Pais de Maddie recorrem contra Justiça portuguesa nas instâncias europeias - TVI

Pais de Maddie recorrem contra Justiça portuguesa nas instâncias europeias

  • 30 abr 2017, 00:26

Revogação da sentença contra ex-inspetor Gonçalo Amaral é a razão de queixa. Dizem-se aliviados com abertura da investigação da polícia britânica ao desaparecimento de Madeleine McCann, no Algarve, há dez anos

Os pais de Madeleine McCann vão recorrer para as instâncias europeias contra a decisão da justiça portuguesa de revogar a sentença que obrigava o ex-inspetor da Polícia Judiciária, Gonçalo Amaral, a pagar 500 mil euros ao casal.

Vamos recorrer. Ainda não entregámos o recurso, mas vamos para os tribunais europeus", afirmou o pai da criança, Gerry McCann, à BBC, na única entrevista que o casal concedeu a propósito do 10.º aniversário do desaparecimento de Madeleine McCann, e cuja reprodução foi autorizada para outros órgãos de comunicação social.

A 31 janeiro, o Supremo Tribunal de Justiça (STJ) confirmou a decisão da Relação em revogar o pagamento de uma indemnização de 500 mil euros por Gonçalo Amaral aos pais da criança desaparecida em 2007 no Algarve, por danos causados com a publicação do livro intitulado "Maddie: A Verdade da Mentira".

Gerry McCann lembrou que este processo foi iniciado há oito anos, quando o casal sentiu que o livro e subsequente documentário, que sugere o possível envolvimento dos pais numa morte acidental da filha, estava a prejudicar a campanha para encontrar Madeleine.

Eu penso que é tudo inconcebível, tem sido muito perturbador, e causou muita frustração e raiva, o que é um sentimento muito negativo, e penso que precisamos de canalizar isso. Ainda tenho esperança que no fim a justiça prevaleça, e tudo acabe bem", disse a mãe, Kate McCann.

O conflito com o antigo inspetor da PJ, que foi responsável inicialmente pela investigação ao desaparecimento, tem alimentado muitos comentários negativos na Internet, sobretudo nas redes sociais, o que faz com que o casal evite usar essas plataformas.

A principal preocupação, confessou, são os outros dois filhos, que atualmente têm 12 anos, pelo que têm tentado impedir que usem redes sociais como os jovens da idade deles.

Temos sido o mais abertos possível com eles. Contámos-lhes sobre as coisas e que pessoas escrevem coisas que são simplesmente mentira e que eles precisam de ter consciência disso. Ainda não chegaram a uma idade em que estão na Internet e outros sítios, mas estão a chegar a essa fase. Estão em grupos fechados com os seus amigos, etc, e isso é importante", comentou a progenitora.

O casal McCann louva o "apoio fantástico" recebido ao longo de dez anos, mesmo que sejam os comentários negativos que muitas vezes tenham destaque.

A nossa experiência principal foi a bondade das pessoas e o apoio que tivemos ao longo de dez anos, e isso não diminuiu neste tempo todo", garantiu Kate McCann.

Investigação inglesa

A abertura da investigação da polícia britânica ao desaparecimento de Madeleine McCann foi um grande alívio, depois da desilusão de ver as autoridades portuguesas arquivarem o processo, afirmou ainda o pai da criança.

Desde que a Polícia Metropolitana começou realmente a investigação sentimos que nos tirou uma enorme pressão, individualmente e como família", afirmou ainda Gerry McCann.

A "Operação Grange" foi aberta em 2011 para reavaliar todos os documentos e informações relacionadas com o caso, evoluindo no ano seguinte para um inquérito formal.

Entretanto, a Polícia Judiciária também reabriu o caso, tendo feito várias diligências em coordenação com os detetives britânicos.

Para o médico escocês, o encerramento da investigação inicial da Polícia Judiciária significou que "ninguém estava proativamente a fazer nada para tentar e encontrar Madeleine", resultando num sentimento de injustiça e frustração por não ver averiguadas todas as linhas de inquérito possíveis.

Gerry McCann reconheceu terem sido privilegiados com donativos que, terão superado os dois milhões de euros, o que permitiu financiar uma campanha para tentar encontrar a filha, incluindo a contratação de detetives privados, mas referiu que estes não têm os mesmos poderes que uma força policial.

A investigação britânica, continuou, permitiu que tenham sido averiguadas várias linhas de inquérito, muitas das quais foram fechadas sem que a resposta ao que aconteceu a Madeleine tenha sido alcançada.

Isso é quase tão importante como encontrar o responsável, saber que essas linhas foram encerradas", salientou.

Quanto às pistas "cruciais" que a Scotland Yard revelou esta semana estar a seguir, os pais mostram-se tranquilos com o facto de o inquérito continuar a progredir.

Eles conseguiram juntar tanta coisa e crivar tanta informação, por isso agora parece que existem apenas algumas linhas de inquérito em vez de dezenas ou centenas", acrescentou a mãe da criança, Kate McCann.

Dos 29 detetives que a "Operação Grange" inicialmente envolveu restam apenas quatro dedicados ao caso, mas desde 2011 já foram gastos cerca de 12 milhões de libras (14 milhões de euros).

Gerry McCann considera que as críticas aos meios investidos nesta investigação são "muito injustas" mesmo tendo em conta que é apenas uma criança entre muitas desaparecidas, mas argumentou que este é um caso muito raro e que atraiu muita atenção.

Há milhões de turistas britânicos que vão para o Algarve todos os anos e, essencialmente, temos uma pessoa britânica que foi alvo de um crime e há outros crimes que foram descobertos após o rapto da Madeleine que envolvem turistas britânicos. Por isso, penso que serem julgados é um fim razoável", vincou.

Madeleine McCann desapareceu poucos dias antes de fazer quatro anos, a 03 de maio de 2007, do quarto onde dormia juntamente com os dois irmãos gémeos, mais novos, num apartamento de um aldeamento turístico, na Praia da Luz, no Algarve.

 

 

Continue a ler esta notícia

Mais Vistos