“Não sei o que fazer à minha vida, nem aos meus empregados” - TVI

“Não sei o que fazer à minha vida, nem aos meus empregados”

Jorge Tomás é dono de uma das empresas que dá trabalho a mais pessoas em Castanheira de Pera. Do alto dos seus 68 anos, só pensa em reerguer a fábrica e manter os postos de trabalho, onde 32 famílias ganham o pão

Jorge Tomás tem 68 anos. Trabalha desde os “sete ou oito”. É dono da fábrica de transformação de madeira Progresso Castanheirense, que ardeu por completo no incêndio do último sábado. Depois de “um ou dois dias” de desânimo, olha agora para o futuro e quer reerguer a empresa que foi sempre a sua vida e a sua família.

Não sei o que fazer à minha vida, nem aos meus empregados. Mandei-os para casa oito dias para ver o que se podia fazer.”

 

Se me derem uma ajuda, ainda vou por esta empresa de pé, a laborar.”

Nestes 60 anos de trabalho, Jorge nunca tirou um dia de férias. A única viagem de turismo que fez na vida foi à Serra da Estrela. Um único fim de semana de descanso. “Quem me conhece, sabe que nunca tive um dia de férias. Nunca tive nada.”

Mas o seu descanso pode esperar. É nos cerca de 50 empregados que pensa agora. “Trinta e duas famílias, com gente nova”, que perderam o ganha-pão. O concelho, no interior do país, tem poucas empresas onde se encontrar trabalho. Jorge tem, por isso, consciência da responsabilidade social que acarreta nos ombros”.

“No prazo de 30 dias, vamos tentar estar aqui a fazer qualquer coisa de madeira, já.”

 

“Parecia coisa de má arte ou assim”

 

Enquanto a determinação deixar, Jorge não deixa morrer a fábrica e os postos de trabalho de que é responsável. Sabe que será difícil mantê-los todos, mas quer fazer este último esforço.

Jorge Tomás não esquece, contudo, o dia em que o fogo lhe levou tudo, menos a determinação. Estava na fábrica e decidiu ir a casa procurar a mulher.

A casa fica aqui a dois minutos, no máximo. Abri o portão para entrar em casa, quando venho a sair, caí para o chão. O fogo ainda vinha a uns 500 metros, mas já vinha muito vento com paus. (…) Lá me consegui levantar. Agarrado ao portão, tal era a força do vento. Se não me tivesse levantado tinha morrido ali queimado.”

Essa ida a casa demorou pouco mais do que dois minutos. “Quando aqui cheguei, estava aqui a arder”, resume.

Nunca tinha visto uma coisa destas. Já tinha assistido a várias cenas de incêndios, mas nunca tinha visto uma coisa assim. Parecia coisa de má arte ou assim.”

Arderam as paredes, a matéria prima e quase todas as máquinas que Jorge tinha na fábrica. Aquelas máquinas que tanto poupou para comprar. “Comprei poucas coisas através do leasing. Sempre que era precisa alguma maquinaria, procurava poupar para a comprar e só comprava quando havia dinheiro. (…) Comprei dois camiões, em fevereiro do ano passado, e paguei-os a pronto.”

Agora, espera que os seguros “pequeninos” possam ajudar a repor o material que perdeu e a reerguer a empresa que exporta para Espanha 90% do produto final.

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