Contos inéditos de Fernando Pessoa chegam esta semana às livrarias - TVI

Contos inéditos de Fernando Pessoa chegam esta semana às livrarias

Exposição de Fernando Pessoa no Brasil

«Estrada do esquecimento e outros contos» reúne cerca de duas dezenas de contos, sob a chancela da Assírio & Alvim

Fernando Pessoa morreu há 80 anos, mas está de volta com novos contos. Cerca de duas dezenas de contos inéditos do clássico português são publicados na próxima quinta-feira, pela editora Assírio & Alvim.

«Reúne-se nesta edição um conjunto de narrativas de Fernando Pessoa, das quais 20 se encontravam ainda inéditas», afirma a editora em comunicado enviado à Lusa.

 «Estrada do esquecimento e outros contos» dá título ao livro que surge na continuidade da obra «O mendigo e outros contos», publicada em 2012.

À semelhança desta coletânea, a nova tem uma introdução de Ana Maria Freitas, investigadora do Instituto de Estudos sobre o Modernismo, da Universidade Nova de Lisboa, que tem estudado o espólio do escritor.

A obra dá a conhecer 18 contos inéditos, entre eles «A Estrada do esquecimento», «O caso do sargento falso», «A trincheira», «Uma tarde clerical», «A caçada» e «Um conto». Também inclui «O prior de Buarcos», «O que fazia o bem», «O José Mole», «Gastrónomo» e «A perda do hiate Nada».

Fazem ainda parte da seleção dois contos parcialmente inéditos: «O crime do Dr. Cerdeira» e «O vencedor do tempo».

Na nota introdutória, Ana Maria Freitas adverte que «esta, como outras edições da obra de Pessoa, partiu de textos que não tinham ainda atingido um estado final».

«Embora a intenção de publicar nunca estivesse longe do pensamento de Pessoa, pouco da sua obra de ficção foi publicado em vida. Este facto implica que qualquer edição da sua obra tenha de percorrer o caminho que o autor fez ao criar os seus textos e tentar adivinhar as suas intenções para garantir a fidelidade ao seu projeto»


Ana Maria Freitas afirma igualmente que «a organização da prosa ficcional confronta o editor com as dificuldades próprias da obra de Pessoa — a fragmentaridade e a incompletude de uma obra sempre em progressão — a que se vêm juntar a dispersão e a não correspondência entre títulos e textos. A escrita é feita em continuidade, os textos são retomados ao longo do tempo e deixados, muitas vezes, em aberto, como se ao autor repugnasse o ato de encerrar, de fechar as hipóteses a explorar numa narrativa».

A Assírio & Alvim, no mesmo comunicado, realça o «rigoroso trabalho de edição levado a cabo por Ana Maria Freitas» e atesta que «este livro vem aprofundar, decisivamente, o conhecimento que temos sobre uma área importante da criação pessoana, trazendo a público 20 contos de Fernando Pessoa até agora inéditos».

Esclarece, por seu turno, a investigadora que «a coerência conceptual, que é marcante na obra de Pessoa, também se encontra nos contos, onde são evidentes as conexões com a obra poética e ensaística. Nesta, como noutras áreas da sua obra, o autor organiza repetida e exaustivamente os seus projetos literários em listas e esquemas que, juntamente com registos e anotações, possibilitam uma reconstituição do seu projeto literário».

No caso dos contos, porém, «a planificação projetada não apresenta uma estabilidade organizativa tão perfeita como a que se encontra, por exemplo, nas novelas policiárias, também elas escritas ao longo do tempo».

«Os esquemas referem títulos de que não se encontra rasto, fragmento ou anotação correspondente. Terão existido somente na imaginação do seu autor, com hipótese de enredo a desenvolver? É o caso dos títulos 'Recordações de Carlos Amaral', 'Despedida do caixa', 'Manuscrito de um alienista doido», 'N dimensões' e 'Razões que tinha o engenheiro Dantas para ser materialista', por exemplo, que não têm um corpo de texto identificável», nem se encontram editados neste novo título.

Outros contos, escreve a investigadora, têm «presença destacada em vários esquemas redigidos em momentos diferentes da vida do autor, [e] revelam uma incompletude que indiciaria um trabalho de escrita incipiente», e cita «O elogio histórico de D. Miguel Roupinho» que, «apesar da incompletude que lhe retira sentido, ocupa um lugar importante no conjunto ficcional planeado».

A editora salienta que a obra do autor de «Mensagem» se tem «revelado mais vasta do que inicialmente se imaginou».

A obra é apresentada no dia 09 de abril, pelas 19:00, na Casa Fernando Pessoa, em Lisboa.

Na semana seguinte, outra novidade: a publicação de uma antologia de textos teóricos e críticos de Fernando Pessoa, «Sobre Orpheu e o Sensacionismo», numa edição de Fernando Cabral Martins e Richard Zenith, pela mesma editora Assírio & Alvim.

 
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