A mulher que teve um tímpano perfurado depois de uma agressão do marido diz-se aterrorizada perante a decisão do juiz Neto de Moura, que retirou a pulseira eletrónica ao agressor.
“Senti o mundo a fugir de baixo dos pés mais uma vez”, começa por dizer a vítima, acrescentando que tem vivido “escondida”.
À TVI, esta mulher garantiu que ainda é vitima de ameaças e que é obrigada a viver escondida, com medo de novas agressões.
“Não estou 24 horas fechada, como é óbvio, mas vivo sempre com medo", confessa.
A vítima diz ainda que continua a ser ameaçada indiretamente e que não consegue compreender a decisão do juiz.
“[O meu ex-marido] Continua a fazer chantagem psicológica, a dizer que me mata. Da próxima vez que o senhor juiz tiver um caso como o meu que pense duas vezes. Eu não frequento um café à vontade enquanto o meu ex-marido frequenta os cafés que quer, conforme quer. E eu não consigo e eu não cometi crime nenhum. Se tiver de ir é óbvio que vou, mas primeiro tenho que ver se posso entrar, se está alguém que eu conheça. É um tormento. A presa sou eu, não é ele".
Durante mais de 30 anos, a mulher sofreu várias agressões à mão do marido e, por medo e pelo filho, aguentou quase tudo. Até que se apercebeu que podia morrer a qualquer momento decidiu fugir.
“Para quem critica, que não critique, porque eu não estou a fazer-me de vítima porque eu sou um ser humano como os outros. As pessoas não entendem como a gente se sente. Uma miúda de 14 anos, grávida… Há 34 anos as coisas eram muito diferentes. Éramos induzidos pelos nossos pais que o homem de quem engravidávamos ou casávamos… tínhamos de o aceitar como eles eram. E acabamos por ter um bocado essa mentalidade. E eu vivi um bocado assim até começar a ter o filho a crescer com maturidade suficiente para entender que as coisas não haviam de ser assim. Pelos filhos encobrimos muita coisa, como as agressões. Eu encobri mesmo da minha própria família”, conta.
A agressão aconteceu em 2016, mas a vítima só conseguiu sair de casa no ano seguinte e diz mesmo que o ex-marido nunca pensou que ela tomasse a atitude que tomou.
“Quando ele chegou embriagado às 4:30 da manhã e pegou na catana vi que não estava segura e na altura pensei: um dia ele mata-me mesmo e eu não estava aqui a falar. Era mais uma vítima mortal da violência doméstica”.