Silva Carvalho diz que gabinete de Passos Coelho o convidou para o SIRP - TVI

Silva Carvalho diz que gabinete de Passos Coelho o convidou para o SIRP

Jorge Silva Carvalho

“Caso das secretas” impossibilitou essa nomeação sublinhou em tribunal

O “ex-espião” Jorge Silva Carvalho revelou esta quinta-feira que esteve muito perto de ser nomeado pelo governo de Passos Coelho como diretor do Serviço de Informações da República Portuguesa (SIRP), mas que o “caso das secretas” impossibilitou essa nomeação.

O ex-diretor do Serviço de Informações Estratégicas de Defesa (SIED), arguido no processo das secretas, disse em julgamento que, em maio de 2011, quando já trabalhava para a empresa privada Ongoing, teve um encontro no hotel Ritz, em Lisboa, com Miguel Relvas (PSD), que lhe perguntou se estava interessado em voltar ao serviço de informações.

Segundo Silva Carvalho, depois de ter recusado o convite de Miguel Relvas, em junho do mesmo ano, quando o governo PSD tomou posse, foi novamente contactado, através de um assessor do gabinete do então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, para ocupar o cargo de secretário-geral do SIRP.

O arguido explicou que, nesse almoço, voltou a recusar o convite, invocando os mesmos motivos pelos quais recusara o convite de Relvas, designadamente a vontade de ter mais tempo para os filhos.

Relatou que, posteriormente, houve outro almoço e que, perante a insistência dos interlocutores, aceitou, na condição que o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho formalizasse o convite.

Lembrou que houve ainda “uns contactos”, mas que depois surgiram as primeiras notícias relacionadas com "o caso dos cidadãos russos” e dos “metais preciosos” e tudo ficou sem efeito.

À saída do tribunal, aos jornalistas, Silva Carvalho garantiu que não chegou a almoçar ou a reunir-se com Passos Coelho para discutir a sua eventual nomeação como secretário-geral do SIRP e disse “estar convencido” de que se não fosse o caso das secretas ter aparecido nos jornais teria sido efetivamente nomeado para o lugar.

Durante o interrogatório, o ex-diretor do SIED, que revelou ter grande amizade e respeito profissional por Luís Neves, diretor da Unidade Nacional de Combate ao Terrorismo (UNCT) da PJ, admitiu que chegou a indicar quatro nomes de pessoas que lhe eram próximas para chefiarem as secretas.

Quanto ao acesso à faturação detalhada do jornalista Nuno Simas, que no jornal Público escreveu, em 2010, sobre divergências internas no SIED, o arguido reiterou que o atual secretário-geral do SIRP, Júlio Pereira, tinha conhecimento deste procedimento destinado a garantir a “autoproteção” dos serviços contra fugas de informação no SIED.

Silva Carvalho voltou assim a implicar Júlio Pereira naquele procedimento ilegal, embora insista que tal prática era “habitual” no SIED e fazia parte do “modus operandi” das secretas em Portugal.

Em julgamento, Silva Carvalho justificou a sua saída do SIED com cortes financeiros que prejudicavam a operacionalidade dos serviços e com a desilusão causada por algumas decisões tomadas pelo secretário-geral do SIRP, Júlio Pereira.

Jorge Silva Carvalho e João Luís estão acusados por acesso ilegítimo agravado, em concurso com um crime de acesso indevido a dados pessoais e por abuso de poder. O ex-diretor do SIED responde ainda por corrupção passiva para ato ilícito, relacionado com a alegada entrega de informações à Ongoing em troca da sua contratação para aquela empresa privada. O arguido nega tais factos.

Nuno Vasconcellos, presidente da Ongoing, está acusado de corrupção ativa para ato ilícito.
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