menos, Portugal 1143-2012», de Miguel Januário, integrado na Capital Europeia da Cultura Guimarães 2012.

Em declarações à agência Lusa, o artista explicou que esta foi uma morte encenada em jeito de «apelo» para que «se pense o país» mas também ponto de partida para as próximas etapas, «Ressurreição e Reconquista».

Castelo de Guimarães, 17 horas. Um caixão com os contornos de Portugal surge frente à estátua do fundador de país, D. Afonso Henriques. «Morreu Portugal», anuncia-se.

Mulheres choram aos pés do caixão. Gritos de desespero, de saudade pelo país que ali jazia aos pés do pai.

«Era tão bom homem, tão bonito, mas foi traído», explicou à Lusa Ana Tereza, a «viúva oficial».

Entre carpideiras, familiares e turistas, sem faltar a guarda de honra a cargo da GNR, seguiu em cortejo pelas ruas de Guimarães, cidade que viu nascer Portugal em 1143 e na qual este é agora, em 2012, enterrado.

Portugal, morto e encaixotado, parou à frente da muralha que assinala o seu nascimento. Ali se despediram as viúvas do «rico marido» mas que tinha um grande defeito, «gastava mais do que o que tinha».

No entanto, assinalou a viúva, «era muito generoso, dava tudo». As joias e as vestes «chiques» que a chorosa mulher envergava comprovavam.

«Gostava de a ver bonita», justificou a dama de companhia de Ana, não menos chorosa.

E de que morreu Portugal? «O país morreu porque foi traído», respondeu Miguel Januário.

«No fundo Portugal está a perder a sua soberania, está entregue ao poder económico», explanou.

Com este projeto, que incluiu uma nova versão da Portuguesa, «o aviso», uma faca espetada nas costas de D. Afonso Henriques, «a traição», o objetivo é, segundo o artista, levar os portugueses a refletir.

«O que se pede é que se pense um pouco Portugal. Parem para pensar e perceber o que estão a fazer ao país», apelou Januário declarando ainda que «os portugueses andam a ser manipulados».

No entanto, esta encenação da morte do país não agradou a todos. Salazar, Arnaldo Salazar, não gostou.

«Está errado. Aqui nasceu Portugal e há de continuar. Podemos ir ao fundo mas vamos continuar», declarou este vimaranense que foi surpreendido pelo «funeral».

Embora Salazar reconheça que «Portugal está mal», a solução, avançou, não é a morte mas sim «lutar».

Até porque, lembrou à Lusa, «os portugueses já tiveram situações piores e levantaram-se, não foram para o fundo».

Além disso, avisou, «enquanto houver vimaranenses Portugal não está morto».

O caixão ficou exposto em câmara ardente no Largo do Toural e ainda não é conhecida a data para a missa de sétimo dia.
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