Jesus sobre Alcochete: "Fui agredido com um cinto na cara" - TVI

Jesus sobre Alcochete: "Fui agredido com um cinto na cara"

Ex-treinador do Sporting está a ser ouvido por videoconferência no tribunal de Almada sobre o ataque à Academia

O ex-treinador do Sporting está a ser ouvido nesta terça-feira, por videoconferência, no tribunal de Almada, no âmbito da 17.ª sessão do julgamento da invasão à academia, em maio de 2018, e que tem 44 arguidos, incluindo o antigo presidente do clube Bruno de Carvalho.

Jorge Jesus, que foi uma das vítimas das agressões, disse à juíza do Tribunal de Monsanto, onde decorre o julgamento, que foi agredido primeiro com um soco e depois com um cinto na cara, tendo reconhecido o seu agressor.

O técnico, que atualmente está ao serviço do Flamengo, no campeonato brasileiro, comparou mesmo o cenário naquele dia a "um pelotão de guerra".

Aquilo era fumo por todo o lado, gritos por todo o lado... quando estou a entrar no balneário já estão muitos a sair e é aí que eu sou agredido. Eles eram cerca de 20 a 30. E quando estou a chegar ao balneário vejo um grupo de quatro que estavam separados dos outros onde estava Fernando Mendes. Foi nesse momento que pedi ajuda. Pedi-lhe que impedisse aquilo de acontecer, mas naquela altura já estavam todos dentro do balneário. O Fernando Mendes disse que não podia fazer nada quando lhe pedi ajuda e eu entro dentro das instalações quando eles estão a sair e é aí que sou agredido", descreveu.

Jesus contou que, por ter sido "agredido", não conseguiu chegar à cabine "onde estavam os jogadores".

Saí e um dos indivíduos do balneário dá-me um soco, fiquei a sangrar do nariz. Entretanto, apareceu também um indivíduo que, segundo depois vi, entrou com o carro, mas eu não o conheço. Fui atrás do que me deu com o cinto, eu caí, ele caiu e eu dei-lhe pontapés. Depois levei um soco já na parte de fora. Eu reconheci o agressor pelos calções, era um jovem que não teria mais de 22/23 anos", lembrou.

“Não houve tempo para nada, foi tudo instantâneo, uns cinco minutos", recordou, ainda, o técnico.

Parecia um filme de terror. No balneário, estava tudo virado ao contrário. Jogadores super desequilibrados, a chorar, vi o Bas Dost a chorar, e todos os outros estavam sem saber muito bem o que tinha acontecido. Estavam revoltados, como eu estava. Aquilo estava tudo virado ao contrário. Os bancos, as marquesas, muitas coisas no chão”, afirmou.

No final, Jorge Jesus voltou a dirigir-se a Fernando Mendes.

“Estás a ver o que me fizeram?", disse, identificando parte do grupo de quatro adeptos que se encontrava de cara destapada.

"Era o Fernando Mendes, o Aleluia e mais dois que não reconheço”, garantiu.

Quanto a Bruno de Carvalho, então presidente do clube, disse que "apareceu depois" e que "gostava de falar com os jogadores".

Mas eu disse:' presidente, não há condições para falar com os jogadores'. Os jogadores não querem falar consigo, eles fugiram de si”, lembrou.

Jorge Jesus admitiu, também, que. apesar de não deixar "ninguém assistir aos treinos", consentiu que, por uma vez, a claque entrasse na Academia para ver os jogadores trabalhar.

“Lembro-me que houve um ano que a claque estava à porta da Academia quando nos dirigíamos para o treino. Vi-os à entrada e perguntei o que estavam a fazer. Disseram que queriam falar com os jogadores e eu disse: 'mas querem falar o quê? Querem ver o treino?' E deixei-os entrar. Estava o Mustafá. Mas correu tudo bem.”

Voltando a Bruno de Carvalho e ao dia anterior ao ataque, Jorge Jesus contou que a equipa estaria de folga nessa segunda-feira e que só voltaria ao trabalho na terça-feira de manhã.

“Mas, segunda-feira, 14 de maio, fomos convocados para estar numa reunião com o Bruno de Carvalho. Não era normal e o que a gente pensou é que íamos ser todos despedidos. Estava o presidente mais três pessoas, e só o presidente é que falou comigo. Lembro-me como se fosse hoje: 'disse que tinha chegado ao fim da linha a minha continuidade no Sporting, falou falou e eu nunca respondi. Lembro-me de ele me ter perguntado se não tinha nada para dizer e eu disse:'não, só estou aqui para ouvir'", contou.

A alteração da hora do treino foi pedida por Bruno de Carvalho, por causa da nota de culpa, que ainda iria ser redigida.

“Disse-me para estar preparado porque os advogados do Sporting iam fazer uma nota de culpa, mas não sabia quanto tempo demorava a fazer. Mas disse que de manhã não devia conseguir e que [por isso] se o treino estava de manhã tinha de passar para a tarde", contou. 

 

Continue a ler esta notícia