Família de Valongo julgada por escravizar pessoas com debilidades - TVI

Família de Valongo julgada por escravizar pessoas com debilidades

Tribunal

Primeira sessão em tribunal ficou marcada pelo silêncio dos arguidos

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O tribunal de Valongo começou a julgar esta quarta-feira dois feirantes e um colaborador que terão sujeitado seis homens fragilizados a trabalho escravo. A sessão ficou marcada pelo silêncio dos arguidos e pelos testemunhos de investigadores da Polícia Judiciária (PJ).

Os principais arguidos são Carminda, uma mulher de 53 anos e o genro, Mário, de 35, em prisão preventiva à ordem do processo. Estão acusados pela prática dos crimes de tráfico de pessoas para fins laborais, escravidão e posse de arma proibida, escreve a Lusa.

Carminda e Mário foram detidos pela PJ em julho de 2011. Os crimes terão sido consumados ininterruptamente desde 2007. As vítimas eram trancadas nos locais de pernoita, para travar eventuais fugas, ora em Campo, Valongo, ora em Espanha.

Das seis alegadas vítimas, uma morreu posteriormente, num acidente de viação, outra prestou depoimento para memória futura e desconhece-se o paradeiro das restantes. De uma das vítimas apenas foi encontrada a fotocópia do bilhete de identidade numa busca à residência dos arguidos, em Campo, Valongo, segundo explicou fonte da defesa.

No depoimento que prestaram ao tribunal de Valongo, seis inspetores da PJ, incluindo um chefe de brigada, convergiram, no essencial, na tese de que, durante a busca em Campo, foram detetadas duas das seis alegadas vítimas em situação típica de trabalho escravo.

Com essas vítimas e revelando ter sobre elas «um certo ascendente», ou seja, funcionando como uma espécie de vigilante, estaria o coarguido Ludovino.

Imediatamente antes da busca, Mário teria dito aos nvestigadores que ali tinha ao seu serviço apenas uma pessoa, precisamente Ludovino.

Durante as buscas foram também apreendidas armas, munições e extratos bancários.

A defesa explorou contradições de detalhe nos depoimentos dos investigadores para tentar provar que as condições de trabalho e pernoita dos alegados ofendidos seriam similares às dos restantes habitantes da propriedade de Campo.

O chefe da brigada da PJ Sebastião Sousa disse ser este um caso típico de trabalho escravo, imposto a pessoas com «autodeterminação diminuída», algumas de nacionalidade estrangeira e com passaporte retido pelos engajadores.

«O cenário é invariavelmente o mesmo», disse Sebastião Sousa, queixando-se das dificuldades de investigar processos destes, que geralmente se desenvolvem em Portugal e em Espanha.

«Tenho sete inspetores. Se tivesse 70, tinha trabalho para todos eles», disse.

Embora se remetesse agora ao silêncio, a arguida Carminda alegou, em fase anterior do processo, conforme descreve um auto de interrogatório, que agiu «por caridade» ao recrutar os homens que trabalhavam para si e para o genro.

Carlos, com problemas psicológicos e institucionalizado num lar de Guimarães em regime semiaberto, foi um dos que se iludiu com promessas de emprego «a ganhar bem», aceitando trabalhar para os arguidos na propriedade de Campo, ainda segundo o processo.

O que ganhou foram ameaças («Se fugires daqui e fores à polícia, vamos apanhar-te e dar-te dois tiros»). Dias depois conseguiu fugir e contar a sua versão dos factos à polícia, contou.

O julgamento prossegue durante a tarde desta quarta-feira.
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