Nenhum juiz está impedido de dar entrevistas "mas pode ser mal interpretado" - TVI

Nenhum juiz está impedido de dar entrevistas "mas pode ser mal interpretado"

Justiça (iStockphoto)

Presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses diz que intenção de Carlos Alexandre, nas duas entrevistas que já deu, foi “apresentar-se, falar de si como pessoa, mostrar a pessoa por trás do juiz”

A presidente da Associação Sindical dos Juízes Portugueses (AJPP) disse este sábado que nenhum juiz está impedido de dar entrevistas à imprensa, admitindo, no entanto, que se o fizerem correm “um risco” de ser mal interpretados.

Em declarações à agência Lusa a propósito da entrevista ao juiz Carlos Alexandre, publicada este sábado no jornal Expresso, Manuela Paupério disse pensar que a intenção daquele juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal foi “apresentar-se, falar de si como pessoa, mostrar a pessoa por trás do juiz”.

“E portanto falou de si, das suas condições pessoais, das suas condições de vida, e quanto a isso eu creio que qualquer juiz, este e qualquer outro, não estão impedidos de o fazer”, referiu.

No entanto, “também este e qualquer outro terão de saber que aquilo que disserem pode ser interpretado se tirarem a partir das palavras que dizem algumas ilações corretas ou incorretas, mais de acordo com o que estava na ideia de quem proferiu as palavras”.

“Digamos que é um risco a partir da altura em que é feito um tipo de entrevista desta”, frisou, sublinhando não ter ainda lido a entrevista.

Ao referir que da entrevista leu apenas “títulos e bocadinhos descontextualizados”, já que foi a convidada da SIC este sábado de manhã para fazer a revista de imprensa, a presidente da ASJP adiantou que “vai ler com atenção a entrevista toda”.

“Não vou estudar a entrevista, não me cabe, não me compete. Vou lê-la, com a curiosidade que terá qualquer outra pessoa que tenha o jornal em mãos e queira ler essa entrevista”, frisou.

Questionada sobre o facto de o juiz Carlos Alexandre voltar a dizer que não tem amigos na magistratura, a presidente daquele órgão de disciplina e gestão de juízes escusou-se a comentar tal declaração.

“Nós somos mais de 2.000 juízes. Eu sei que tenho muitos amigos, na magistratura e fora dela, e, aliás, gosto de ter amigos, mas isso também tem a ver com o temperamento de cada um. (…) Cada pessoa é um ser único e isso depende das características de cada um”, observou.

Questionada sobre se é comum a exposição mediática a que aquele juiz do TCIC se submeteu na última semana, a presidente da ASJP admitiu que “não é habitual”.

“Não é muito habitual até porque, normalmente, a vida da pessoa do juiz não suscita muita curiosidade. As pessoas não querem saber nada do juiz a não ser o que ele vai fazer no processo”, indicou.

Não é “habitual até porque os juízes não estão vocacionados para isto. Não estão habituados a dar entrevistas e também não é habitual os juízes serem tão instados pela comunicação social para dar entrevistas”, concluiu.

Na entrevista publicada este sábado no Expresso, Carlos Alexandre disse acreditar que o querem afastar, incluindo arguidos dos casos que tem em mãos.

Questionado sobre se estava a falar de arguidos que investiga, Carlos Alexandre respondeu: "Não sei. Há sempre interesses. Já tive incidentes de recusa nos processos e não interpreto isso como uma tentativa de afastamento".

O Expresso revela que a entrevista publicada este sábado foi realizada antes de outra àquele juiz do TCIC transmitida pela SIC, a 8 de setembro, na sequência da qual a defesa do ex-primeiro-ministro José Sócrates apresentou um pedido de recusa do juiz responsável pelo processo da Operação Marquês, na qual o antigo primeiro-ministro é arguido.

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