Nobel James Watson desafia a testes mais arriscados para curar cancro - TVI

Nobel James Watson desafia a testes mais arriscados para curar cancro

Centro Champalimaud

Presidente do Conselho Científico da Fundação Champalimaud acredita que em dez anos se poderá vencer a doença

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O prémio Nobel James D. Watson, que preside ao Conselho Científico da Fundação Champalimaud, acredita que o cancro poderá ter cura dentro de dez anos. Mas, para isso, diz, será necessário acelerar os testes de combinações de medicamentos e mais flexibilidade das entidades reguladores. «Os erros serão sempre muito pequenos, comparados com o número de pessoas que estão a morrer de cancro», defendeu esta quarta-feira de manhã em Lisboa.

Só a partir de Janeiro do próximo ano é que irão começar a entrar doentes no Centro de Investigação da Fundação Champalimaud. Mas, um dia depois da inauguração do edifício, em Lisboa, este tornou-se já palco de discussão da doença por parte de especialistas mundiais, presentes no simpósio «A Cura do Cancro».

Esquemas, siglas crípticas, fotografias de células tiradas por microscópios electrónicos. O cidadão comum perder-se-ia nos detalhes das explicações científicas. Contudo, a mensagem desta manhã é também o evento em si e o facto de Portugal ter um novo espaço de produção, aplicação e discussão de ciência a nível internacional.

Com uma gigantesca janela oval a oferecer o Tejo, pelo auditório do centro (bem composto, mas não cheio) passaram vários especialistas. Entre eles, James Watson, Prémio Nobel em 1962 por ser um dos responsáveis pela descoberta da estrutura do ADN, e, agora, aos 82 anos, presidente do Conselho Científico da Fundação Champalimaud.

«Temos que nos mover mais depressa»

No primeiro intervalo do simpósio, Watson voltou a sublinhar na mensagem que já transmitira esta terça-feira, na inauguração do centro: dentro de uma década será possível curar o cancro. Mas, para o norte-americano, esta não é apenas uma questão de tempo. Grande parte do sucesso dependerá da resposta da comunidade científica ao desafio de testar abordagens mais abrangentes.

«Provavelmente temos de fazer o maior número de experiências em vários módulos.Temos que nos mover mais depressa», disse aos jornalistas, defendendo o uso de cocktails de drogas, que ataquem a doença em várias frentes ao mesmo tempo. Porém, para Watson os organismos reguladores representam um entrave a muitos destes testes.

«A FDA [regulador norte-americano para o medicamento e produtos alimentares] ou o corpo europeu [a EMEA] movem-se muito devagar, porque não querem que ninguém morra de forma desnecessária por causa de um teste», disse, sublinhando, contudo, que muitas destas pessoas «vão morrer de qualquer forma», e que, por isso, vale a pena correr riscos. «Os erros serão sempre muito pequenos comparados com o número de pessoas que estão a morrer de cancro», defendeu.

«Objectivo deve ser curar»

É sob esta perspectiva que o especialista vê também o novo centro de combate à doença em Lisboa. «O seu objectivo deve ser curar o cancro, não estudá-lo», salientou, referindo que muitas instituições deste tipo nascem com o intuito «de estudar e não para curar». «Nós queremos avançar com os trabalhos de pessoas que estudam o cancro».

Outros dos intervenientes desta manhã foram a norte-americana Susan Lindquist, do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e Raghu Kalluri, director do Centro Champalimaud do Cancro.

Instada pelos jornalistas a comentar o prazo de dez anos de Watson, a especialista sublinhou que, mais importante do que saber se é possível ou não, é a motivação da existência de metas. «Essa urgência de que temos de fazê-lo».

Lindquist, tal como Watson, acredita que o caminho para a cura será «multifacetado» e fruto da «combinação de diferentes terapias ao mesmo tempo». Uma perspectiva também defendida por Kalluri.

«Quando se tenta duas ou três coisas ao mesmo tempo, há, potencialmente, efeitos secundários e receio por parte dos reguladores», disse o director do centro. «Penso que em casos de doentes terminais, alguns estão dispostos a correr esse risco. Tem de haver um equilíbrio em como testamos as drogas e asseguramos a segurança do paciente».
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