Produtos naturais antes de cirurgia oncológica podem ser fatais - TVI

Produtos naturais antes de cirurgia oncológica podem ser fatais

Cirurgia

Observatório vai receber notificações de efeitos adversos com produtos naturais

O Observatório de Interações Planta-Medicamento (OIPM) alerta que a toma de alguns produtos naturais pelos doentes oncológicos antes da cirurgia pode causar «acidentes graves» e até fatais durante a intervenção cirúrgica.

«As misturas que os doentes oncológicos fazem e que têm causado situações graves de saúde em Portugal e em outros países» é o tema da última semana da campanha «Aprender Saúde entre as Plantas e os Medicamentos», do observatório da Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra.

«Os acidentes em cirurgia são dos mais graves e podem ser fatais, quando se consumiu antecipadamente alguns tipos de produtos naturais», porque aumentam a metabolização, mas também porque podem bloquear proteínas transportadoras, por exemplo, de anestésicos ao cérebro, referiu o observatório coordenado por Maria Graça Campos.

Alguns produtos podem também fazer aumentar o tempo de anestesia, o tempo de hemorragia, provocar dificuldades de coagulação, alterações na sedação, pressão arterial e «a rejeição de órgãos por toma nas semanas anteriores de plantas que sejam, por exemplo, indutoras das enzimas necessárias para a metabolização de medicamentos, como a ciclosporina».

No último ano, o OIPM elaborou tabelas de interações Planta-Medicamento em perioperatório, que estão em fase de validação pela comunidade científica internacional para depois serem divulgadas em Portugal de forma a evitar estas ocorrências.

«O número de pessoas com cancro aumenta de ano para ano e o de produtos naturais que anunciam o milagre da cura também», disse à agência Lusa Graça Campos, que também lidera o grupo de investigação do Projeto «IciPlant - Interações entre Citostáticos e Plantas».

A equipa tem acompanhado doentes a analisado produtos levados pelos pacientes, alguns dos quais estavam contaminados com substâncias tóxicas.

«Na prática o que acontece é que se pode reduzir o efeito do medicamento se for diminuída a absorção ou a distribuição. Há redução na absorção sempre que conjuntamente com o medicamento se consomem, sementes (linho, psílio, chia) algas ou fibras», exemplificou a especialista.

Plantas com atividade diurética, como alfavaca-de-cobra, alcachofra, aipo, dente-de-leão e cavalinha também reduzem efeito do medicamento devido ao aumento da excreção.

Já plantas como a erva de São João (hipericão), ginseng americano (especialmente os seus metabolitos libertados no intestino), alcachofra, cardo mariano e o «dan shen» aumentam a metabolização, diminuindo a dose disponível do medicamento.

«A redução na dose disponível do medicamento conduz a uma ineficácia do tratamento, o que pode levar à potencial proliferação do processo tumoral», explicou o observatório.

Por outro lado, plantas como o alcaçuz, alho fresco, aloé, bagas de Goji, cardo mariano, castanheiro-da-índia, chá verde, «dong quai», gingko, ginseng asiático, hidraste, kava-kava, mangostão, propólis, extrato de sementes de uvas, sumo de toranja e valeriana impedem a eliminação do medicamento no tempo programado e necessário no organismo para exercer a sua ação terapêutica.

O OIPM será o organismo português que vai receber as notificações de efeitos adversos com produtos de origem naturais, revelou a coordenadora deste organismo.

A Organização Mundial de Saúde (OMS) tem diretivas que obrigam a que todos os produtos de medicina tradicional, à base de plantas, apresentem provas de eficácia e de segurança e sejam sujeitos a controlos de qualidade, «o que nem sempre acontece», disse Maria da Graça Campos.
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