A rua Damasceno Monteiro, na zona da Graça, em Lisboa, foi esta sexta-feira interditada à circulação automóvel para arrancarem as obras de intervenção nos prédios afetados pelo desabamento de terras que ocorreu na segunda-feira.
“A rua foi neste momento interditada, está bloqueada pela Polícia Municipal, só tem aqui acesso o material para a obra”, disse o vereador da Segurança e Proteção Civil da Câmara de Lisboa, Carlos Castro, ao final da manhã.
De acordo com o autarca, a empresa que vai realizar as obras nos prédios afetados está já a montar o estaleiro.
Assim que estiverem reunidas as condições de todo o material - os elementos [trabalhadores] já cá estão -, iniciar-se-á a obra de recuperação desta parte traseira destes edifícios”, adiantou Carlos Castro.
Questionado sobre se o prazo da obra - indicado inicialmente de três meses - se mantém, o vereador da Segurança e Proteção Civil afirmou que “é preciso ter em consideração que há várias variáveis: o tempo é uma delas, a situação da parte de trás [dos edifícios] é outra”.
“Não vamos alimentar especulações [em relação ao calendário], portanto quanto a esta questão vai ser feita agora a colocação do material necessário, vai começar a ser feita a intervenção e, depois, naturalmente, após análises técnicas teremos algo mais concreto”, frisou.
Segundo Carlos Castro, a obra de intervenção vai começar “dentro de poucas horas” e os trabalhos vão decorrer “ao longo dos próximos dias”, inclusive no fim de semana, “o tempo que for necessário para que esteja devidamente restabelecida a normalidade nesta área”.
O vereador disse que se mantêm os cinco prédios evacuados – os números 102, 104, 106, 108 e 110 da rua Damasceno Monteiro – e as 78 pessoas realojadas.
“As pessoas estão a ser acompanhadas regularmente pelo serviço municipal de Proteção Civil e estão a par de tudo o que está a ser feito neste momento com toda a informação”, garantiu Carlos Castro, referindo que algumas pessoas estão realojadas em casas de familiares e outras em unidades hoteleiras.
A Câmara de Lisboa vai hoje reunir-se com todos os moradores afetados, às 18:00, com o objetivo de os “pôr a par de todos os desenvolvimentos”.
Sobre as 10 lojas fechadas devido ao desabamento de terras, o autarca diz compreender “a situação delicada desses casos”. Porém, é preciso ir “por partes e por prioridades”.
Em primeiro lugar, está a segurança das pessoas e essa está garantida. Depois, a seguir, temos a questão de restabelecer a segurança. A partir do momento em que isso esteja tudo restabelecido, haverá condições para a normalidade regressar”, assegurou Carlos Castro.
Moradores retiram bens
Moradores desalojados da rua Damasceno Monteiro, em Lisboa, retiraram“à pressa” roupas e outros bens dos prédios afetados pelo desabamento de terras de segunda-feira, confessando que há anos que viviam com “receio” desta situação.
Receio a gente tinha. Íamos olhando para o muro, mas é como um bom português: o muro nunca caiu e a gente, pronto, [pensava] ‘pode ser que daqui a um tempo que se faça’”, contou Helena Santana, moradora do 3.º direito do número 104, edifício que foi evacuado na quarta-feira, na sequência do aluimento de terras que ocorreu na segunda-feira.
Carregada de sacos com roupa, a moradora contou que está realojada em casa de familiares, juntamente com o marido e os dois filhos, mas esta é uma solução provisória.
Estamos em casa de familiares por enquanto, depois não sabemos”, afirmou Helena Santana, aguardando outra solução de realojamento.
A partir das 10:00 desta sexta-feira, os moradores dos prédios dos números 102 e 104 desta artéria lisboeta foram autorizados pela Proteção Civil a entrar nos edifícios para buscar bens.
Roupa principalmente, porque eu saí com a roupa que tenho vestida”, afirmou Helena Santana, referindo que a entrada nos edifícios teve de ser apressada por estar a “chover torrencialmente”.
Ainda assim, disse, não conseguiu retirar toda a roupa dos quatro elementos da família.
Como entretanto começou a chover muito, eles [elementos da Proteção Civil], por precaução, mandaram-nos sair imediatamente e iam fazer uma reavaliação para ver qual é a situação”, explicou.
Questionada sobre o estado da habitação, Helena Santana referiu que “está inteira, por enquanto”.
Sobre o desabamento de terras por trás dos prédios, a moradora disse que “parece estável”, após ter entrado no edifício esta manhã.
O prédio onde Helena Santana vive tem cerca de 60 anos, tal como os edifícios vizinhos. Já o muro tem “cerca de 70 a 80 anos”, indicou.
Há vários anos que os moradores alertavam para o risco da queda deste muro.
Há 15 anos que estou cá [a viver] e sempre ouvi falar que já havia e-mails e troca de correspondência entre a Câmara e o condomínio Vila da Graça” sobre a situação do muro, referiu.
Sobre as obras que estão a decorrer nos edifícios afetados, os moradores dizem não ter “nada a ver”, inclusive ao nível dos custos.
Nós aqui somos os lesados, o muro não é nosso, o muro pertence ao condomínio Vila da Graça”, declarou a moradora.
Em declarações à Lusa, Rui Rodrigues, representante do prédio número 108, disse que “há 15 anos” que os moradores andavam a avisar para este risco - tanto a Câmara como o condomínio Vila da Graça -, pelo que o abate do muro era uma situação que poderia ter sido evitada.
Os avisos foram imensos e temos a documentação em nosso poder, com as missivas que foram enviadas tanto à Câmara como ao condomínio Vila da Graça, alertando para esta situação”, ressalvou.
O sentimento dos moradores é de “alguma revolta” perante a situação, pelo que estão a avaliar a possibilidade de avançar com um processo judicial contra a Câmara e contra o condomínio Vila da Graça.
Parte do muro (propriedade privada) do condomínio Vila da Graça, no bairro Estrela d'Oiro, ruiu pelas 05:40 de segunda-feira, provocando um deslizamento de terras para as traseiras de cinco edifícios da rua Damasceno Monteiro (dos números 102 ao 110).
O deslizamento, cujas causas ainda não são conhecidas, provocou danos nestes cinco edifícios de habitação e em algumas viaturas.
Entretanto, a autarquia disse que iria tomar posse administrativa do terreno - incluindo o muro e a zona envolvente -, para que se possa dar início às obras de requalificação, de forma a resolver o problema e evitar novos desabamentos.