Austrália: «Peguei no carro e no computador e fugi» - TVI

Austrália: «Peguei no carro e no computador e fugi»

Incêndios na Austrália

Português conta ao PDiário como escapou à morte e critica embaixada

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«Quando vi o fogo no alto da montanha, peguei no computador e no carro e fugi», conta ao IOLPortugalDiário, Luís Geraldes, um pintor português, residente no estado australiano de Vitória, há mais de 20 anos.

Ao contrário dos vizinhos, não ficou para trás a tentar salvar a casa, na zona de Jumbuk, por isso não morreu «carbonizado dentro do carro» ou «cozido na piscina como lagostas» como muitos vizinhos.

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Ainda não sabe se perdeu a casa e o estúdio onde guarda «mais de cem telas», mas Luís Geraldes está vivo, assim como as cerca de «5 a 10 mil pessoas» que, como ele, estão a ser recebidas nos vários centros de acolhimento criados em terrenos e campos de futebol.

Austrália: nenhum português em perigo

«O apoio das autoridades australianas tem sido total. Temos acompanhamento psicológico, dinheiro, comida e roupas», acrescenta, ao mesmo tempo que critica a indiferença das autoridades consulares portuguesas.

«Até agora recebi o telefonema do cônsul português na cidade de Melbourne a ralhar-me por ter dito (à comunicação social) que a embaixada não deu qualquer apoio». O cônsul Carlos Lemos defendeu, em declarações à Lusa, que devem ser os portugueses a contactar a embaixada quando necessitam de ajuda, até porque não consegue localizar toda a gente, mas o pintor insiste que as autoridades lusas nem sequer procuraram saber se havia portugueses na zona.

«Isto é um Inferno. Não dá para imaginar», repete o pintor a cada passo, quando se lembra do «pesadelo» que começou a viver desde sábado, altura em que um incêndio deflagrou junto à Universidade de Monach (Sudeste de Melbourne), numa zona rodeada por montanhas.

«Com ventos de 90 quilómetros/hora e temperaturas de 47 a 49 graus» o fogo propagou-se a uma velocidade de «100 metros a cada três segundos».

«O céu ficou preto» enquanto o vento «levava as fagulhas para quilómetros de distância, provocando novos incêndios», refere o pintor, que não esquece a imagem de «árvores a arder e a explodir».

«À medida que o fogo avançava, as árvores caíam e impediam as pessoas de fugirem»,

descreve.

«As garagens com carros explodiam. Os animais, cangurus e wombats [marsupial australiano] fugiam da floresta e vinham ter com as pessoas como se fossem crianças», referiu à Lusa, acrescentando: «Ninguém acredita. O fogo foi tão intenso que até estruturas de metal derreteram. Isto parece uma zona de guerra. Os comboios deixaram de trabalhar, as linhas dobraram com o calor e vão ter que ser todas mudadas».

Só agora é que o Exército começa a entrar na floresta com tanques, onde estão a encontrar «muitas pessoas mortas dentro e fora dos carros», refere Luís Geraldes.

«Há várias suspeitos detidos, entre eles um bombeiro», na sequência do «atentado» de sábado, altura em que alguém colocou «uma vela dentro de uma tigela, rodeada de gasolina» junto à universidade, provocando «explosões e vários incêndios».

O pintor, residente numa zona habitada por intelectuais e «gente gira», admite ter perdido tudo. A confirmar-se o pior cenário, só há uma coisa a fazer: «Recomeçar!»

Entretanto, o Presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, enviou esta segunda-feira uma mensagem à Governadora-Geral da Austrália, manifestando a sua consternação pelas consequências devastadoras dos incêndios no sul do país, refere a Lusa.

Na mensagem, o chefe de Estado expressa em seu nome e do povo português «as mais sinceras condolências» pelas vítimas dos incêndios no sul da Austrália.
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