Rosa Grilo é a principal suspeita da morte do marido, o triatleta Luís Grilo que esteve desaparecido mais de um mês e cujo corpo foi encontrado com sinais de violência e em adiantado estado de decomposição a mais de 130 quilómetros da sua casa.
No interrogatório depois de ser detida, a mulher de Luís Grilo tenta explicar como é que os supostos criminosos entraram na casa, como a fizeram viajar até Benavila e o porquê de não ter pedido ajuda quando teve sempre consigo o telemóvel.
Para além de ter tido oportunidade de responder a chamadas, Rosa Grilo levantou dinheiro e esteve no Pingo Doce - local onde está sempre um agente da PSP - no dia da morte do marido, mas não tentou pedir ajuda. Situações que as autoridades questionam e cujas justificações não convencem, dadas as contradições.
Leia as justificações de Rosa Grilo
Procuradora - Senhora Rosa, regressando à descrição que a senhora fez dos senhores que compareceram lá na sua casa. A senhora diz que apareceram à porta, abriu a porta, eles forçaram a porta aberta, taparam-lhe a boca e, portanto, a senhora depois começou esta situação. A senhora conta que há dois disparos, mas fala na existência de uma outra arma, quem é que tinha essa arma?
Rosa Grilo - Todos tinham arma.
Todos tinham uma arma. E então apontavam as armas todas a vós? Chegaram a apontar-vos as armas?
Quando ameaçavam, apontavam a arma, mas por norma tinham a arma acho que era aqui atrás, não tenho a certeza, mas eles guardavam as armas algures.
Diz que se deslocou com eles a Benavila, que estiveram a dar a volta a casa, eles na altura também a agrediram e depois regressaram outra vez às Cachoeiras.
Exato.
A senhora diz que partiram para lá, mais ou menos por volta das 8 da manhã?
Sim, por aí.
E depois estiveram lá quanto tempo?
Eu penso que terá sido.. nós chegámos.. umas duas horas.
Chega a Benavila a que horas?
Por volta das 10:00 penso.
Vai pela estrada nacional, não foram pela autoestrada?
Não, pela nacional.
Estão lá duas horas e depois regressam. Este carro em que a senhora vai é de que cor?
É preto.
Tanto para lá como para cá vai sempre no banco de trás?
Sim.
E vai com a mala ao pé de si?
Sim.
E o telemóvel consigo como a senhora diz?
Sim, mas eu não mexi, a mala ficou no carro.
A senhora tirou as chaves da mala ainda dentro do carro e a mala ficou lá?
Exatamente. Eu ainda usei o telemóvel. Penso que foi na minha casa porque quando as pessoas ligavam, eles mandavam-nos responder.
P: A senhora está de pijama? A senhora diz que vai de pijama para Benavila. A senhora diz que estacionaram o carro um pouco antes da casa para ninguém dar por vós. (...) nós temos uma situação, como sabe, há várias diligências da investigação que foram realizadas e depois temos aqui que no dia 16 há uma sinalização do seu telemóvel na área de Alverca e há até uma operação multibanco no Pingo Doce de Alverca que se situa temporalmente por volta das 13h e tal da tarde.
Isso no domingo?
Não, no dia 16. No dia em que isto se passou, na segunda-feira. Uma operação no Pingo Doce de Alverca e depois há uma deslocação no seu telemóvel para a área de Alverca e um regresso outra vez às Cachoeiras. A senhora tem alguma explicação para essa situação?
Na segunda-feira sim. Quando viemos lá da terra.
Então mas os senhores vieram de Benavila e depois passaram por Alverca. Fica no percurso?
Não, mas tenho o escritório.
Então ainda passou com os senhores pelo vosso escritório em Alverca?
Juíza: Porque é que não disse há pouco?
Peço desculpa não…
Então porque levantou dinheiro?
Não fui levantar dinheiro, quer dizer, fui, mas acabei por levantar dinheiro…
A senhora estava de pijama! A senhora estava de pijama! Certo?
Sim sim
Foi ao Pingo Doce de pijama?
Fui. Eram umas calças tipo fato de treino e uma camisola.
Procuradora: A senhora vai aos escritórios porque as pessoas com quem está obrigam-na a ir lá. E obrigam porquê?
Eles quiseram lá ir.
Então mas eles entraram no escritório?
Não, porque eu tinha lá gente.
Então o carro chega à porta do escritório e a senhora sabe que tem lá gente? Consegue ver para o interior do escritório? Já era expetável estar lá gente porque era uma segunda-feira.
Sim sim. (...) mas nós parámos no Pingo Doce.
Onde a senhora foi levantar dinheiro porque lhe apeteceu levantar dinheiro?
Não, porque depois vimos pessoas conhecidas e nós tínhamos parado no Pingo Doce. Eu encontrei umas pessoas conhecidas.
Mas diga-me uma coisa, os seus escritórios ficam ao pé do Pingo Doce?
Não. O Pingo Doce em que parámos é sobre a linha, é no caminho para o escritório. Eles pararam aí o carro.
E depois fazem o regresso e é quando fazem o regresso que faz a operação multibanco?
Não. Foi à ida para lá porque eles pararam no Pingo Doce e lá houve umas pessoas conhecidas que me viram.
E quem são essas pessoas que a viram?
Foi uma senhora.. que trabalha ali numa empresa.
Mas nessa altura quando a senhora se desloca ao multibanco está sozinha?
Porque foi assim, elas vieram cá fora e o que é que eu estava a fazer dentro de um carro... não sei se elas perceberam mas eu entretanto entrei, fui ao Pingo Doce e falei com… eu falei dentro do Pingo Doce, não sei se ela me viu no carro.
E viu-a no Pingo Doce, cumprimentou- a e fez o levantamento. Eles, entretanto, pararam no Pingo Doce e disseram para você ir levantar dinheiro?
Não, nós parámos no Pingo Doce porque eles estavam-me a perguntar quem é que estava no escritório e a que horas estavam lá para irmos lá e se estava lá alguma coisa e estava, a pressionar-me.
Então a senhora faz uma viagem de pelo menos uma hora e meia, porque é que precisam de parar para lhe fazer estas perguntas? A senhora responde o quê?
Eu disse que estava lá gente de certeza.
E a seguir?
Eles disseram então "vai ali e levanta dinheiro só para dizeres que foste fazer alguma coisa" e foi o que eu fiz.
[Interrogatório divulgado pelo Correio da Manhã]