Quem tramou Robert Murat? - TVI

Quem tramou Robert Murat?

Robert Murat junto à PJ de Portimão (Foto Lusa/Luís Forra)

Chamada anónima de uma portuguesa alerta autoridades para o «raptor» Murat, uma semana antes do inglês estar nas bocas do mundo

A denúncia de uma jornalista, uma chamada anónima e Jane Taner, a amiga do casal McCann, que viu um homem carregar uma criança na noite em que Maddie desapareceu, fizeram nascer o primeiro arguido na investigação. A postura, demasiado prestável de Murat, terá sido um dos indícios que o tornou suspeito. Mas o que terá levado à sua incriminação anónima, dias antes de estar nas bocas do mundo?

A Polícia Judiciária foi a primeira a desconfiar de Murat. No dia 7 de Maio, já tinha na sua posse diversas informações sobre a sua vida pessoal e profissional: o que fazia, as suas contas bancárias, onde e com quem habitava, entre outros pormenores.

Dia 8, uma semana antes de as suspeitas serem tornadas públicas e Murat ser constituído arguido, mais uma acha inflama fogueira. Uma voz feminina faz uma chamada anónima, em português, para a PJ e afirma que o raptor está mais perto do que a polícia pensa. O inspector perguntou a quem se estava a referir e a voz feminina explicou: trata-se de um indivíduo residente na praia da Luz, de mãe britânica, fluente em inglês e português, que rondava a zona para ajudar as autoridades.

A autora da chamada anónima acrescentou ainda que o raptor se chamava Robert, que consultava chats de cariz sexual e conseguia encriptar os seus emails.

Jornalista britânica desconfiada...

As suspeitas sobre Murat são também levantadas por uma jornalista britânica. Três dias após o desaparecimento de Maddie, a 6 de Maio, a repórter contacta a polícia inglesa, para dar conta das suas desconfianças sobre um homem, que morava na zona e se mostrava demasiado prestável.

Britânico de nascença, vive com a mãe em Portugal há muito tempo. A fluência do seu português e inglês tornou-o, desde cedo, útil às autoridades portuguesas, confrontadas com um caso envolvendo turistas britânicos. Além do mais, tinha uma filha da idade de Maddie, de quem estava separado, já que a menor morava em Inglaterra com a mãe.

A jornalista recordou-se de um caso, passado em Inglaterra, onde o criminoso teve uma atitude parecida e chegou a ajudar nas buscas da sua própria vítima.

Tradutor ao serviço

Mesmo depois de assumir desconfianças, a Judiciária, continuou a utilizar os serviços de tradução de Murat em várias inquirições, a funcionários ingleses do resort Ocean Club, até 9 de Maio. «Para que o suspeito não se apercebesse de nada», justificaram à época.

Só mais tarde Jane Taner, amiga de Kate e Gerry, é confrontada com a possibilidade de Murat ser o indivíduo que viu com uma criança ao colo. Apesar de a descrição física que Jane fez e a aparência de Murat não ser igual, a turista inglesa não teve dúvidas em afirmar que, quase de certeza, ele era o homem que tinha visto.

Recorde-se que já depois de ser constituído arguido, outros membros do grupo em férias com os McCann, afiançaram ter visto Robert Murat a participar nas buscas, na madrugada do desaparecimento. Um facto sempre negado pelo próprio, que dizia ter estado em casa com mãe. Apenas soube do alegado rapto no dia 4, sexta-feira. A própria GNR confirmou à PJ que só se lembra de ver o inglês na manhã seguinte.

Mas os profilers ingleses também garantiam haver 90% de hipóteses de Murat ser o raptor. E como se não bastasse, um alegado amigo de infância, garantia que este revelara, em adolescente, apetência para fazer sexo com animais.

Um conjunto de circunstâncias, um comportamento afável, um avistamento suspeito, uma chamada anónima e testemunhos convenientes fizeram de Murat o primeiro arguido da justiça portuguesa a ser recompensado financeiramente, por jornais britânicos, por ter sido suspeito de um crime que ninguém conseguiu provar que existiu.

Sem provas de que tenha sido cometido qualquer crime, o MP determinou o arquivamento do processo Maddie, no passado dia 21 de Julho. Kate e Gerry, juntamente com Robert Murat, viram levantado o estatuto de arguido
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