Aborto: mulheres já não falam «baixinho e em código» - TVI

Aborto: mulheres já não falam «baixinho e em código»

Clínica dos Arcos em Lisboa (Foto Lusa/Paulo Carriço)

Desde a Interropção Voluntária da Gravidez foi despenalzada, houve uma mudança de atitude, revela responsável pela linha de apoio Opções

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A Linha Opções, criada há dois anos, recebe uma média de 70 chamadas mensais a pedir informações sobre aborto e contracepção. São sobretudo mulheres, que deixaram de «falar baixinho e em código» desde que a interrupção voluntária da gravidez foi despenalizada.

Com a aprovação da nova lei do aborto, que começou a ser aplicada há cerca de ano e meio, as mulheres que telefonam para esta linha de aconselhamento da Associação para o Planeamento da Família (APF) mudaram de atitude, deixando de «falar baixinho e em código», disse à Lusa a coordenadora do serviço, Elisabete Souto.

Por outro lado, nos últimos meses há mais contactos de homens (namorados, companheiros) e de mães de jovens grávidas, acrescentou a responsável, que falava à Lusa a propósito do segundo aniversário da Linha Opções, que se assinala no domingo.

Professores que querem saber como ajudar alunas são outros dos «utilizadores» desta linha de «informação e aconselhamento sobre gravidez não desejada, interrupção voluntária da gravidez e aconselhamento contraceptivo».

Os utilizadores mais habituais são, porém, mulheres entre os 20 e os 35 anos que vivem, sobretudo, nos distritos de Lisboa, Porto e Setúbal.

«Há situações de profundo desespero»

Os motivos mais repetidos por quem telefona para querer recorrer à Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) são a «situação económica, idade (umas dizem-se demasiado jovens, outras já sem idade para serem mães), o factor instabilidade conjugal e uma gravidez não planeada», segundo Elisabete Souto.

«Há situações de profundo desespero. De mulheres que estão completamente sozinhas, com um bebé nos braços e outro a caminho e com o marido a trabalhar fora e elas sem dinheiro».

Mau atendimento ou dúvidas sobre confidencialidade

Um dia de esquecimento na contracepção e dúvidas sobre a paternidade são outras razões muitas vezes apontadas pelas mulheres, que tomam a decisão de interromper a gravidez sempre «com muito sofrimento e nunca de ânimo leve». Mas também os obstáculos encontrados no processo de interromper a gravidez, como o mau atendimento ou questões relacionadas com a confidencialidade, levam as mulheres a contactar a linha.

As mulheres temem, por exemplo, ser reconhecidas nos centros de saúde ou hospitais e lamentam que as justificações para apresentar no trabalho explicitem, por vezes, o motivo que as levou a uma unidade de saúde (normalmente privada).

A linha funciona todos os dias úteis entre as 12 e as 20 horas através do número telefónico 707 200 249.
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