Recém-nascido abandonado no lixo "não duraria mais do que 20 minutos" - TVI

Recém-nascido abandonado no lixo "não duraria mais do que 20 minutos"

Julgamento da mãe que abandonou o recém-nascido num caixote do lixo perto da discoteca LUX arrancou no dia 10 de setembro

O recém-nascido abandonado pela mãe num caixote do lixo perto da discoteca LUX, em Lisboa “não duraria mais do que 20 minutos”, afirmou um técnico de emergência pré-hospitalar durante a segunda sessão do julgamento que arrancou no dia 10 de setembro.

O técnico explicou em tribunal que foi chamado para uma “situação complicada” e descreveu o momento em que entrou no edifício da discoteca.

Estava tudo muito escuro. Quando cheguei vi uma manta preta com a face de uma criança. A criança não estava estável e eu precisava de luz”, afirma o técnico que conduz uma mota do INEM.

Nesse momento, o profissional viu que tinha o cordão umbilical com uma hemorragia.

Comecei a administração de oxigénio. A criança tinha muco e tinha dificuldades em respirar. Comecei a ver uma reação do bebé bastante rápida. Havia um silêncio enorme. Quando tentei fazer reagir o bebé, apertei o nariz e ele começou a reagir”, conta, sublinhando que o bebé não conseguia respirar bem por causa da hemorragia.

Neste momento, Sara, a mãe que abandonou o recém-nascido e que assistia ao julgamento, começou a chorar.

Depois fui ao Hospital D. Estefânia ver o bebé”, afirma o técnico que descreve o encontro: “Tinha uma luva para estancar o cordão umbilical, perguntaram-me porquê e disse-lhes que era a forma mais rápida de estancar a hemorragia. Perguntaram também o nome que eu daria ao bebé e eu disse «Salvador» e assim ficou".

João Paulo Saraiva, o sem-abrigo que encontrou o bebé no contentor, também descreveu como tudo aconteceu.

O homem conta que todos os dias passava pela zona onde a criança foi encontrada para arranjar objetos para vender. Saraiva explica que, naquela manhã, ficou alarmado quando viu um braço num dos contentores e que voltou ao local onde vivia, no Quiosque - para chamar ajuda.

João Paulo Saraiva diz ainda que, no regresso, não encontrou o bebé e dirigiu-se à PSP em Santa Apolónia para reportar a situação. Porém, os agentes de serviço disseram-lhe que estava louco e que precisava de “ir a um psiquiatra”.

João não desistiu e voltou ao local. Por volta das 16:00, num contentor amarelo, ouviu um choro e chamou o amigo Rui para o ajudar.

Rui acabou mesmo por entrar dentro do ecoponto e, juntos, retiraram de lá a criança, tendo entregado a mesma a “uma senhora que saiu do LUX”. 

“Se não fosse a minha persistência não tinham encontrado o bebé”.

A mãe da criança e João Paulo Saraiva viviam no mesmo sítio mas, segundo este, os dois nunca tiveram “uma grande relação” e nunca desconfiou que Sara estivesse grávida.

Ela queixava-se muito de cólicas, que tinha a barriga inchada. Nunca suspeitei que ela estivesse grávida“, conta.

"Bebé parou de chorar quando o embrulhamos numa camisola"

Depois de tirar o bebé do caixote, João entregou a criança, tal como já foi escrito, a uma mulher que tinha "saído do LUX". Em tribunal, a mulher que recebeu o bebé do sem-abrigo contou que tinha saído do trabalho no São José e foi até à estação de Santa Apolónia.

"Eram cerca das 17:30 quando veio o sem-abrigo com um bebé nos braços, aos berros. O bebé estava despido, com um bom pedaço de cordão umbilical e sujo de sangue e outros fluidos. E parecia com frio. O bebé parou de chorar quando o embrulhamos numa camisola do meu companheiro”, contou ainda.

Segundo a testemunha, como estava a chover, alguém do LUX chamou o grupo para dentro do edifício, onde o bebé acabaria por ser assistido.

Foi lá que um segundo técnico de emergência médica do INEM encontrou a criança e onde lhe prestaram cuidados.

Segundo o profissional, "a criança estava embrulhada, mas fria".

"O bebé estava em hipoglicemia, estava frio (baixa temperatura corporal) e foi para o hospital.  Qualquer recém-nascido que não tem os cuidados necessários fica em risco de vida. Ali está em risco, porque não sabemos as circunstâncias em que tudo aconteceu", acrescentou.

Já o agente da PSP que recebeu a chamada na tarde de 5 de novembro, diz que foram chamados para irem ao LUX, cerca das 17:00, porque "estaria um feto num caixote do lixo".

"Nunca acreditámos que, efetivamente, estivesse lá um bebé", afirmou em tribunal.

A patrulha chegou ao local ao mesmo tempo que o técnico da mota do INEM e foram diretos ao interior do LUX".

"Quando vi o bebé a olhar para mim com os olhos abertos... essa é uma imagem que nunca vou esquecer”, confessou, acrescentando que o ecoponto onde a criança foi encontrada "estaria no meio dos outros" e que "foi o que, por ventura, terá salvo o bebé".

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